quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

O Estrangeiro - A peça

O Estrangeiro
Albert Camus
Sesc - Santo Amaro

Mais um momento especial que a vida nos dá de presente. Hoje, nos centavos contados, cabe um teatro popular, cabe um vinho com uma salada, cabe um papo de quem divide a vida...a vida toda.
Não há novidades que a gente possa contar um para o outro. Sabemos tudo e temos o poder até de ler nossos silêncios.
A vida nos pregou peças mas nos proporcionou tantas surpresas que, no frigir dos ovos, acho que ainda estamos no lucro.
De uma leitura conjunta, um monólogo dramaticamente iluminado...
... e assim segue nossa história ...

sábado, 24 de dezembro de 2011

Trocas

das trocas que a vida ensina:
o choro pelo leite
a poltrona solitária pelo sofá
o big mac pela salada
spielberg por wood alen
o dia pela noite
a cerveja pelo vinho tinto
o muito pelo melhor
a net pelo livro
qualquer coisa por um bom papo
a vivo pela nextel
de morena para loira
algumas verdades por um monte de mentiras
muito trabalho por pouco dinheiro
muito dinheiro por inutilidades
o certo pelo talvez
todas as certezas por dúvidas
o pink pelo preto
o ter pelo ser
o ser pelo estar
os planos pelo prazer
a força pela coragem
os sonhos por algumas realizações concretas
e várias frustrações
a espera pela saudade
alguma saudade por esquecimento
a praia pelo campo
a raiva pelo silêncio
a vontade pelo bom senso
crítica por tolerância
muitos amigos por bons
anabelas por scapins
futilidades por utilidades
maus humor por recolhimento
gritos por sussurros
ordens por conselhos
desistências por conquistas
debates por entendimento
separações por conciliações
muito tempo por pouco tempo
tecido sintético por algodão
descartas por reciclar

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

O meio da brochura

Tenho uma expectativa (otimista) de viver até os 80. Estou, portanto, chegando ao meio da brochura. Não sei se relacionado a esta constatação ou não, mas fato, tenho tido dias de tênue depressão (ela me cercando e eu dormindo para escapar dela).
Folheando as que seriam então as 40 primeiras páginas não consido encontrar muitas que mereçam um post-it de marcação. Tive poucos momentos dignos de um post. E isso fica mais do que óbvio pela regularidade de postagens neste meu tão abandonado blog. A vida "das pessoas" sempre me parece tão mais interessante que a minha...
Levando em consideração o fato de que, as folhas entre os 20 e os 30 deveriam ter sido as mais agitadas, entro em pânico. Pois, a tendência é que as próximas sejam ainda mais irrelevantes.
Fiz poucas viagens, li poucos livros, não escrevi nenhum, só tive uma filha, nunca plantei uma árvore. Eta vidinha besta.
Tenho cerca de 100 "amigos" no meu facebook, com mais de 50 deles troquei menos de 50 palavras durante minha vida toda. Perdi amigos fantásticos pelo caminhar da vida. Deixei de ganhar vários também por falta de dedicação.
As fotos afixadas no mural do corredor me prendem a cada passada. As memórias dos momentos registrados vão sumindo aos poucos, e eu já não lembro de ter estado naquelas fotos. Os momentos já deixaram de existir pois deixaram de existir como lembrança pra mim. Se pudesse ser visual, minha imagem deveria ir sumindo das fotos conforme minha lembrança do momento fosse sumindo da minha memória. Muito triste essa constatação. A sensação de deixar de existir. Estive uma vez em Paris. Me sobraram tão poucas lembranças de lá. Alguns dias ensolarados. Caminhar sob os arcos da Rue de Rivoli apreciando a vista da fachada do Louvre à minha esquerda. Os jardins de Versalles, os anjos. Um diário de viagem de capa verde perdido em alguma caixa.
Uma sensação de vazio tem me assombrado. Sensação de estar perdendo minhas memórias. Sensação de uma vida de rotina besta que não está me dando chances de colecionar novas memórias.
Vejo as fotos de minha bebê Maria, que não existe mais e sofro também. Eu não tenho mais uma bebê. Ela não existe mais. Não senta mais no meu colo, não precisa mais de mim para se alimentar, nem para ter suas próprias opiniões, nem para pegar o elevador e ir até a casa da amiga. Aos poucos vai me deixando, como minhas memórias de Paris.
Meus pais também vão sumindo. Aos poucos vão deixando de ser pais para se tornarem, cada vez mais, filhos. Filhos a serem cuidados.
Meu reflexo no espelho do balcão da padaria hoje, denunciou dois grandes vincos no meu rosto além de olhos cansados. Uma imagem não exatamente animadora para um café da manhã.
Sigo meus dias de aflição tentando segurar entre os dedos lembranças que já não tenho mais. Não posso negar que estou triste e desanimada.

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Naquela época

cinema não era numerado
telefone não tinha teclado
noiva era virgem
são paulo tinha horizonte
açucar não era no saquinho
máquina era com filme
café no coador
chiclete de hortelã
a rua não tinha asfalto
o bairro não tinha prédio
feijão era a granel

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Endoscopia na Alma!

Hoje fiz uma endoscopia. Aparentemente, sobrou sentimento e ele teria se alojado em úlceras nas paredes do meu estômago. Quase nunca dói. Mas quando dói, é de doer. Apesar de não doer muito, me causa sensação de "fartura". Talvez como sentimento, que quando é demais, excede. Esporadicamente também tenho refluxos. Refluxos de sentimentos. Os que não me caem bem, voltam. E, esses que voltam, voltam azedos.
Tirei o dia para pensar em sentimentos. Sentimentos de uma forma geral. Os bons, os ruins, os que nos afetam e os que causamos.
De repente, me caiu na testa a responsabilidade pelos sentimentos que provoco. Parei por um minuto e do alto da minha inteligência percebi que causo sentimentos às pessoas. E causando-os, afeto suas vidas de forma definitiva.

O que eu não sabia antes...

antes eu não sabia que se podia controlar o tempo de cozimento dos legumes através do tamanho do cubo. antes eu tinha cáries nos meus próprios dentes, mas os dentes eram meus. antes eu tinha a ilusão de ter algumas certezas. antes eu andava na linha, seguia a cartilha, não ousava contestar nem levantar a voz. eu tinha mais cachos nos cabelos, menos celulite e mais disposiçao para jogos. antes eu não sabia que o aço da faca tirava o cheiro do alho da mão. antes eu não tinha Maria. antes eu era sozinha. antes eu não acreditava que as coisas sempre têm solução e que, nem sempre, a solução chega no momento que a gente deseja. eu era míope e não sabia quem era Baudelaire ou Bukowski. eu era apaixonada pelo Fabio Jr. antes eu não tinha cicatriz e tinha vesícula. eu não bebia e não comia brócolis e tinha medo da morte. eu tinha medo de bicho de pena e ainda tenho. antes eu achava que meu pai era um herói e que tinha todas as respostas que eu pudesse precisar. eu acreditava que o amor durava pra sempre e que as pessoas não precisam chorar nunca. eu não tinha lido Flaubert. antes eu não sabia dirigir, andava a pé e tomava mais sorvete. antes eu gostava de banho de chuva e de café com leite.  eu tocava violão, só 4 músicas, mas eu tocava. antes eu achava que seria diferente, que seria mais fácil, mas não foi. antes eu achei que você fosse o amor da minha vida e você realmente é ainda o amor da minha vida. antes eu achava que saudade passava. eu achava que podia substituir as pessoas, mas estava enganada. antes eu doava meus livros, hoje sou apegada a eles pois eles contém um pouco de mim. antes eu dava importância a o que não era importante, hoje é tudo diferente. eu dizia mais "nãos" do que "sins". antes eu usava mais vestidos e menos superlativos. eu tinha mais sonhos, menos lembranças. antes eu não tinha TPM.

sábado, 17 de dezembro de 2011

O Estrangeiro - Albert Camus


sobre Salamano e seu velho cachorro...

"Há oito anos que não mudam de itinerário. Eles podem ser vistos ao longo da rue de Lyon, o cão puxando pelo homem até o velho Salamano tropeçar. Então, ele bate no cachorro e xinga. O cão rasteja de medo e se deixa arrastar. Nesse momento, é a vez de o velho puxar. Quando o cão se esquece, torna a arrastar o dono, e é outra vez surrado e xingado. Ficam, então, os dois na calçada, e se olham: o cão, com terror, o homem, com ódio. É assim todos os dias."
(Albert Camus - O estrangeiro)
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O terceiro livro lido no Nosso Clube de Leitura.
Niilismo, talvez. A discussão acalorou-se. Meursault era culpado? Inocente? Ou muito pelo contrário?
 Mas o que importa afinal?
O que a obra me diz é que, "nada importa", "tanto faz" a gente chega, parte e quase ninguem nota, quase ninguem sente a nossa falta.
Muito pouco do que a gente faz, faz alguma diferença no mundo.

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Caminhada!


Assim como Clarissa, que quis ela mesma comprar as flores, eu quis, eu mesma, entregar meus brindes de Natal. Andando a pé a gente vê coisas que não vê através do vidro fumê...barulhos internos.

Uma cadeira de rodas numa varanda gourmet. Será que ele (será ele?) se curou e guardou a cadeira na varanda como uma triste recordação? Será que era apenas uma deficiência provisória? Talvez um acidente de carro que lhe rompeu os tendões do joelho esquerdo. Será que ele morreu e a mãe inconformada guarda na cadeira a presença do filho?

Um moça morena de cabelos vermelhos e trançados passeando com um labrador chocolate. Os pêlos do cachorro tinham uma cor assustadoramente parecida com os cabelos da morena. O cachorro fez cocô. Uma montanha gigante de cocô e a morena de cabelos avermelhados recolheu o cocô. Fiquei pensando o que faria com ele. Talvez colocasse no almoço do patrão...pura vingança.

Caminhando lânguida numa calçada esburacada, uma loira alta. Altíssima e olhos pintados de preto. Muito pintados e muito preto. Tinha os cabelos muito loiros presos num coque mal feito no alto da cabeça. Usava shorts muito curtíssimos e uma xale de lã muito preta. Não consegui saber se ela estava com frio ou com calor.

Fui no 213, 8 andar e me mandaram ir no 195, 6 andar. Cadastro? RG. CPF na nota?

Vi duas meninas com os rostos colados numa janela. Pareciam irmãs, talvez gêmeas pela proximidade da idade. Ou talvez colegas do colégio bilingue. Elas me olharam, eu retribuí o olhar. Uma era uma princesa amarela a outra uma princesa azul. Estavam de batom.

Uma moça pequena, com cara de sono passeava com um gato no colo. Talvez ela fosse vocalista de uma banda de música paulista. Talvez tivesse um nome com várias vogais.  Talvez tenha ficado até as 4 horas da madrugada tocando na Augusta e por isso estava com sono. Ou talvez não fosse cara de sono, talvez ela tivesse chorado a noite inteira por causa do namorado que mora na Austrália. Talvez ele não volte.

Uma senhora que saía esbaforiga pela porta automática de um shopping com piso de granito. Carregava duas sacolas tamanho gigante. As sacolas tinham estampa de flores feitas de tecido e botões. Talvez fossem presentes para suas colegas de pilates. Ou talvez para as noras que ela odeia mas que precisa agradar para manter as aparências dos almoços de domingo.

Vi um time feminino da Dinamarca. Não sei do que era o time. Elas não tinham joelheiras portanto acredito que não era voley. Todas elas eram muito loiras, muito brancas e muito falantes. Vestiam roupas vermelhas e sorriam.

Estranhei uma moça linda sentada num ponto de taxi. Ela usava um coleta escrito TAXI e tinha uma tatuagem de borboleta no tornozelo esquerdo. Usava Melissas e eu lembrei da minha infância quando eu usava Melissas.

Numa padaria apertada peguei, direto na geladeira, uma Fanta Laranja. No caixa, uma senhora portuguesa com grandes brincos me disse que era R$ 4,90, depois se desculpou constrangida dizendo que havia se enganado que era apenas R$ 3,90. E que 4,90 era o preço do Gatorade. Fiquei feliz por ter escolhido a Fanta e não o Gatorade. Não gosto de Gatorade de Laranja. Só de limão. Mas dizem que faz mal para quem tem tendência a ter cálculo renal. Eu já tive cálculo renal. Dói.

Tem cadastro? RG por favor. Qual andar? Falar com quem?
CPF na nota?

Percebi que todo mundo andava olhando seus IPhones, IPads, Iqualquer coisa. Muitos carregavam envelopes. Alguns malas de rodinha. Alguns simplesmente andavam de cabeça baixa. Presos nos seus barulhos internos. Eu caminhava com meus sapatos baixos e muito calor.

Um grupo de freiras barulhentas atravessava a rua. Elas estavam de mãos dadas. Seriam fugitivas da Irmã Bernadete?

Muitos motoboys carregavam sacolas de brindes. Como eu.

Uma kombi entregava flores numa loja. A loja não era de flores. Era de óculos. Não vi para quem eram as flores. Talvez para a Ana. Flores enviadas pelo Marcelo em agradecimento ao espetacular jantar de ontem. Ou  talvez fossem para a Bia, enviadas pelo Guto. Um pedido de desculpas. Ou talvez para o Flávio, enviadas pelo Rogério, com uma linda declaração de amor. Definitivamente as flores tinham cheiro de romance. Estavam embaladas em papel violeta.

Aline, do 195, 6 andar nao quis me conhecer. Já me acostumei a este tipo de rejeição e a todos os outros também. As vezes sinto um frio na nuca, mas passa. Sempre passa.

Vi uma pomba agonizando no canteiro central. Virei o rosto. Ouvi dizer que pombas são monogâmicas. Fiquei compadecida pelo seu companheiro. Deve ser triste ser um pombo solitário. Envelhecer sozinho numa cidade como São Paulo.

Uma moça, muito baixa e vestida de macacão cinza perguntou se eu era de escorpião. Eu respondi que nao. Ela falou que o marido dela era, mas que era moço bom.

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

O Sonho de um Homem Ridículo - Dostoievski

"Os sonhos, ao que parece, move-os não a razão, mas o desejo, não a cabeça, mas o coração, e no entanto que coisas ardilosas produziu às vezes a minha razão em sonho!"

sábado, 10 de dezembro de 2011

Rugas!

quando nada está acontecendo
noemi jaffe
martins fontes

um livrinho (de conteúdo grandioso) que me ganhou no primeiro passar d'olhos...

rugas
"parece que o ruim de envelhecer são as rugas. elas são ruins mesmo. preferia não tê-las. mesmo assim, pensando à distância, elas têm  alguma coisa de interessante: são como anotações de um livro. uma pessoa sem rugas é ilegível. mas, além disso, envelhecer tem tantas vantagens: é como se não fosse mais tão necessário ir em busca das coisas, internas ou externas. chegamos num meio do caminho, em que as coisas e você  estão presentes, consumadas, razoavelmente compreendidas e agora só basta experimentá-las, até o ponto possível. não precisa ser até o fim, mas já se conhece o caminho e o começo.um certo caminho andado. é bom ver os filhos grandes, a mesa posta, os problemas menos graves e, às vezes, que a maior preocupação do dia seja: onde é que fui colocar os óculos?"

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Nosso Clube de Leitura!

Há nos procurava participar de um clube de leitura. Um grupo que pudesse botar fermento nos meus pensamentos. Fazer mexer a massa. Fazer a coisa crescer.

Nos últimos meses, devido a desvios que a vida nos apresenta e que a gente tem coragem de trilhar, acabei caindo em um - e o melhor.

Num grupo, a maioria meninas, a coisa brota, cresce e como dá flores. Amando.
Já foram 2...outros virão!



quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Literatura!

enveredando-me, ainda em passos inseguros, nos meandros da literatura, já consigo perceber que o que me traz água a boca e lágrimas aos olhos, são sempre os menores detalhes. os detalhes que moram na simplicidade. são as pitadas de tempero amarelo. a jaboticaba presa no tronco da árvore que faz sombra à mesa do café. a orelha dobrada da página que diz tudo. a xícara de ágatha. os cachos definidos desenhando o travesseiro. o pedido de conselho. a vela em castiçal colorido sobre a mesa do jantar. o croché da barra do pano de prato. o aroma de canela que dança na sala no final da tarde. a roda das novas amigas. o sol por trás das árvores na janela da sala. dançando com Flaubert, Machado, Virgínia e Clarice, percebo-me uma personagem longe dos grandes heróis e cada vez mais próxima das grandes simplicidades....do simplesmente indispensável...das alegrias simples, das simples afeições...do simples sentimento que muda tudo e que, ao mesmo tempo, torna tudo tão simples.

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Dançando com Lobos!

Sonhei com lobos. Eram 3 jaulas: uma com um lobo jovem; uma com um casal de lobos adultos; uma com um lobo velho.

Não lembro de nunca antes na minha vida ter sonhado com lobos. No meu sonho, eu tinha que protegê-los, ao mesmo tempo em que era protegida por eles. Eles eram pequenos e grandes. Eu era pequena e grande no meu sonho. Um deles era pequeno e indefeso. Dois eram grandes, um casal. O terceiro, um lobo velho, doente.

Consegui tirar o pequeno da sua jaula arrombando-a com uma chave de fenda de ponta redonda e enferrujada. O pequeno, ao sair da jaula, tornou-se grande. Apresentando-o a alguém, o vi crescer e ficar belo. Assim, como mágica. Foi crescendo, ficando bonito e "cheio de vida". Apesar do meu esforço desesperado, não conseguia encontrar quem pudesse me ajudar a abrir a jaula do casal adulto. Eles permaneciam lá. Deitados, cansados, com aparência doente. A chave que usei para abrir a jaula do menor não servia para abrir a jaula dos maiores. Eles me pediam socorro com olhar sofrido. Eu me desesperava no sonho, pois sabia que precisava da ajuda deles.

Apesar de, no sonho, ter consciência da existência do lobo velho, optei por me dedicar a salvar os mais jovens. No meu íntimo sofria pelos mais velhos, mas a minha razão pedia para defender os adultos, pois eram fortes e dois. Racionalmente eles me dariam mais proteção.

No sonho eu vestia a roupa que pretendia vestir hoje. Isso me deixava aflita. O tempo todo pensava que sujaria a roupa e como iria poder trabalhar toda suja?

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Eu sou urgente!

Eu sou urgente. Inesperada. A vida não permite que eu seja tudo o que eu quero ser. O dia me tolhe os vôos. Me desdobro em duas. Me multiplico em desejos frustrados. Duas fantasias, duas expectativas, duas esperas. Quinze para as duas ou duas e meia. Duas vírgulas sem ponto final. Na pressa, corro. No correr prendo a manda da blusa na maçaneta. Perco meus sonhos no congestionamento da vida real. Rasgo a blusa e mato o sonho. Sigo em frente. Segunda marcha. Quase lenta. Eu sou urgente, surpreendentemente previsível. Sou simples. Clara. Claro.

domingo, 30 de outubro de 2011

Falando muito, dizendo pouco!

Queria ter um milhão de palavras ou apenas uma que dizesse o que eu não quero dizer. de dentro do meu silêncio, me parece, que tenho falado muito e, efetivamente, dito muito pouco. Feito menos ainda. incômoda sensação. Perda de tempo e disperdício de palavras. Hoje, brinco melhor com as palavras. Bordo-as, combino-as. Faço com que dancem ao meu bel prazer. Nesta dança, muitas vezes perco-me. Um perder-se bom. Como estar girando sendo segura pelas mãos da mãe. Um tontear que desnorteia mas é seguro. Hoje sou mil palavras, como se estivessem toda a me sufocar. Não há sentido em falar porque não há o que dizer e, o que há, não deve ser dito. Deve-se silenciar. Fato incontestável é que todo texto tem um fim e que, a evidência desse fim, torna tudo sem sentido. Um trovador solitário sem o que comunicar, nem a quem, nem porque. Cantando segredos surdos. Sigo, feito poesia concreta de palavras salpicadas umas sobre as outras. E só.

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Clarissa....

"Não, agora nunca mais diria, de ninguém neste mundo, que eram isto ou aquilo. Sentia-se muito jovem; e, ao mesmo tempo, indizivelmente velha. Passava como um navalha através de tudo; e ao mesmo tempo ficava de fora, olhando. Tinha a perpétua sensação, enquanto olhava os carros, de estar fora, longe e sozinha no meio do mar; sempre sentira que era muito, muito perigoso viver, por um só dia que fo...sse. Não que se julgasse inteligente, ou muito fora do comum. Nem podia saber como tinha atravessado a vida com os poucos dedos de conhecimento que lhe dera Fraulein Daniels. Não sabia nada; nem línguas, nem história; raramente lia um livro agora, exceto memórias, na cama; mas como a absorvia tudo aquilo, os carros passando; e não diria de Peter, não diria de si mesma: sou isso, sou aquilo." (Mrs Dalloway - Virgínia Woolf)

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Descobrindo-me poeta!

Há alguns dias um amigo me disse que o que eu faço é POESIA. Desde então não caibo em mim, toda prosa e poesia. Montada em versos, vejo cenas do meu dia como estrofes que se exibem para minha exclusiva apreciação. Tudo virou poesia desde então. Chorei poesia ao ver Maria caminhando de All Star preto em sentido ao portão da escola. Espiei poesia através da janela azul bebê. Vi poesia no capacete amarelo do operário saindo do boeiro da avenida. Pingou poesia no guarda chuva de borboletas. A poesia estava pintada em pequenas bolinhas negras na bandeija de jaboticabas da feira livre. Enquadrei poesia no Sol nascente da janela da sala de jantar. Cheirei poesia no bolinho de chuva da cozinha amarela da minha mãe. Toquei na poesia dos cachos que o cabelo da Maria pintam na minha vida. Degustei poesia no café expresso com pauzinho de canela. Suspiro poesia o tempo todo. Com paz no coração cheguei a simples conclusão que ela, a poesia, sempre esteve aqui, só não sabia que ela se chamava assim. Obrigada ao amigo: @AndeMeireles

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Sem sentido!

Hoje acordar me pareceu sem sentido. O banho quente com o sabonete verde me pareceu sem sentido. Sem sentido a echarpe que escolhi, pois nem frio faz. Não vi sentido algum em tomar o café expresso serviço pelo novo atendendente da loja de conveniência. Não vi sentido ou conveniência nisso. O caminho, hoje, não fez sentido. Não fez sentido a rua que mudou de mão e que tornou o meu caminho tão mais longo e engarrafado. Hoje, as músicas que tocaram desde cedo no rádio do carro não fizeram sentido algum. O caminho até o Largo do Socorro não fez sentido. Sempre perco meu sentido quando vou ao Largo do Socorro, aquele lugar é, por si só, sem sentido. Tentei ser educada com a recepcionista da grande empresa multinacional, onde todos têm malas de rodinha, mas ela não viu muito sentido no meu sorriso comercial. Hoje os grandes picups fizeram ainda menos sentido pra mim. A reunião, com a loira com olhos pintados de verde e mala de rodinhas, não fez o menor sentido. Também não fizeram sentido as solicitações dela que, infelizmente, terei que atender, fazendo sentido ou não. Hoje o sol não está me fazendo muito sentido. Não faz sentido o que digo hoje. A ligação do amigo, que deveria fazer sentido, hoje não fez. Hoje estou sem sentido. Ser sem sentido pode ser bom. Pode ser bom não ter sentido em não sentir.

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

O que é Poesia?

O que é poesia afinal?
...para mim...
poesia é o vestido flor da menina de trança
a fila de formigas no algo do muro caiado
o pauzinho de canela no café
a janela com floreira de violeta
o cacho da Maria desenhando o travesseiro
a meia taça de vinho tinto
o gesto de afastar uma mecha de cabelo do meu rosto
o post it colado para me lembrar do amor
a flor bordada no travesseiro
a saudade que não tem solução
a entrelinha e a reticência
a metáfora que grita
a alameda arborizada no meio da cidade
o gosto de fazer um novo amigo
o Moleskine de capa vermelha
o almoço de domingo
o saco de mexerica
o azul do papel que envolve a maçã
o fim de tarde com brisa de mar
o olhar da despedida
o seu perfume no cinto de segurança
o abraço da chegada
a dedicatória no livro de Vinícius
a menina de guarda-chuva cor de rosa
a capa da joaninha
a mesa sob a jaboticabeira
o vaso com a flor solitária
a cera escorrendo da vela branca
o relógio antigo sobre a cristaleira
o sorriso secreto
a boneca de pano
a cicatriz da chegada dela
o desenho em guache sob o vidro
beijar fazendo amor
chorar quietinho
sentir falta sem saber do que
o doce de abóbora com cravo
o vapor da panela na janela
o sal que nasce atrás dos eucaliptos
.....
e um tantinho de coisas mais!

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Vida!

porque eu simplesmente adoro que a nossa vida seja temperada com mel e pimenta.
que você me olho com olhos de desejo todas as vezes que me vê nua.
que me abrace no meio do sexo e me diga que sou a mulher da sua vida e
que é para sempre.
agora, por que um texto desses e uma xícara de café com mini-suspirinhos?
sei lá
mas Freud deve saber!

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

A insustentável leveza...

'Parece que existe no cérebro uma zona específica, que poderíamos chamar memória poética e que registra o que nos encantou, o que nos comoveu, o que dá beleza à nossa vida. Desde que Tomas conhecera Tereza, nenhuma outra mulher tinha o direito de deixar marca, por efêmera que fosse, nessa zona do cérebro dele. Tereza ocupava como déspota sua memória poética e dela varrera todos os vestígios das outras mulhres. Não era justo porque, por exemploo, a jovem com quem fizera amor no tapete durante a tempestada não era menos digna de poesia do que Tereza. "Feche os olhos, segure meus quadris, aperte-me com força!" Não podia suportar que Tomas ficasse com os olhos abertos, atentos e perscrutadores durante o amor, e que seu corpo, ligeriamente supenso acima do dela, não se colasse à sua pele. Não queria que ele a estudasse. Queria levá-lo na onda de encantamento em que só se pode entrar com os olhos fechados. Recusava-se a ficar de quatro, pois nessa posição seus corpos mal se tocavam e ele poddia observa-la a uma distância de quase cinquenta centímetros. Destestava esse distanciamento. Queria se confundir com ele. Por isso lhe afirmava obstinadamente, olhando nos seus solhos, que não tinha gozado, ainda que o taperte ficasse molhado com seu orgasmo: "Não procuro o gozo, procuro a felicidade, e o gozo sem felicidade não e gozo. " Em outras palavras, ela batia na porta de sua memória poética. Mas a porta estava fechada. Não havia lugar para ela na memória poética de Tomas. Só havia lugar para ela no tapete. ' (A Insustentável Leveza do Ser - Milan Kundera)

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Grande e muito pequena!

Não se iluda, você não me alcança. Nem eu mesma sou capaz. Não sou capaz de ser, o que sou capaz de ser. Sou mais do que acredito. Menos do que consigo. Sou grande e pequena. Mãe e filha. Não se iluda. Você não vê o horizonte de mim. Vou além daquela montanha. Sou além desse poema bobo. Sou rascunho. Imperfeita, massante, frágil, falsa. Fraude de ser. Não se iluda. Eu te engano. Eu me engano. E sigo vivendo.

terça-feira, 6 de setembro de 2011

Sentimento libertador!

Neste momento pouso na página com metáforas pobres. Não serei compreendida, nem compreenderei. Estou em tempos de silêncios, de silenciosas paisagens internas. Algumas tempestadas de mim intercaladas de momentos de estranha calmaria. Sou tardes de verão. Entre tempestades e arcos-íris. Deito-me nas minhas dúvidas. Descubro a delícia de degustar lentamente a calda doce das minhas incertezas. Colher de chá que é pra fazer a degustação durar. Esqueço no fundo do armário minhas certezas amareladas de tempo. Espio de longe e de longe já não me parecem tão certas assim. Talvez ação do tempo que castiga tudo, talvez ângulo de visão. Ou talvez seja minha alma que, tardiamente, tenha resolvido vestir a armadura da insanidade. A coragem me cai bem afinal. Levanta minha sombrancelha. De óculos escuros e echarpes posso tudo. Conquisto o mundo. Lavo a louça acumulada na pia. Sou eu no espelho? Vejo lampejos de mim. Lampejos de uma verdade que fui um dia. Mas o reflexo já mudou. Não sou mais o que era ao meu olhar. O olhar o reflexo me fez outra. Ver o reflexo me transformou. Não sou mais aquela, tampouco agora sei quem sou.

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Da gente que eu conheço!

Conheço gente que tem seis nomes e gente que tem dois nomes iguais. Conheço gente que nasceu no dia do ano novo e gente que nasceu dias depois. Conheço gente que não gosta de banana e gente que tira semente de banana. Conheço gente que tem cabelo branco e gente que pinta de roxo. Conheço gente que assiste novela e gente que vive de personagens. Conheço gente que já conheceu o mundo e conheço gente que não fala bom dia no elevador. Conheço gente que não gosta de gente e conheço gente que sofre de solidão. Conheço gente que se matou e deixou bilheta na tela do computador e conheço gente que morreu de dor. Conheço gente que não pode ter filhos e conheço gente que já teve 8. Conheço gente que faz café gostoso e conheço gente que serve café frio. Conheço gente que lê todos os livros do mundo e conheço gente que não sabe ler. Conheço gente que dorme de meia e conheço gente que não consegue dormir. Conheço gente que mora na casa amarela pendurada no muro e conheço gente que mudou para Portugal. Conheço gente que ama demais e conheço gente que nunca andou de barco. Conheço gente que veio de longe e conheço gente que usa lenço na cabeça. Conheço gente que reza baixinho e conheço gente que atravessa a rua sem olhar para os lados. Conheço gente que faz check-up e conheço gente que nunca foi ao dentista. Conheço gente que coloca sal na cerveja e conheço gente que gosta de arroz queimado. Conheço gente que fala 5 línguas e gente que escreve com as duas mãos. Conheço gente que já foi presa e conheço gente que não conhece o pai. Conheço gente que faz regime o tempo todo e gente que não tem geladeira em casa. Conheço gente que nasceu na Sibéria e gente que anda de patins. Conheço gente que joga xadrez e gente que pinta as unhas de azul. Conheço gente que não sabe dirigir e conheço gente que nunca mudou de casa. Conheço gente que cuida de gente e gente que cuida de cães. Conheço gente que já não me conhece e conheço gente que um dia quis conhecer. Conheço gente que já ganhou no bingo e conheço gente que tem medo de bicho de pena. Conheço gente que enfeita vasos com flores e conheço gente que usa óculos. Conheço gente que tem medo do escuro e conheço gente que come os caroços da melancia. Conheço gente que guarda as moedas de um real e conheço gente que dá jiló para o passarinho. Conheço gente que coleciona colheres e conheço gente que joga pilhas no lixo comum. Conheço gente que acredita que a Lua é uma lâmpada e gente que não acredita em Deus. Conheço gente que é deprimida e gente que emagreceu cinquenta quilos. Conheço gente que sabe fazer bolo de duas cores e gente que não toma suco de caju. Conheço gente que não usa roupa amarela e gente que quebrou o dedo mindinho. Conheço gente que nasceu no mesmo dia do filho e conheço gente que não anda de sapatos dentro de casa. Conheço gente que torce para o Corinthians ganhar e conheço gente que pinta os olhos de negro. Conheço gente que tem alergia a lã e gente que tem gato. Conheço gente que adora ouvir Vinícius e gente que não tem um dedo da mão.

sábado, 2 de julho de 2011

Fé é falta de medo!

"Disse Chico Xavier, "Sem boas maneiras, você viverá desamparado da confiança dos outros. Sem fortaleza, sucumbirá aos primeiros obstáculos do caminho. Sem fé positiva, vagueará sem rumo." "Enquanto as boas maneiras no permitem viver em comum acordo com a sociedade, muitos que não as têm também convivem, porém não garantem a confiança, o crédito necessário para viver em paz. Mas até onde isso é válido?, me pergunto. Os meus bons atos, frutos da educação, devem fazer bem principalmente a mim mesma e a confiança do outro deve ser um benefício a mim, ou melhor,ao meu ego. Mas, entendo que quando estamos plenos com nosso eu inteior garantimos a convivência com o mundo lá fora e, ao mesmo tempo, com a turbulência que nos invade, garantindo ora uma força extrema que não se sabe da onde vem e ora a dificuldade em saltar um pequeno obstáculo. É a briga entre a fortaleza e a fragilidade. No entanto, há uma palavrinha monossilábica que pode fazer total diferença: fé. A fé é a nossa garantia de confiança. Certa vez ouvi que 'o significado de fé é a falta do medo', e por ter admitido esta resposta aborvi e sempre tenho esta frase comigo. Quando bate um certo medo, fruto da tal fragilidde, entra o questionamento a respeito de onde está a minha fé e corro a resgatá-la porque descobri que ela tem grande sentido na minha jornada. Sinto hoje que a fé é minha real fortaleza, minha certeza de que os obstáculos serão ultrapassados, as lições ensinadas e a caminhada suavizada.
Nunca me deparei com palavra tão pequena, tão repleta de sentidos e também tema de inúmeras discussões. Em um tempo curto, conversando com uma pessoa aqui e outra ali, tenho certeza que cada um denós terá uma definição fé e também acredito que muita gente acreditqa tê-la, porém um dia pode descobrir que nunca a teve, outros porém podem nunca ter pensado nela, mas num belo momento de lucidez a chama da fé reluz dentro de si. O mais importante é garantir que essa busca seja tranquila e simples, como tudo que é natural pede em silêncio para ser, até mesmo ao contrário do que a socieadade nos ensinou sobre a vida, que pede dinamismo e ousadia. Mas não dá para separar a fé verdadeira, aquela que nos preenche num determinado momento, da vida, que é nosso bem maior.
A busca pela fé deve ser constante e quando encontrada agarrada com força, pois ela sim pode ser nossa maior fortaleza. Sabe por quê? Porque dela vem a confiança e confiando vamos a qualquer lugar, tomamos a melhor atitude, enfim, relizamos sonhos. Através dela, volta-se mais ao Divino, ganha-se amor incondicional, priva-se de feitos negativos e, principalmente, garante-se pensamentos positivos, fruto da confiança. Este círculo magnífico é a verdadeira causa das grandes conquistas pessoasis, com a essência de cada um trazida à tona.
Para terminar, coloco aqui palavras de Fernando Pessoa:
'Mas se Deus é as flores e as árvores
E os montes e sol e o luar;
Então acredito Nele,
Então acredito Nele a toda hora,
E a minha vida é toda oração e uma missa,
...E uma comunhnão com os olhos e os ouvidos...'
Precisa dizer mais sobre a existência da fé? Quem ainda não a encontrou, deve correr a sua procura, pois é a personoficação de Deus em nós.
(Samira Chahine)

terça-feira, 28 de junho de 2011

17 anos de Isabela

hoje você faz 17 anos! tão clichê falar que "parece que foi ontem", mas parece...fazer o quê!
foi no dia 13 de junho que sua mãe, enfim, resolveu nos contar que estava grávida.
o susto foi breve, não havia muito tempo para sustos...eram muitas providências práticas a serem tomadas.
e tomamos, na medida do possível e do tempo disponível.
você não estava muito a fim de esperar e nasceu...
depois de meteóricos 15 dias.
acho que estava mesmo era louca para participar daquela bagunça.
tinhas olhos esbugalhados e já tão doces, cabelos pretos e longos e já saiu da maternidade com grandes brincos na orelha...tadinha.
hoje seus segredos não cabem mais no meu colo, nem seus mais de 1, 70 m...mas vou continuar tentando.
te amo demais!

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Ponto de Vista

tendo a vista do visível
revejo visões
revisto
invisto no invisível
no indisível de mim
verdades visíveis
visíveis enganos
vistas
vistos
visões
revejo a verdade
refaço o bordado
rebordo
rebordosa
cuido do ponto
do desenhado
inverto o sentido
conto casas, puxo o pano
enrugado
entendo o sentido
de ser sem sentido
encontro sentido em não ter sentido algum
replanejo os planos desfeitos
traço do avesso
avesso do avesso do avesso
sou um ser em construção
rascunho sem sentido de mim

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Tinha quatorze anos - Marta Medeiros

"tinha quatorze anos, insegurança e nenhuma celulite hoje tenho maturidade e um corpo que não alcança minha mente tinha marido, filhos e veraneava numa praia onde chovia hoje bate sol no sobrado em que me escondo tinha cabelos, primos e uma música preferida hoje a surdez me poupa do zumbido dos mosquitos tinha certezas, verdades, princípios, rapazes hoje tenho certeza de que não soube ser capaz o futuro tão ansiado chegou mais cedo do que devia eu sonhava para frente, hoje sonho para trás." (Marta Medeiros)

sexta-feira, 27 de maio de 2011

Yara - quase uma despedida!

Com as cores dos cabelos de Yara se vão os bibelôs que enfeitavam a casa, que nunca teve tempo de ser, verdadeiramente, um lar. Os quadros retirados das paredes deixam marcas claras, assim como deixam marcas as pessoas que um dia estiveram lá e hoje já não estão. São tristes os vazios deixado pela ausência. São tristes os vazios preenchidos pela saudade, pela mágoa, pelo abandono, pelo morrer aos poucos.
Na blusa de tricô caseiro, cor de doce de goiaba, dobrada com perfeição dentro do saco plástico, lacrado com fita, somente cheiro de pó. Cheiro do que foi guardado sem ter sido usado. Como o carinho que a gente guarda e não oferece. O carinho que a gente esconde e nunca põe em uso. Talvez como o carinho tímido e egoísta que a gente sufoca na garganta. Que a gente lacra dentro de sacos plásticos.
Em cada vão de armário que a praticidade vai esvaziando, um pouco do nada triste que sobra em todos os finais. O nada que toma conta de tudo. Por mais que se encha as prateleiras de lenços escoceses, toalhas belgas, cashimiras inglesas, um dia, inevitávelmente elas ficarão vazias. Cheias de nada. Impregnadas do cheiro triste da saudade. Um vazio implacável e mortal.
Assim como a voz de Yara que aos poucos desaparece, desaparecem papéis guardados, amarelados, dobrados. Desaparecem as fotos da infância. Desaparecem segredos guardados em pastas com elástico. Um milhão de receitas nunca executadas. Livros nunca lidos. Desaparecem coloridos quadrinhos de flores. Desaparece a força ds suas mãos. Desaparece, aos poucos, sua vida. Desaparecem as pessoas que já apareciam tão pouco.
Junto com a consciência, desaparece a dor. O sentimento de falta. Já dizia o filósofo moderno, "é impossível viver sem esquecer". Talvez Yara, de forma estratégica, tenha escolhido esta saída para conviver com mágoas e saudades. Finge que não entende, finge que não ouve, finge que não vê. Segue sentada, de olhar perdido e ralinhos cabelos brancos. Sem batom, sem o discreto risco de lápis marrom nas sombrancelhas. Sem exigências ou críticas. Sem óculos. Sem expectativas. Sentada, quieta, olhando o nada que restou.
A "madame" de tailer de lá caramelo, agora uma criança doce, carinhosa, meiga de mãos macias. Pedindo colo, pedindo abraço, proteção.
"O tempo passa,
Não nos diz nada.
Envelhecemos.
Saibamos, quase
Maliciosos,
Sentir-nos ir.
Não vale a pena
Fazer um gesto.
Não se resiste
Ao deus atroz
Que os próprios filhos
Devora sempre.
(...)
Girassóis sempre
Fitando o sol,
Da vida iremos
Tranquilos, tendo
Nem o remorso
De ter vivido.
(Ricardo Reis)

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Regras de Fernando!


Regras da Vida...por Fernando Pessoa:
1. Não tenha opiniões firmes, nem creias demasiadamente no valor de tuas opiniões.
2. Sê tolerante, porque não tens certeza de nada.
3. Não julgues ninguém, porque não vês os motivos, mas sim os atos.
4. Espera o melhor e prepara-te para o pior.
5. Não mates nem estragues, porque não sabes o que é a vida, exceto que é um mistério.
6. Não queiras reformar nada, porque não sabes a que lei as coisas obedecem.
7. Faz por agir como os outros e pensar diferente deles.

quinta-feira, 5 de maio de 2011

Rio

Na Floresta da Tijuca. Feijão Preto. Ondas. Pedras do Arpoador. Manhas. Abraço do Cristo. Redenção. Silhueta do Pão de Açucar. A fala cantada. Pôr do Sol. Vista Chinesa. Jardim Botânico. A Lagoa. Varandas do Copa. Beleza nas bochechas coradas do sol. Copacabana. Calçadão. Quinta da Boa Vista. Bossa Nova. Praia Vermelha. Arcos iluminados. O Bondinho. Ladeiras de Santa Tereza. Drummond. Mangueira. Maracanã. Água de Coco. Gafieira. Tom.

sábado, 30 de abril de 2011

Pregiça de Gente


ANDO COM PREGUIÇA DE GENTE!
(esclarecendo que esta imagem não é minha, surgiu de uma outra pessoa numa conversa nesta semana)
Sei muito pouco, mas o pouco que sei me torna incapaz de, simplesmente, assistir à vida sem ter a seu respeito o mínimo de visão crítica (mesmo que seja a minha visão crítica, totalmente despretenciosa de ser a verdade). Crítica talvez até demais para alguém que comete todos os erros que pessoas normais comentem e mais alguns que pessoas normais não cometem. Entre eles, a falha bíblica de ser humana e de ter contra mim a triste sina do livre arbítrio. Eu erro. O tempo todo. Em gestos, palavras (principalmente palavras), silêncios, sentimentos, avaliações, críticas, mágoas, saudades, cor do esmalte, corte de cabelo e qualquer outro gesto passível de erro. Eu erro. Hoje em dia temos tudo a nosso favor. Acesso irrestrito a um número incontável de fontes, liberdade de opinião, intercâmbio entre as classes, tv por assinatura com 1.300 canais, sebos de livros a 1,99. Há poucos anos assistíamos a sacrifícios de homens em arenas. Há poucos anos queimávamos bruxas em fogueiras. Hoje tudo tornou-se preguiçosamente fácil. Difícil para para deglutir o que nos é apresentado. Melhor repetir frases feitas. Melhor pensar o pensamento de quem já se deu o trabalho de pensar por nós. Mas não foi justamente por este direito que lutamos por tanto tempo? Nos tornamos a geração "Copia e Cola"! "As pessoas têm me dado preguiça". Alguém, muito mais sábio que eu, me disse isso esta semana. Achei genial. Pessoas e seus velhos dramas. Suas vidas tão difíceis na classe econômica. As baixas temperaturas de Paris no outono. Seus planos de carreira. Suas malas de rodinhas. Seus príncipes encantados poliglotas. Budgets, slots, iphones, plrs, fingers food...e tantas outras siglas para não dizer nada. Falar tanto para não dizer nada. Os discursos vazios (talvez como esse texto) têm me dado muita preguiça. Há alguns anos, num "petit comitê" numa apartamento com sofá laranja e um puff feito de um tronco de árvore, ouvi alguém (na época uma atriz do décimos time da Globo) contar que conhecia alguém que só tem 3 amigos. Sim, simples, só tem 3 amigos. Se alguém mais quisesse ser seu amigo teria que esperar uma vaga. Ela defendia a idéia dizendo que é impossível se dedicar a mais de 3 amigos. Pelo menos a dedicação que se espera de um verdadeiro amigo. Hoje em dia começo a dar razão a ela. Pra que colecionar tantos amigos? Precisamos de tantos amigos? Não, eu pelo menos não preciso. Preciso é de verdadeiros amigos. Amigos que não me dêem preguiça! Amigos com quem eu chore, mas também sorria junto. Amigos que não me dêem preguiça! .............................. Não sou de me arriscar em textos longos e polêmicos, mas o número reduzidíssimo de leitores desse blog me permite a liberdade de pensar um pouco aqui...no meio dessa madrugada solitária!

terça-feira, 26 de abril de 2011

Luna Clara - Adriana Falcão


e eu que andava tão precisada de um pouco de doçura...
peguei emprestado o presente de Maria (dado pela prima confidente querida)...
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LUNA CLARA & APOLO ONZE (Adriana Falcão)
"Luna Clara crescia, Odisseia chorava, Divina ria, Aventura esperava, Seu Erudito comprava livros, mais livros e colecionava novas histórias.
Até que resolveu arranjar uma biblioteca para ter onde guardá-las.
Ele estava mais do que convencido de que as histórias ficam em maior segurança nos livros do que na cabeça da gente, por mais dura que ela seja.
Comprou uma casa, um pouco adiante, na mesma rua, e escreveu na porta: Biblioteca Nacional.
Adquiria livros velhos, soprava, limpava, encapava de novo, e eles ficavam novinhos em folha. Aceitava doações. Fazia até negócios internacionais, tanto é que conseguiu importar um exemplar antiquíssimo de Romeu e Julieta, escrito em inglês arcaico, em homenagem a seu falecido avô, Arcaico, o Antigo.
Quanto mais as estantes ficavam cheias, mais tempo Seu Erudito passava na biblioteca.
Até que foi morar lá de vez.
Queria um espaço só seu para receber os amigos.
Os Três Mosqueteiros, por exemplo, fugiam da sua história para fazer uma visita, muito frequentemente.
Depois do almoço, Seu Erudito brincada de "o que é o que é" com Sherlock Holmes. Tinha que admitir, porém, perdia sempre.
Odiava o Coelho Maluco e aquela sua mania de apressar os outros.
Gostava muito de palestrar com Romeu, mas discordava radicalmente das ideias de Julieta, é evidente que aquela história de se fingir de morta não havia de dar certo. Então consolava Frei João, o pobre rapaz que foi levar uma mensagem de Julieta para Romeu, mas não executou o seu serviço por uma dessas coincidências do destino. (Bem na hora que uma moça apareceu na estrada e desviou ua atenção, um amigo de Romeu, muito mais esperto, passou correndo com a mensagem errada, sem que o pobre rapaz visse, e por isso o casal acabou morrendo no fim.)
Logo, seu Erudito virou conselheiro de Cirano de Bergerac.
Jogava futebol com o Corcunda de Notre Dame e basquete com os Hobbits e ai sim, sempre ganhava.
No dia em que apresentou Dona Benta e Obelix , não sabia que estava mudando completamente o final de muitas histórias.
Admirava Sancho Pança, em compensação achava seu chefe um sujeito meio parado. Dom Quixote você é lúcido demais e tenho dito e pronto! - dizia sempre.
O Menino Maluquinho, quando não estava fazendo outras maluquices, sempre passava por lá para azucrinar um pouquinho.
O Conde Drácula bailava, e Penélope tecia, e o Avarento reclamava do cuso de vida, e a Dama e o Vagabundo latiam e ate uma barata que um dia chameou Gregor Samsa, participava da bagunça."

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Coisas fora de lugar


Numa lufada de inesperado vento gelado, a vida se torna real demais.
Uma criança com doença de adulto.
Adultos chorando feito bebês!
Todos tentando juntos acreditar!
É a vida e a sua cruel capacidade de nos surpreender!
...........
Sarah, nós sempre estaremos com você!

quinta-feira, 17 de março de 2011

Comer, Rezar e Amar

"Ketut prosseguiu explicando que os balineses acreditam que cada um de nós, quando nasce, vem acompanhado de quatro irmãos invisíveis, que vêm ao mundo conosco e que nos protegem durante a vida. Quando a criança está no útero, seus quatro irmãos estão lá com ela, também - são representados pele aplacenta, pelo líquido amniótico, pelo cordão umbilical e pela substância amarela e sebenta que protege a pele do bebê. Quando o bebê nasce, os pais recolhem o máximo possível dessas substâncias externas relacionadas ao nascimento, depositam-nas dentro de um coco vazio e enterram-nas junto à porta da frente da casa da família. Segundo os balinees, esse coco enterrado é o local sgrado de descanso dos quatro irmãos que não nasceram, e esse lugar é cuidado pra semre, como um santuário. Desde que começa a adquirir consciência, a criança aprende que esses quatro irmãos a companham no mundo aonde quer que vá, e que eles sempre cuidarão dela. Os irmãos encarnam as quatro virtudes de que uma pessoa necessita para ter segurança e felicidade na vida: inteligência, amizade, força e (adoro esta) poesia. Os irmaos podem ser chamados a qualquer situação crítica para resgatar e ajudar. Quando você morre, seus quatro irmãos espirituais recolhem sua alma e levam você para o ceu." (Comer, Rezar e Amar)

sexta-feira, 11 de março de 2011

Um certo Felipe

53 na porta do corredor escuro,
soluços abafados da mãe inconformada,
mensagem na tela, somente
um breve adeus.
eu mal te conheci,
trocamos poucas palavras,
não percebi nos seus olhos tristes
o olhar disfarçado da despedida.
pra mim não é simples entender
porque alguém desiste de viver!
...................
Felipe,
o dia amanheceu,
pena você não estar mais aqui para ver que lindo sol faz hoje!

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Pro café

oi. passa aqui qualquer tardinha dessas. estou sempre em casa, não saio quase nunca. te boto mesa. estreio aquela toalha chique que ganhei no último dia das mães. te faço um café fresquinho, café de coador de pano, igual da mãe, igual da vó. café com bolinho de chuva. capricho no açucar, na canela e no carinho. abro a cortina da janela da cozinha pro sol bater gostoso no ladrilho e refletir estrelas coloridas na porta da geladeira. mudo as violetinhas de lugar que é pra não queimar as folhas novinhas. te conto as novidades sem importância da minha vida tão sem graça. talvez abra a tampa da caixa das antigas fotos. vamos dar risada e é bem capaz que choremos um pouco também.

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Sentido do sem sentido

mas, veja só, não faz sentido algum.
junto, para perder.
conquisto para ter saudade.
o constante é a inconstância.
o que dura, é o que eu não consigo prender.
o que importa é o que não tenho.
sempre desejo o que está do outro lado do vidro.
o que existe é o que não existe ainda.
o certo é a dúvida.
minhas respostas são perguntas.
o caos é consolador.

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Buraco Negro

resumo.
eu sumo.
mergulho.
buraco negro de dentro.
alma amordaçada.
nada urgente a declarar.
viagem pro nada.
cansada.
sem pressa de voltar.
questões práticas me roubam o ar.
amordaçada.
amarrada.
pelada.
nada.
nada urgente a declarar.
calada.
ninguém reclama a presença.
ausência.
ninguém me aguarda no desembarque.
prudência.
alma amordaçada silenciada.
de novo, nada.

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Uma das Marias

maria é grande grande na alma maria sorri mas eu sei que chora como chora maria chora medos chora quieta em segredo frustrações e perdas maria é linda é querida mesmo sendo maria é unica maria usou tamancos foi à pé pé na enchorrada maria seria canhota casou virgem nunca fez planos dá aos outros os presentes que ganha diz "tudo bem" sempre mesmo que não esteja come fruta do conde se queimou com água fervendo maria só teme as baratas sobretudo as voadoras vive para suas mulheres sobretudo por uma delas! dezembro 2009

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

"Mas então a paisagem ficou irreconhecível, e entendi que havia ultrapassado todos os limites anteriores. Já ouvi pessoas descreverem o momento em que o barco abre as velas, o momento em que finalmente se perde a visão da terra. Imagino que a experiência de inquietação misturada com alegria que sempre acompanha a descrição desse momento seja muito semelhante ao que senti no Ford, quando a paisagem em torno ficou estranha para mim. Isso aconteceu logo depois que fiz uma curva e me encontrei em uma estrada que circundava a encosta de uma colina. Dava para sentir o íngreme precipício à minha esquerda, embora não pudesse vê-lo por causa das árvores e da densa folhagem que ladeava a estrada. Fui domado pela sensação de que havia realmente deixado Darlington Hall para trás e devo confessar que senti um ligeiro sobressalto - sensação agravada pela desconfiança de que talvez não estivesse na estrada certa, e sim correndo na direção errada, para algum ermo. Foi só uma sensaçao momentânea, mas me fez reduzir a marcha, E, mesmo depois de ter me certificado de que estava no caminho certo, me vi compelido a parar o carro um momento para fazer um balanço, por assim dizer."

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Era abril de 71, os dois espíritos prontos aguardavam na plataforma prontos para a viagem de volta a Terra. Sorriam as alegrias vividas por vidas e vidas. Choravam as tristezas que enfrentaram juntos em tantos momentos...tantos momentos em tantas vidas. Analisavam curiosos o plano do que viria pela frente.Temiam a viagem. Temiam a chegada. Temiam uma impensável separação. De olhos fechados, deram-se as mãos, apertando uma na outra o quanto puderam, buscando um na mão do outro a segurança para aquela aventura. Numa explosão de luz chegaram à Terra ainda unidos pelo aperto de mão. Neste exato mágico momento duas mulheres iluminadas eram amadas sob o mesmo teto ao som das ondas do mar. Foi esse o cenário de amor que saudou a chega dos espíritos de volta a Terra...
...os espíritos deram vida a duas meninas...a primeira chegou no 4º dia de 72 e a segunda, com algumas horas de atraso, no dia seguinte. Das meninas surgiram as mulheres e das mulheres nasceram Antonio e Maria...que hoje brincam de mãos dadas!
Há quem duvide disso?



agosto 2007