Apesar de convivermos há tanto tempo, hoje descubro que sei muito pouco de você. Te culpo pelas conseqüências que hoje carrego de decisões que você não tomou; te culpo também por algumas decisões que tomou. Te culpo pelos milhares de cursos que você começou e não concluiu. Por não falar outro idioma. Ser limitada intelectualmente e ter péssima memória para nomes e datas. Te culpo por essa insegurança que te faz refém de eternos sins, para todo mundo, o tempo todo. Te odeio por você nunca ter tido coragem de pegar um avião sozinha e passar um dia no Rio de Janeiro. Te culpo pelas dores de dente que tenho hoje, o motivo? É óbvio que você sabe qual é. Te culpo pelo seu senso de humor descalibrado e descabido e pela sensação ridícula que você tem de que isso a torna popular. Odeio sua mania irresponsável de abrir sua vida a todos indiscriminadamente. Odeio o talento que você adquiriu de conviver com pendências. Queria que você pudesse pensar, falar e fazer uma coisa de cada vez, quem sabe as coisas não sairiam mais bem feitas desta forma. Odeio sua incapacidade de comer apenas um Bis, um Mentex, de tomar um café, uma cerveja. Odeio sua incompatibilidade com a moderação. Odeio os quilos que você ganhou e hoje sou obrigada a carregar. Odeio a forma que você provoca e foge de fortes emoções. Odeio sua postura simpática e polida. Odeio o fato das pessoas não perceberem o quanto você pode ser calculista. Odeio sua mania de organizar a vida em caixas. Odeio sua incapacidade de esperar. Odeio a forma como você trata sua família. Te odeio pelo tempo da minha vida que você perdeu cuidando de negócios. Odeio sua incapacidade de alimentar planos a longo prazo. Te odeio por ter-se deixado apaixonar perdidamente e ter permitido que isso virasse sua vida de cabeça para baixo. Odeio ter consciência de que, apesar de conviver com você a cem mil anos, sou incapaz de prever seu próximo passo.
postado originalmente em novembro de 2008
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