quinta-feira, 15 de setembro de 2011
A insustentável leveza...
'Parece que existe no cérebro uma zona específica, que poderíamos chamar memória poética e que registra o que nos encantou, o que nos comoveu, o que dá beleza à nossa vida. Desde que Tomas conhecera Tereza, nenhuma outra mulher tinha o direito de deixar marca, por efêmera que fosse, nessa zona do cérebro dele. Tereza ocupava como déspota sua memória poética e dela varrera todos os vestígios das outras mulhres. Não era justo porque, por exemploo, a jovem com quem fizera amor no tapete durante a tempestada não era menos digna de poesia do que Tereza. "Feche os olhos, segure meus quadris, aperte-me com força!" Não podia suportar que Tomas ficasse com os olhos abertos, atentos e perscrutadores durante o amor, e que seu corpo, ligeriamente supenso acima do dela, não se colasse à sua pele. Não queria que ele a estudasse. Queria levá-lo na onda de encantamento em que só se pode entrar com os olhos fechados. Recusava-se a ficar de quatro, pois nessa posição seus corpos mal se tocavam e ele poddia observa-la a uma distância de quase cinquenta centímetros. Destestava esse distanciamento. Queria se confundir com ele. Por isso lhe afirmava obstinadamente, olhando nos seus solhos, que não tinha gozado, ainda que o taperte ficasse molhado com seu orgasmo: "Não procuro o gozo, procuro a felicidade, e o gozo sem felicidade não e gozo. " Em outras palavras, ela batia na porta de sua memória poética. Mas a porta estava fechada. Não havia lugar para ela na memória poética de Tomas. Só havia lugar para ela no tapete. ' (A Insustentável Leveza do Ser - Milan Kundera)
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Esse é um grande livro! Que livro! Eu escrevi um conto (há muito tempo atrás) inspirado no cãozinho da Teresa e do Tomas. E no cãozinho do Cipriano Algor, do livro "A Caverna" do José Saramago. Que saudade de ler esses livros!
ResponderExcluirAbraço