segunda-feira, 6 de julho de 2015

passado passado a limpo

tento, não sei se sempre consigo, não maquiar meu passado
foi o que foi
perigosa narrativa em primeira pessoa
a avó era brava e distante
a casa esquisita
a janela pequena
os amigos, pobres
alguns piolhentos
os primos, cruéis
o tio, nada a declarar

conheço gente que passa o passado a limpo
o quintal com cheiro de galinheiro vira Versalhes
o tio bandidão vira mocinho intelectual
o irmão cruel, como a maioria dos irmãos, vira mentor
que preguiça
não tente me enganar
eu sei o que você fez no verão passado

desconfio de narradores com passados brilhantes
famílias perfeitas
casas com papel de parede florido
desconfio de amores perfeitos
de cães com franja
de almofadas de croché