Feliz 2011!
sexta-feira, 31 de dezembro de 2010
quinta-feira, 23 de dezembro de 2010
sexta-feira, 17 de dezembro de 2010
a falta de restaurantes, nos levou a cozinhar juntos.
a falta de música ao vivo, nos embalou em deliciosos flash backs.
a falta da segunda tv, nos juntou no sofá.
a falta da tv a cabo, nos jogou nos livros.
a falta de shoppings, nos levou aos parques.
a falta de shows, nos levou aos museus.
a falta de bares, nos levou a fantásticos happy hours caseiros.
a falta de médicos, nos obrigou a deliciosas massagens.
a falta de camarão, nos obrigou a criatividade de novas receitas.
a falta de presentes, nos forçou a carinhosos abraços.
a falta de planos, nos forçou ao improviso.
a falta de possibilidade, nos trouxe a caridade.
a falta do que dizer, nos deixou confortáveis no silêncio.
a falta de coragem, nos surpreendeu com o carinho.
a falta de aviões, nos fez admirar o arco-íris na estrada.
a falta de outro carro, nos permitiu andar mais tempo juntos.
a falta de estratégias, nos fez viver o momento.
a falta de planos, nos fez reeditar o passado.
a falta de amigos, nos mostrou os verdadeiros.
a falta de ajuda, nos alertou para a verdade.
a falta do supérfulo, nos provou a importância do necessário.
segunda-feira, 13 de dezembro de 2010
eu queria ter um nome interessante,
eu queria ser um ser interessante.
queria ser...
Ana Lúcia e ser flautista.
Margarida e ser zootécnica.
Brígida e ser moradora anônima do Leblon.
Fernanda e ser surfista oxigenada.
Noemia e ser professora de Literatura.
Luana e ser telemarketing.
Stephany e ser a negra da padaria.
Clara e ser avó grisalha.
Berenice e ser psicóloga.
Fabíola e ser hair stilist.
Andréia e ser consultora.
Olga e subir o morro.
Wanda e ser orientadora vocaional.
Sueli e ser poeta triste.
Samara e ter uma tatuagem de dragão.
Marina e fumar maconha.
Eliane e visitar o Nepau.
Janaina e ser a dançarina da roda.
Lourdes Maria e ser artesã.
Inés e ler toda a obra de Pessoa.
Laura e entender Clarice.
Mariana e ser arquiteta.
Gabriela e ser voluntária.
Helena e ser atriz pornô.
Vera e ser arqueóloga.
Regina e trocar chuveiro.
Thereza e ser misteriosa.
Judith e ser mãe de gêmeos.
Débora e ser delegada.
Francine e ser bruxa.
Cláudia e ser inocente.
Sônia e vender pastel.
Cynthia e ser mais eu!
sexta-feira, 10 de dezembro de 2010
Existe um portão secreto que une a casa dos meus pais à casa da minha avó. Ele sempre existiu. sempre foi o mesmo. Passou por algumas pinturas mas sua estrutura é original, desde que me conheço por gente.
O tal portão fica no final do muro que une as duas casas, longe da vista de quem olha as casas da rua. Acessível somente aos moradores das casas. Uma espécie de portão da intimidade.
Minha avó, quase aos 90 anos, mas com saúde de ferro, atravessa o portão infinitas vezes ao dia, apressada com tarefas às quais só ela dá urgência e que a mantém viva.
Existe um pequeno degrau no portão, um obstáculo para quem o atravessa. A passagem é estreita e o portão, hoje em dia é branco.
Do lado da casa dos meus pais, o tal portão é a única coisa que dá sentido a um corredor que, depois de várias reformas pelas quais passou a casa, ficou totalmente sem utilidade e também sem saída (nem entrada). Hoje em dia, guardam-se grandes bacias de alumínio nesse corredor.
Do lado da casa da minha avó, ainda o mesmo chão de caquinhos vermelhos, salpicados de algumas poucas pecinhas amarelas. Uma tampa de alguma caixa de água, feita de concreto, que quando a gente pisa faz barulho. É a campainha do portãozinho. A gente sempre sabe quando alguém vai atravessá-lo quando pisa na tal tampa. São os sons secretos das casas.
Quando meu avô morreu, minha avó desesperada correu até o portão para chamar pela ajuda dos meus pais, mas não pôde atravessá-lo, ficou caída no degrau. Como se, atravessar o portão, fosse abandonar pra sempre o amor de uma vida toda.
Naquela madrugada atravessamos o portão inúmeras vezes...carregando a tristeza de lá pra cá...de cá pra lá.
O tal portão fica no final do muro que une as duas casas, longe da vista de quem olha as casas da rua. Acessível somente aos moradores das casas. Uma espécie de portão da intimidade.
Minha avó, quase aos 90 anos, mas com saúde de ferro, atravessa o portão infinitas vezes ao dia, apressada com tarefas às quais só ela dá urgência e que a mantém viva.
Existe um pequeno degrau no portão, um obstáculo para quem o atravessa. A passagem é estreita e o portão, hoje em dia é branco.
Do lado da casa dos meus pais, o tal portão é a única coisa que dá sentido a um corredor que, depois de várias reformas pelas quais passou a casa, ficou totalmente sem utilidade e também sem saída (nem entrada). Hoje em dia, guardam-se grandes bacias de alumínio nesse corredor.
Do lado da casa da minha avó, ainda o mesmo chão de caquinhos vermelhos, salpicados de algumas poucas pecinhas amarelas. Uma tampa de alguma caixa de água, feita de concreto, que quando a gente pisa faz barulho. É a campainha do portãozinho. A gente sempre sabe quando alguém vai atravessá-lo quando pisa na tal tampa. São os sons secretos das casas.
Quando meu avô morreu, minha avó desesperada correu até o portão para chamar pela ajuda dos meus pais, mas não pôde atravessá-lo, ficou caída no degrau. Como se, atravessar o portão, fosse abandonar pra sempre o amor de uma vida toda.
Naquela madrugada atravessamos o portão inúmeras vezes...carregando a tristeza de lá pra cá...de cá pra lá.
segunda-feira, 6 de dezembro de 2010
sexta-feira, 3 de dezembro de 2010
há alguns dias descobri que posso fotografar momentos sem importância. essa descoberta foi libertadora. agora fotografo tudo para colecionar.
queria ter descoberto isso antes.
gostaria de rever fotos do meu aniversário de 5 anos, quando prendi o dedo na balança do quintal. rever o dia em que fomos buscar a caçula no hospital e choramos juntas achando que papai havia nos abandonado. queria poder rever fotos de nós três empinando pipa nos gramados infinitos da USP. uma foto da ovada que demos no renatinho e que ele chorou. poder me deliciar com as fotos dos nossos passeios ao Playcenter. poder relembrar o desenho da colcha de indinho que tínhamos na nossa cama. rever o feijãozinho, as fofoletes, o trenzinho, os carrinhos de rolemã, o vai-e-vem, os bambolês. fotos tiradas na praia de Bertioga nas nossas férias da infância. queria rever uma foto, que fosse, do saco de laranjas e do Estadão nos almoços na Vila Ida. uma foto daquela mesa barulhenta com o meu padrinho. uma foto dos cachorros da lhô, do quintal de terra e até do galinheiro. dos concurso de dança e dos batizados das bonecas. uma foto da cozinha da sara com sua cortina xadrezinha. mais fotos dos jogos de dominó. das festas de santo antónio e de uma panela cheia de pinhão. uma foto de um natal da minha infância. queria rever a perua azul do tio e nós todos dentro dela. uma foto da antiga casa que não existe mais. uma do cachorro que morreu de barriga d'água porque atacou um rato. do incênio da campainha. de um domingo no parque da previdência. de uma das nossas expedições e do dia em que encontramos com os cães ferrozes. uma foto dos churros da amélia e da piscina de 1000 litros que nos divertia tanto nas tardes das férias. uma foto do morro de terra colorida. queria ter mais fotos da minha turma do pré primário, da minha primeira professora. das experiências com sonrizal que fazíamos na casa do marcelinho. fotos com amigos que se perderam mas que sempre estiveram lá. uma foto do joão mauro. queria ver uma foto da rede de voley estendida na rua. da gente escorregando na rampa da garagem. uma foto da vizinhança sentada na calçada. a criançada pulando na montanha de areia da construção da casa do genuíno. a fachada do bar da dona ana e do seu cachorro chacrinha. queria ter uma foto do meu primeiro namorado. relembrar o primeiro beijo dado no fim da feira, ao lado da barraca de pastel. poder ver uma foto do meu rosto em prantos no dia em que ele partiu para sempre. uma foto minha vestindo minha blusa cigana e meu anel de pedra, quando eu tinha 15 anos. seria delicioso ver uma foto de um bailinho na garagem do carlinhos. dos copos de plástico com refrigerante e da pilha de sanduiches de patê de atum. uma foto com a dona izulina que eu nunca entendi direito quem era, mas que sabia que era muito importante pro meu pai. mais fotos dos bolos da minha mãe. da mesa do café. do pão doce da minha tia que assava por horas e deixava a cozinha cheirando a coco. uma foto dos carrinhos de ferro dos primos. do forte apache. do cachorro que chamava dog e que era feio feito o demônio. queria poder rever os cômodos da minha antiga casa. rever o desenho dos caquinhos vermelhos da cerâmica. da caveira que havia no armário do corredor. as janelas guilhotina. os portões baixinhos. fotos da minha viagem a botucatu. foz do iguaçu. das nossas breves subidas no balão mágico. do macaco que ficava na árvore daquele sítio. das casinhas de boneca. dos finais de semana em ibiúna. queria poder ver mil fotos da barra manteiga, pula pau, corre cotia. nós todos dentro da brasília ou tomando sorvete no wells da panamericana.
com o tempo a gente descobre quais foram realmente os momentos importantes.
quinta-feira, 2 de dezembro de 2010
sobre minha mania de perseguição:
se alguém escreve um post sobre comentários ridículos; os comentários são meus.
se soltam uma circular advertindo sobre faltas e atrasos; é pra mim (apesar de não chegar atrasada e nem faltar nunca).
se falam sobre regime; eu passei de todos os limites.
se minha irmã é problemática; é porque sempre fui certinha demais.
se minha mãe é problemática; é porque fui uma péssima filha.
se meu pai é problemático; é porque deixei minha mãe problemática com os problemas que causei a minha irmã problemática.
se ouço uma busina; fechei alguém.
se acaba a bobina da máquina do VISA; é só comigo.
se tem um guarda na esquina; adivinha quem ele está multando?
se não me retornam a ligação; fiz alguma merda.
se me mandam corrente de oração; por que será que estou precisando de proteção?
tem algo errado comigo!
se me mandam piada; estou mal humorada.
se não gostaram de Cinema Paradiso; estão me chamando de burra.
se não usam vermelho; estão me chamando de puta.
se não gostam de vinho; estão me indicando ao AA.
se alguém escreve um post sobre comentários ridículos; os comentários são meus.
se soltam uma circular advertindo sobre faltas e atrasos; é pra mim (apesar de não chegar atrasada e nem faltar nunca).
se falam sobre regime; eu passei de todos os limites.
se minha irmã é problemática; é porque sempre fui certinha demais.
se minha mãe é problemática; é porque fui uma péssima filha.
se meu pai é problemático; é porque deixei minha mãe problemática com os problemas que causei a minha irmã problemática.
se ouço uma busina; fechei alguém.
se acaba a bobina da máquina do VISA; é só comigo.
se tem um guarda na esquina; adivinha quem ele está multando?
se não me retornam a ligação; fiz alguma merda.
se me mandam corrente de oração; por que será que estou precisando de proteção?
tem algo errado comigo!
se me mandam piada; estou mal humorada.
se não gostaram de Cinema Paradiso; estão me chamando de burra.
se não usam vermelho; estão me chamando de puta.
se não gostam de vinho; estão me indicando ao AA.
quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Segue o teu destino,
Rega as tuas plantas,
Ama as tuas rosas.
O resto é a sombra
De árvores alheias.
A realidade
A realidade
Sempre é mais ou menos
Do que nós queremos.
Ricardo Reis, 1-7-1916
o domingo estava esplendoroso...dia lindo!
Levei Maria para desfilar seus cachos no Museu da Língua Portuguesa,
lemos juntas as loucuras de Pessoa e vimos correndo no teto negro
as palavras de Emília dizendo que a vida é uma sequência de piscadelas.
E o que vem depois do último pisco?
O que vem depois é hipótese!
“A vida, Senhor Visconde, é um pisca-pisca. A gente nasce, isto é, começa a piscar. Quem pára de piscar, chegou ao fim, morreu. Piscar é abrir e fechar os olhos – viver é isso. É um dorme-e-acorda, dorme-e-acorda, até que dorme e não acorda mais. A vida das gentes neste mundo, senhor sabugo, é isso. Um rosário de piscadas. Cada pisco é um dia. Pisca e mama. Pisca e anda. Pisca e brinca. Pisca e estuda. Pisca e ama. Pisca e cria filhos. Pisca e geme os reumatismos. Por fim, pisca pela última vez e morre.- E depois que morre – perguntou o Visconde.- Depois que morre, vira hipótese. É ou não é?”
segunda-feira, 29 de novembro de 2010
Uma "menina" de 16 anos...que já nasceu com nome de escritora.
Sempre acho meu comentários, em blog alheios, melhores que meus próprios posts, mas, até hoje, não tinha tido a oportunidade de escrever a célebre frase que já vi tantas vezes por aí:
O COMENTÁRIO QUE VIROU POST:
Casa de Mariah disse...
Gabriela Marques (bom, confesso que já nasceu com o nome certo para ser uma grande escritora. Deve conhecer Gabriel Garcia Marques, imagino.)
Desde a infância eu dizia que, quando tivesse um filho ele se chamaria Vinícius (por causa do poetinha). Quis o destino que eu me casasse com um Moraes (aliás com sobrenome idêntico ao de Vinícius que era, na verdade, de Mello Moraes), aí então eu teria a oportunidade de ter meu "Vinícius de Moraes". Bom, não veio o Vinícius, mas chegou a Maria (Maria Luiza ou Malu), que me encanta diariamente com descobertas inimagináveis.
Procurei um contato seu para te mandar esse comentário por e mail mas não encontrei, então vai por aqui mesmo (um mega comentário gigante....). Lá no meu blog tem meu e mail e também meu Facebook (aquisição recente rs) caso queira me enviar seu contato, vou adorar poder falar com você.
Gabi (o mundo inteiro deve te chamar assim, por que eu seria diferente?), eu tenho uma sobrinha (única, amada, minha afilhada) que também tem 16 anos como você, e pelo convívio que tenho com ela posso dizer que sei, mais ou menos, o que é ser um adolescente nos dias de hoje. Não sei dizer se é melhor ou pior do que era na "minha época" mas, através de um dos comentários que você fez, acho que vocês têm um ponto favorável muito importante: a proximidade dos pais. Meus pais, que são ótimos e amados, fizeram o que puderam para nos dar (a mim e às minhas irmãs) a melhor educação possível, dentro das nossas possibilidades, mas sempre foram meio distantes, muito mais "pais" do que "amigos", assim como tinham sido os pais deles e os pais dos pais deles. Ter o privilégio de ter seu pai lendo blogs com você é absolutamente incrível, talvez você não tenha noção exata dessa importância hoje, mas te garanto, que fará uma diferença muito grande no seu futuro.
Achei engraçado você dizer que "ainda é criança às vezes". Quando eu tinha a sua idade, também me sentia "criança às vezes", hoje me sinto "sempre". Com 16 anos eu achava que sabia de tudo, tinha certeza absoluta de todas as minhas convicções, já tinha meu futuro desenhado num fluxograma perfeito. Ao longo da vida fui acumulando tantas dúvidas e questionamentos que hoje, tenho até dúvidas em relação à pessoa que sou...ou pelo menos de algumas características. Preferindo ser um personagem multifacetado. Um pessoa constantemente aberta a novas possibilidades que a vida me traz....e confesso, sou tão mais feliz desta forma.
É realmente surpreendente esse contato com alguém tão novo quanto você. Você foge do perfil da maioria dos escritores por aqui. É incrível esse encontro de gerações (seu pai provavelmente deve ter a mesma idade que eu - tenho 38 anos) e, esse encontro se dar assim, de forma tão voluntária e agradável.
Bom Gabi, acaba de ganhar uma amiga.
Parabéns menina e olha, um conselho: Leia os clássicos, todos que puder!!!!!
Beijos Mariah
sexta-feira, 26 de novembro de 2010
................
- Papai, que rua é essa?
- É a Avenida Paulista. Uma das avenidas mais importantes do mundo!
.....................
Eu tinha cerca de 8 anos, não entendia exatamente o que era esse tal "mundo" (talvez não entenda até hoje), mas a descrição imprimiu para sempre na avenida, uma aura de importância imensurável. Sob rigorosa supervisão materna, pude abrir o vidro do carro e colocar os olhos para fora da janela na tentativa de alcançar o topo dos prédios, tão distintos, tanto em forma quanto em quantidade, dos poucos que já tinham chegado ao nosso bairro.
A silhueta das construções emoldurava a avenida com uma perspectiva perfeita, as lâmpadas amarelas eram flores iluminadas no canteiro , calçadas desenhadas em branco e preto, semáforos coloridos, letreiros luminosos...neste dia me apaixonei pela avenida que estaria presente em tantos momentos importantes da minha vida.
Hoje, depois de 30 anos, numa noite de chuva, a Paulista se pintou para mim num quadro impressionista, um improvável Monet noturno. Me relembrou minha antiga paixão.
De dentro do carro, ouvindo Bethânia, voltei no tempo e me senti a menina de 8 anos sentada no banco de trás do carro do meu pai.
terça-feira, 23 de novembro de 2010
segunda-feira, 22 de novembro de 2010
Oi querido, sabia que um dia você acabaria chegando a té aqui.
Então agora, sente-se e prete bem atenção!
Se no início eu escondia esse "segredo", a partir de um certo momento passei a relaxar e, de certa forma, até desejar que você descobrisse esse meu cantinho secreto.
Saiba que nunca foi propriamente um segredo ou algo obscuro que eu mantenha escondido por algum motivo ilícito. Entenda como um quartinho secreto onde me escondo de vez em quando, pra chorar minhas mágoas ou registrar minhas alegrias, sem estar exposta a observação e crítica de ninguém, além da minha própria. Um cantinho de solidão voluntária e desejada.
Não me culpe, nem se zangue por não ter dividido isso com você. Na verdade, não dividi com você nem com ninguém. A única conhecedora e incentivadora do projeto é a Carlota, que desde o início acompanha e até me elogia. Mas não a culpe também, ela sempre defendeu que eu deveria te contar.
Amor, não quero que se sinta traído, volte alguns posts e você descobrirá que você está presente, diretamente, em 9 de 10 posts que escrevo e, indiretamente, em todos os outros. Você é minha maior testemunha. Vai identificar retalhos da linda história que, há tantos anos, escrevemos a quatro mãos. Talvez até se orgulhe de mim. Vai encontrar registros de algumas tristezas e de incontáveis alegrias. Alguns momentos simples dos quais talvez você nem se lembre, mas que eu fiz questão de registrar.
Agora você poderá entender minha mania irritante de fotografar os momentos mais simples, xícrinhas de café, os sapatos da Maria (ah, para que você entenda, Maria é o nome que a Malu tem por aqui), nossos jantares caseiros e nossas garrafas de vinho. Entenderá do que se trata os garranchos ilegíveis que rabisco no meu Moleskine vermelho. Porque mantenho incontáveis post its marcando pensamentos interessantes nos livros que leio (você encontrará vários desses pensamentos jogados por aí).
Agora, caso não esteja triste ou zangado, acomode-se na cadeira e vá pinçando aleatóriamente posts do passado. Será uma forma linda de descobrir o quanto te amo!
domingo, 21 de novembro de 2010

Na casa do amigo verdadeiro, você pode chegar cheia de sacolas de mercado e abrir você mesmo a geladeira, para manter a temperatura da cerveja ou do champagne.
Na casa do amigo, a gente já chega gritando e beijando todo mundo. Sabe onde limpar o pé. Pode deixar a bolsa em cima da cama, pois sabe que o amigo não irá se importar. A gente chega como se nem tivesse partido, continua o assunto de onde parou, pois, na verdade, o assunto nunca parou.
O amigo verdadeiro põe gérberas vermelhas em potinhos reciclados, enfeita a vida de simplicidade pra te receber. Sabe os temperos que você aprecia e quais são suas alergias. Põe amendoim de casquinha pro bate papo e manda todo mundo puxar um banquinho. O amigo verdadeiro conhece a trilha sonoro que te emociona.
Na casa do verdadeiro amigo, a gente reconhece a história de cada peça da mesa, cada copo, cada colher e lembra de almoços do passado. O amigo espera a gente para acabar de cozinhar. Na casa do amigo, todo mundo cozinha junto e prova do tempero na mesma colher.
Na casa do amigo, tem lombo que a madrinha prepara, farofinha especial e arroz que o marido faz depois que chega. Tem sorvete de pote e brigadeiro de colher...que todo mundo come quente e queima a língua.
Na casa do verdadeiro amigo, a gente imita fotos que tirava na infância e reúne os filhos para fotos históricas. A gente se fantasia de óculos escuros e se joga na cama para uma foto divertida que estará lá daqui a 40 anos e quem sabe inspire nossos filhos a imitá-la.
............................................................................................................................
eu já devo ter contado essa história aqui, mas história boa vale ser contada...de novo e de novo.
tenho uma amiga de infância. na verdade, técnicamente, somos amigas desde antes da infância. diz a lenda que nossas mães (muito amigas) ficaram grávidas no mesmo dia e no mesmo local (durante uma viagem à praia). nascemos no mesmo hospital, ela, sempre mais precoce, nasceu no dia 4 de janeiro e eu, já um pouco mais lerda, nasci no dia 5. tendo em vista que as crianças, naquela época, nasciam e iam direto para o berçário, onde só então o pai pudesse vê-los, é bem provável que eu a tenha conhecido antes mesmo de conhecer meu pai.
sábado, 20 de novembro de 2010
tema: Minha Infância
Andei de bicicleta
Cai na calçada
Ri de uma charada
Plantei um pé de feijão
Ganhei um cão
Me lambuzei de picolé
Brinquei de esconde-esconde
Quebrei o meu pé
Andei de bonde
Fui na praia
Vi filme na TV
Usei uma saia
Comi um delicioso pavê
Fiz escova no cabelo
Comi caramelo
Visitei uma fazenda
Apanhei de chinelo"
Maria em 10/03/2010
sexta-feira, 19 de novembro de 2010

E tomávamos chuva, andávamos descalços, ficávmos no sereno, vivíamos com as mãos sujas de terra, e quanto doentes nos tratávamos com o farmacêutido do bairro. Tudo isso porque éramos felizes.
Por que largou sua criança em algum trecho do caminho? Conecte-se com com sua criança interior, ela saberá apontar o que está faltando para você ser feliz.
Busque cada vez mais fazer o que gosta e se não puder fazer tudo o que gosta, aprenda a gostar de tudo que faz. Eis aí o segredo da felicidade.
Desperte a criança que ainda vive em você, deixse que ela lhe traga mais alegria, espontaneidade, curiosidade, divertimento e pureza. " (José Carlos De Lucca)
................
A criança que fui chora na estrada.
Deixei-a ali quando vim a ser quem sou.
Mas hoje, vendo que o que sou é nada,
Quero ir buscar quem fui onde ficou.
Fernando Pessoa
quinta-feira, 18 de novembro de 2010

não posso viver sem minha "xicrinha" de café pela manhã
não posso viver sem desenhar
não posso viver sem ouvir Alcione
não posso viver sem minhas irmãs
não posso viver sem desenhar
não posso viver sem ouvir Alcione
não posso viver sem minhas irmãs
não posso viver sem a minha amiga de infância
não posso viver sem esmalte vermelho
não posso viver de brisa
não posso viver sem o "google"
não posso viver sem "gnt"
não posso viver sem bota de bico fino
não posso viver sem vinho tinto
não posso viver sem Toquinho
não posso viver sem meu "pilili"
não posso viver sem planejamento
não posso viver reclamando
não posso viver sem esmalte vermelho
não posso viver de brisa
não posso viver sem o "google"
não posso viver sem "gnt"
não posso viver sem bota de bico fino
não posso viver sem vinho tinto
não posso viver sem Toquinho
não posso viver sem meu "pilili"
não posso viver sem planejamento
não posso viver reclamando
..................................................
dispenso balada puts puts
dispenso manteiga
dispenso esmalte cor de rosa
dispenso encontro de negócios
dispenso coquetel de frutas sem álcool
dispenso calça branca
dispenso pulseiras
dispenso todo tipo de chá
dispenso todo tipo de gente que não tem o que dizer
dispenso bolsa pequena
dispenso exame de rotina
dispenso molho branco e todo tipo de pudim!
dispenso manteiga
dispenso esmalte cor de rosa
dispenso encontro de negócios
dispenso coquetel de frutas sem álcool
dispenso calça branca
dispenso pulseiras
dispenso todo tipo de chá
dispenso todo tipo de gente que não tem o que dizer
dispenso bolsa pequena
dispenso exame de rotina
dispenso molho branco e todo tipo de pudim!
quarta-feira, 17 de novembro de 2010
percebi que "morte" só existe desse lado
se do "lado de cá" é "partida"
do "outro lado" é "chegada"
se fosse ruim...não seria com você!
neste momento esquisitopercebi que sorrisos podem ser muito tristese lágrimas...nem sempre são...lágrimas...que nossos pés são capazes de agüentarbem mais que nossos corações!nesta sala geladadentro de uma caixa brancaum manequim maravilhosode lenço pink na cabeça...buquê de gerânios, um anel de
força, coragem e amizade,lábios lindamente pintados,num olhar distraído...parecia ligeiramente com você!nesta sombra de velachegando perto se vêvocê não está mais ali.nada mais existe ali,pra onde foi tudo?onde está?numa sala vaziarestos de flores pelo chãonuma sala vaziaum "vão"não venha me dizerque pessoas são substituíveis, pois
elas não são não!pessoas de 27 anos não
poderiam morrer.morrer deveria ser
privilégio de "gente velha",que já está cansada de viver,que já viu muitos
outros viverem...e morrerem.que já viu sonhos
realizados e frustrados.que já tentou, que já
errou, acertou, ganhou e perdeu.pessoas de 27 anos
deveriam viverviver para tentarpara errar e acertarsorrir e chorar!"ficou um buraco na roda"... brinca de roda menina linda...que daqui viveremos
eternamente sua saudade!para "Mere" com amor
de irmã 17/11/2008
repostado em 17/11/2010
para que a gente nunca se esqueça de dar importância
a o que realmente tem importância.
terça-feira, 16 de novembro de 2010
E SE EU MORRESSE AMANHÃ? não, não se anime, não vou me desmanchar num testamento choroso e nobre, cheio de histórias e saudades, não. não seria tão presunçosa assim. vamos a parte prática da coisa, o lado egoísta de quem pensa, as vezes...só as vezes..."como o mundo poderia viver sem mim?".
e se eu morresse amanhã? falecesse, virasse purpirina ou adubo? quanto tempo levariam as providências práticas...por favor me "cremem"...tudo bem, sei que é caro, triste...mas ferre-se...por favor não se atrevam a não respeitar esse (e alguns outros) último pedido. ouvi dizer que só se pode cremar depois de algumas horas, não sei quantas. isso talvez me dê algumas horas para o caso de eu mudar de idéia.
quem será que terá a nobreza de cuidar do que sobrará de mim...espero morrer de uma doença que não me ferre ainda mais meu corpo. quero ser um defunto bonitinho, aquele que quando o povo olha diz (sempre diz)..."olha ... está com um semblante tranqüilo..."
L. estará muito abalado. do jeito que gosta de planejar tudo... vou acabar fedendo. minha mãe nunca se recuperará. minhas irmãs - só contem com elas se for dia de semana, fim de semana, nem pensar...é, vai sobrar para meu pai..."vou de táxi...você sabe..."melhor lembrar de deixar um boleto assinado.
em quanto tempo farão um bazar com minhas roupas e sapatos? espero que M. fique com minhas (pouquíssimas) jóias, meu edredon e minha bonequinha vermelha....só, não quero deixar muita coisa para ela ter que carregar. em quanto tempo sumirão com minhas fotos, para se evitar lembranças tristes? não quero pensar em outros detalhes.
quantas pessoas irão até Itapecerica marcar o ponto ou retribuir visita (que costume estranho esse também)...melhor não arriscar, Itapecerica é longe para caramba pode afetar minha popularidade, me coloquem no Araçá...mais central, com condução fácil e lanchonete do lado.
não gosto de praia nem de montanha o suficiente para uma homenagem, melhor jogar minhas cinzas na higiênica do gato, pelo menos assim minha vida tem que ter servido para alguma coisa.
quem ficará com meu carro? e com o carnê? será que o banco perdoa a dívida? duvido! ferre-se...fiador, se prepare.
quase ninguém sabe do blog...quem sabe então, deixe um comentário avisando...quem sabe uma alma nobre não dedica um post a mim.
tenho médico dia 25, por favor desmarquem...não quero ocupar vaga de ninguém que, com certeza, vai precisar mais que eu.
vou deixar algumas pendências, não tem jeito, por mais que a gente faça sempre sobra algo a fazer. já fiz um monte de coisas da qual me orgulho (agora não me ocorre nenhuma, estranho) e um outro monte (talvez um pouco maior) das quais me envergonho...essas eu conto em detalhes se alguém quiser saber.
a Fontana de Trevi terá que sobreviver sem minha visita. Cristo Redentor também. Não terei tomado café da manhã com a camisa azul do Diogo Mainardi.
para minha lápide deixo algumas opções...democracia até na hora da morte?..."Nada a declarar", "Se eu não estou ao seu lado, alguma coisa deu errado", "Espere até chegar em casa para falar mal de mim"...
e se eu morresse amanhã? falecesse, virasse purpirina ou adubo? quanto tempo levariam as providências práticas...por favor me "cremem"...tudo bem, sei que é caro, triste...mas ferre-se...por favor não se atrevam a não respeitar esse (e alguns outros) último pedido. ouvi dizer que só se pode cremar depois de algumas horas, não sei quantas. isso talvez me dê algumas horas para o caso de eu mudar de idéia.
quem será que terá a nobreza de cuidar do que sobrará de mim...espero morrer de uma doença que não me ferre ainda mais meu corpo. quero ser um defunto bonitinho, aquele que quando o povo olha diz (sempre diz)..."olha ... está com um semblante tranqüilo..."
L. estará muito abalado. do jeito que gosta de planejar tudo... vou acabar fedendo. minha mãe nunca se recuperará. minhas irmãs - só contem com elas se for dia de semana, fim de semana, nem pensar...é, vai sobrar para meu pai..."vou de táxi...você sabe..."melhor lembrar de deixar um boleto assinado.
em quanto tempo farão um bazar com minhas roupas e sapatos? espero que M. fique com minhas (pouquíssimas) jóias, meu edredon e minha bonequinha vermelha....só, não quero deixar muita coisa para ela ter que carregar. em quanto tempo sumirão com minhas fotos, para se evitar lembranças tristes? não quero pensar em outros detalhes.
quantas pessoas irão até Itapecerica marcar o ponto ou retribuir visita (que costume estranho esse também)...melhor não arriscar, Itapecerica é longe para caramba pode afetar minha popularidade, me coloquem no Araçá...mais central, com condução fácil e lanchonete do lado.
não gosto de praia nem de montanha o suficiente para uma homenagem, melhor jogar minhas cinzas na higiênica do gato, pelo menos assim minha vida tem que ter servido para alguma coisa.
quem ficará com meu carro? e com o carnê? será que o banco perdoa a dívida? duvido! ferre-se...fiador, se prepare.
quase ninguém sabe do blog...quem sabe então, deixe um comentário avisando...quem sabe uma alma nobre não dedica um post a mim.
tenho médico dia 25, por favor desmarquem...não quero ocupar vaga de ninguém que, com certeza, vai precisar mais que eu.
vou deixar algumas pendências, não tem jeito, por mais que a gente faça sempre sobra algo a fazer. já fiz um monte de coisas da qual me orgulho (agora não me ocorre nenhuma, estranho) e um outro monte (talvez um pouco maior) das quais me envergonho...essas eu conto em detalhes se alguém quiser saber.
a Fontana de Trevi terá que sobreviver sem minha visita. Cristo Redentor também. Não terei tomado café da manhã com a camisa azul do Diogo Mainardi.
para minha lápide deixo algumas opções...democracia até na hora da morte?..."Nada a declarar", "Se eu não estou ao seu lado, alguma coisa deu errado", "Espere até chegar em casa para falar mal de mim"...
segunda-feira, 15 de novembro de 2010

"Saudade" de Almeida Junior
Pinacoteca de São Paulo
Voltei, pra te ver de novo!
Logo após minha saída apressada, grande tristeza me tomou.
Tristeza por ter te deixado sozinha, chorando ao pé da janela.
Quanta indiferença a minha.
Estiquei meu pescoço para tentar espiar o que te machuca neste pedaço de papel.
Talvez uma foto antiga, amarelada, que você desesperadamente tentar iluminar nesta fraca luz que vaza da janela.
O papel parece ter um carimbo postal.
Alguém distante manda notícias?
Alguém distante avisa que não volta mais?
Outro avisa que alguém não existe mais...
Talvez um poema. Talvez uma promessa de amor.
Solidária, tento remexer o baú quase escondido no canto do aposento.
Esperança de encontrar dentro dele o motivo da lágrima iluminada no seu rosto.
Entender o grito de dor que você tenta abafar com o seu xale negro.
O porquê do luto.
Queria poder te apoiar, te confortar.
Impotente, me sentei à sua frente, curvada de tristeza e sofri quieta com você.
dez 2009
domingo, 14 de novembro de 2010

Vida normal. Sem grandes emoções, nem grandes tristezas...não guardo grandes perdas...nem tampouco grandes vitórias. Tudo coube (até então) em 3 diários de papel. O primeiro viveu numa brochura. A capa eu mesma fiz com papel espelho, que não era espelhado (um dos mistérios da minha infância) mas era cor de rosa. Guardou versos sublimes do alto da sabedoria dos meus 12 anos...guardou também as lágrimas de meus amores impossíveis. Aquele que foi embora, morar a longinqüos 20 kilômetros de distância. Hoje agradeço, se tivesse ficado teria se tornado mais um rosto no bairro como tantos outros rostos. Também teria envelhecido. Casado, separado...nos encontraríamos no sacolão do bairro no final de semana. Você vestindo uma camisa de time, carregando 2 filhos num carrinho de mercado...Tenho certeza: é melhor que tenha ido. Ficou na minha imaginação como um príncipe encantado, um amor impossível. Isso dá muito mais poesia. O segundo nasceu depois de 20 anos. Na capa um anjo renascentista. Nasceu da necessidade de registrar outras experiências. Nem tão minhas assim. Nasceu num final de semana, de uma estripulia. Este guardou momentos densos - já mais adulto (sem papel espelho cor de rosa) registrou perdas...muitas perdas. Registrou desastres mundiais, crises políticas e conjugais, registrou inícios e fins. Um palito de sorvete, um tichets de cinema, teatro infantil, os primeiros desenhos, alguns recortes de jornal,"A FOLHA DE UM PLÁTANO"...de um final de semana especial. Esse virou uma triste lembrança...suas folhas se espalharam numa estrada...na sua esperança de me arrancar minhas lembranças...em vão...elas continuam comigo. Minha pior lembrança sua. Depois deste dia tudo mudou...o que eu sentia por você se espalhou junto com as folhas ao longo da estrada...sumiu como aquela tão especial "folha do plátano". O terceiro nasceu desta lembrança. Amarelo. Agora um fichário. Assim posso destacar lembranças que não me fizeram bem...sem prejudicar as outras. Abrir os ganchos e me desfazer das tristezas...deixar somentas as páginas felizes. É uma grande evolução.
dezembro 2009
sábado, 13 de novembro de 2010

Ainda ontém a vó escolheu o feijão na mesa da cozinha de azulejos amarelos enquanto moeu o pão torrado em farinha.
A mãe fez um bolo de noiva do tamanho de uma porta e o enfeitou-o com mágicas fitas de coco. Ainda ontem o vô gigante andou as voltas com latas de tinta e cimento, dias e dias a construir uma nova parede.
Ainda ontem subimos na cerejeira e deixamos que ela manchasse nossas roupas.
Ainda ontem comi torradas de pão francês com geléia de morango.
Ainda ontem furei minhas orelhas e virei mocinha.
Ainda ontem colei bolinhas de papel crepom no desenho da coruja.
Voei pendurada no salgueiro do pátio da escola.
Ainda ontem sujei minhas mãos tentando prender a corrente da bicicleta azul.
Ainda ontem escrevi uma carta jurando amizade eterna para minhas melhores amigas.
Ainda ontem brinquei com os primos atravessando o portão secreto que une os dois quintais. Ainda ontem chegou em casa o primeiro aparelho de telefone.
Ainda ontem me tranquei com a prima no quarto verde e prendi meu dedo no balanço.
Ainda ontem sonhava em ser arquiteta, fotógrafa e filósofa.
Descobri que meu pai não era o super homem e que eu não queria ser minha mãe quando crescesse.
Ainda ontem nossa casa tinha apenas um banheiro, papel de parede com flores e carpete marrom. No quarto da mãe tinha um espelho mágico e gigante.
Ainda ontem a irma mais nova chegava embrulhada num chalé de crochet.
Ainda ontem eu acreditava que o Papai Noel fosse atender a todos os meus pedidos, pois eu era uma boa menina.
Ainda ontem acreditava que o futuro seria a simples realização dos meus sonhos.
Ainda ontem senti medo e segurei na mão do meu pai.
Ainda ontem a vó botava o feijão no fogo...
dezembro 2009
A mãe fez um bolo de noiva do tamanho de uma porta e o enfeitou-o com mágicas fitas de coco. Ainda ontem o vô gigante andou as voltas com latas de tinta e cimento, dias e dias a construir uma nova parede.
Ainda ontem subimos na cerejeira e deixamos que ela manchasse nossas roupas.
Ainda ontem comi torradas de pão francês com geléia de morango.
Ainda ontem furei minhas orelhas e virei mocinha.
Ainda ontem colei bolinhas de papel crepom no desenho da coruja.
Voei pendurada no salgueiro do pátio da escola.
Ainda ontem sujei minhas mãos tentando prender a corrente da bicicleta azul.
Ainda ontem escrevi uma carta jurando amizade eterna para minhas melhores amigas.
Ainda ontem brinquei com os primos atravessando o portão secreto que une os dois quintais. Ainda ontem chegou em casa o primeiro aparelho de telefone.
Ainda ontem me tranquei com a prima no quarto verde e prendi meu dedo no balanço.
Ainda ontem sonhava em ser arquiteta, fotógrafa e filósofa.
Descobri que meu pai não era o super homem e que eu não queria ser minha mãe quando crescesse.
Ainda ontem nossa casa tinha apenas um banheiro, papel de parede com flores e carpete marrom. No quarto da mãe tinha um espelho mágico e gigante.
Ainda ontem a irma mais nova chegava embrulhada num chalé de crochet.
Ainda ontem eu acreditava que o Papai Noel fosse atender a todos os meus pedidos, pois eu era uma boa menina.
Ainda ontem acreditava que o futuro seria a simples realização dos meus sonhos.
Ainda ontem senti medo e segurei na mão do meu pai.
Ainda ontem a vó botava o feijão no fogo...
dezembro 2009
sexta-feira, 12 de novembro de 2010
não me chame para fazer trilha no mato
não me passe corrente religiosa
não me convide para show de rap
não me mande selinhos
não me dê livros da Zíbia
não me dê braceletes
não me cobre atenção
não me ofereça Amarulla
não me ofereça Pudim de Leite
não me dê rosas de semáforo
não me dê receita de bolo
não me ensine um novo ponto
não me fotografe
não me bajule
não me cutuque
não me conte o último capítulo
não me mande mala-direta
não me peça opinião
não me dê amarelo
não me fale inglês
não me defenda pena de morte
não me venda porcaria
não me prometa nada
não me passe manteiga no pão
não me dê bala de troco
...não me esqueça!
dezembro 2009
não me passe corrente religiosa
não me convide para show de rap
não me mande selinhos
não me dê livros da Zíbia
não me dê braceletes
não me cobre atenção
não me ofereça Amarulla
não me ofereça Pudim de Leite
não me dê rosas de semáforo
não me dê receita de bolo
não me ensine um novo ponto
não me fotografe
não me bajule
não me cutuque
não me conte o último capítulo
não me mande mala-direta
não me peça opinião
não me dê amarelo
não me fale inglês
não me defenda pena de morte
não me venda porcaria
não me prometa nada
não me passe manteiga no pão
não me dê bala de troco
...não me esqueça!
dezembro 2009
quinta-feira, 11 de novembro de 2010

- Na sua época tinha mochila de rodinha?
- Não não tinha.
- Tinha "Naruto"?
- Não, não tinha.
- "Pica Pau" e "Tom e Jerry" tinha né?
- Tinha...e já era chato!
- Tinha "Cartoon Networks"?
- Não, não tinha. Nem internet e nem TV à cabo.
- Não tinha?
- O "Homem Aranha" é da sua época?
- Sim é...mas em quadrinhos?
- O que é quadrinhos?
- Revistinha, Gibi!
- Ah, Gibi! Na sua época tinha tênis de rodinha?
- Não, não tinha.
- Tinha celular?
- Não, não tinha.
- Televisão tinha?
- Sem controle remoto.
- Orkut tinha? Msn?
- Não tinha internet...a gente escrevia cartas.
- Tinha Barbie?
- Só Susi. Eu tive uma.
- Só uma?
- Tinha avião?
- Já tinha.
- Carro tinha?
- Poucas marcas...Fusca tinha.
- Tinha lição de casa?
- Ah, isso tinha!
- Pelo menos alguma coisa tinha né?
novembro 2008
** esta repostagem já estava programada para a data de hoje. e hoje, justo hoje, em que soubemos que nossa Maria já é uma "mocinha".
na data de hoje, minha Maria ficou menstruada.
quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Pela primeira vez, chorei de saudade daquela noite. Muito quente, tínhamos acabado de sofrer nossa primeira separação. Há meses já te sentia me sufocando, em alguns momentos de desespero, quase ansiei por aquele momento. Foi uma separação tranqüila, silenciosa. Eu quase inconsciente, você assustada, surpreza e insegura. Assisti deitada, imóvel, seus olhos se afastarem de mim pela primeira vez. Seu choro abafado parecida me pedir socorro, mas eu não podia me mexer. Tanta emoção num momento tão breve. Nosso cordão vital sendo rasgado bruscamente. Após sua partida passei a noite toda sentada na cama, olhando para a porta, meu corpo doía, meio drogada, havia sangue para todo lado. Impaciente e insegura te esperei, sabendo que a qualquer momento você entraria pela porta, já parecendo outra pessoa. Não sabia exatamente o que esperar. Você já respirava por si própria. Minha ansiedade já deixava claro que algo tinha mudado, que a partir daquele momento eu nunca mais poderia ser a mesma pessoa. Já não poderia ser a mesma pessoa sem você. A partir daquela noite, você havia me roubado o direito de pensar em mim antes de pensar em você. Durante tanto tempo fomos uma pessoa só. Trocamos emoções, sangue e oxigêncio. Todo o resto do mundo à margem desta nossa cumplicidade vital e agora, assim, sem sentido nenhum você resolve sair desta relação, me deixando com um vazio imenso dentro de mim. Sua partida deixou em mim uma cicatriz eterna. Cicatriz que me lembrará todos os dias da minha vida do momento da sua partida. Dizem que o amor é um sentimento incondicional. Se, da sua partida dependia sua vida, então nada me restava senão aceitar sua partida. Deixei que você partisse para o mundo, que fosse plantar suas próprias alegrias e incertezas. Descobrir suas próprias verdades, ter suas próprias cicatrizes. Na verdade a cada dia te vejo mais pronta para a vida. Nos seus momentos de medo e ansiedade, penso na cicatriz, e desejo te colocar dentro de mim de novo. Desejo te proteger da vida. Nessa momento encorajo seus passos e fico anônima nos bastidores.
dez 2009
terça-feira, 9 de novembro de 2010

"Pois a Ratinha era linda. Uma beleza rara, mas tão frágil e bonita que toda vez que eu olhava para ela era como se fosse a primeira vez. Ela surgia inesperadamente e provocava aquela espécie de choque que sentimos quando tomamos chá numa xícara comum e de repente, no fundo, vemos uma minúscula criatura, metade borboleta, metade mulher, fazendo uma reverência com as mãos enfiadas nas mangas de seu traje."
Je ne parle pas français - K. Mansfield
Je ne parle pas français - K. Mansfield
Muitas vezes a beleza se esconde no fundinho da xícara!
segunda-feira, 8 de novembro de 2010

O que mais me faz suspirar em relação ao moço da bela figura é a soberania que tem em relação ao próprio discurso. Sua fala pausada e mansa, segura de que o que diz é realmente importante. Seu discurso é tranquilo, suave, conta com a certeza do conteúdo que transmite e que, portanto, corre poucos riscos de ser interrompido.
Não se iludam se acham que estou falando do "personagem" apresentador do Jornal Nacional pois não estou. Falo do William Bonner jornalista. Já o vi em vários programas de entrevista e, acreditem, o cidadão é realmente encantador.
William, você é o cara!
domingo, 7 de novembro de 2010
AVISO AOS NAVEGANTES:
Consegui importar alguns posts do antigo blogue.
Isso já é coisa adiantada por demais para alguém com meus dotes internéticos.
Vocês podem ler esses textos nas datas mais antigas.
Mas, claro, as postagens vieram desconfiguradas.
Fotos gigantes, vídeos deslocados, textos mal formatados.
Peço desculpas e prometo, ir consertando tudinho...aos poucos.
segunda-feira, 1 de novembro de 2010
domingo, 31 de outubro de 2010
sexta-feira, 29 de outubro de 2010
quarta-feira, 20 de outubro de 2010
segunda-feira, 18 de outubro de 2010
sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Bebi uma taça de vinho. Talvez um "pouquinho" mais que uma taça!. Carmenère, delicioso, uma taça (de um jogo de 6) que ganhei da melhor amiga que uma mulher poderia ter .
Quanto bebo me dá vontade de escrever. Se eu fosse uma escritora, isso se chamaria "inspiração", mas no meu caso o nome mais apropriado é mesmo "irresponsabilidade".
Escrevo por impulso, muitas vezes como falo. Tantas coisas eu faço por impulso. Não preparo o tema, não pesquiso, não consulto no dicionário a grafia correta das palavras (isso vocês já devem ter percebido por aqui). Não tenho paciência para procurar a fotografia certa, quando encontro alguma boa, nunca coloco a fonte (o que considero um erro imperdoável).
Quando bebo a coisa fica mais séria, ocasionalmente acabo perdendo o pouco de censura que me resta, sou irresponsávelmente "reveladora". Sinto que hoje será uma dessas situações, para o bem ou para o mal.
Estou sozinha, fato tão raro e desejado. A sala com quase 30 metros é pequena para a solidão que tanto desejo. A TV exibe "E o Vento Levou", minha taça anda comigo pela casa escura e silenciosa, como deve ser a solidão.
Há 20 anos eu já via "E o Vento Levou" (visto que, na época eu tinha 16 anos de idade, isto pode ser considerado normal?). Foi nessa época que, sabe lá Deus o porquê, o filme se tornou um dos meus favoritos. Minhas amigas assistiam "Dirty Dancing" e eu queria ver Scarlat dizendo "eu nunca mais passarei fome". Naquela época os mais observadores já viam em mim indícios de uma mulher que não seguiria pela estrada da normalidade.
Há 20 anos eu não imaginava minha vida como ela é hoje, não planejei nada disso, talvez nem conseguisse imaginar uma vida tão boa assim. Eu, numa terça feira com uma taça de vinho e cheiro de canela numa sala vazia com uma parede vermelha e a solidão.
Não, eu não tenho dinheiro. Tenho mais dívidas do que poderia pagar, consumo mais do que deveria e menos (muito menos) do que gostaria. Sim, gosto sim de coisa boa, e daí?
Já tenho meus 36 anos, uma carreira estressante e interessante, promissora se não acabar comigo antes. Tenho muitos "conhecidos" e alguns poucos e bons amigos.
Vejo nas realizações de Maria os meus próprios sonhos sendo realizados, mas tenho muito medo das suas inseguranças. Gostaria que ela não tivesse medo de nada, mas tenho consciência dos medos que tantas vezes eu tenho (até hoje) .
Hoje vivo a "verdade libertadora" que não almejei mas que me é tão bem vinda. "Reapaixonei-me" pelo primeiro homem da minha vida e hoje revivo uma história de amor. O melhor amigo, o melhor marido e o melhor amante!
Gostaria de ter alguns quilos a menos e algumas horas a mais para mim. Gostaria de ter uma memória melhor para nomes, datas e números, e uma memória pior para todas as outras coisas.
Minha vida é feita de uma rotina maravilhsosamente gostosa. Amanhã tenho que comprar cenouras, cheiro verde e cebola!
Acho que o saldo é positivo!
Quanto bebo me dá vontade de escrever. Se eu fosse uma escritora, isso se chamaria "inspiração", mas no meu caso o nome mais apropriado é mesmo "irresponsabilidade".
Escrevo por impulso, muitas vezes como falo. Tantas coisas eu faço por impulso. Não preparo o tema, não pesquiso, não consulto no dicionário a grafia correta das palavras (isso vocês já devem ter percebido por aqui). Não tenho paciência para procurar a fotografia certa, quando encontro alguma boa, nunca coloco a fonte (o que considero um erro imperdoável).
Quando bebo a coisa fica mais séria, ocasionalmente acabo perdendo o pouco de censura que me resta, sou irresponsávelmente "reveladora". Sinto que hoje será uma dessas situações, para o bem ou para o mal.
Estou sozinha, fato tão raro e desejado. A sala com quase 30 metros é pequena para a solidão que tanto desejo. A TV exibe "E o Vento Levou", minha taça anda comigo pela casa escura e silenciosa, como deve ser a solidão.
Há 20 anos eu já via "E o Vento Levou" (visto que, na época eu tinha 16 anos de idade, isto pode ser considerado normal?). Foi nessa época que, sabe lá Deus o porquê, o filme se tornou um dos meus favoritos. Minhas amigas assistiam "Dirty Dancing" e eu queria ver Scarlat dizendo "eu nunca mais passarei fome". Naquela época os mais observadores já viam em mim indícios de uma mulher que não seguiria pela estrada da normalidade.
Há 20 anos eu não imaginava minha vida como ela é hoje, não planejei nada disso, talvez nem conseguisse imaginar uma vida tão boa assim. Eu, numa terça feira com uma taça de vinho e cheiro de canela numa sala vazia com uma parede vermelha e a solidão.
Não, eu não tenho dinheiro. Tenho mais dívidas do que poderia pagar, consumo mais do que deveria e menos (muito menos) do que gostaria. Sim, gosto sim de coisa boa, e daí?
Já tenho meus 36 anos, uma carreira estressante e interessante, promissora se não acabar comigo antes. Tenho muitos "conhecidos" e alguns poucos e bons amigos.
Vejo nas realizações de Maria os meus próprios sonhos sendo realizados, mas tenho muito medo das suas inseguranças. Gostaria que ela não tivesse medo de nada, mas tenho consciência dos medos que tantas vezes eu tenho (até hoje) .
Hoje vivo a "verdade libertadora" que não almejei mas que me é tão bem vinda. "Reapaixonei-me" pelo primeiro homem da minha vida e hoje revivo uma história de amor. O melhor amigo, o melhor marido e o melhor amante!
Gostaria de ter alguns quilos a menos e algumas horas a mais para mim. Gostaria de ter uma memória melhor para nomes, datas e números, e uma memória pior para todas as outras coisas.
Minha vida é feita de uma rotina maravilhsosamente gostosa. Amanhã tenho que comprar cenouras, cheiro verde e cebola!
Acho que o saldo é positivo!
junho 2008
hoje, em outubro de 2010, algumas coisas mudaram...outras não!
segunda-feira, 13 de setembro de 2010
quinta-feira, 9 de setembro de 2010
quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Naquela época mãe era mãe, mãe não era amiga, e isso não era exatamente ruim. Não era amiga, mas era mais mãe do que somos hoje.
Naquela época, os amigos eram reais e não virtuais. Fazíamos roda de conversa e não redes de relacionamento. No dia do aniversário, a gente se reunia, comia bolo e cantava parabéns...ainda não existia e mail.
Naquela época, as lojas não abriam aos domingos. Domingo era dia de ir na madrinha. O pai parava na banca de jornal da praça para comprar o "Estadão", enquanto a mãe ia ao caminhão de frutas comprar uma melancia ou um sacão de laranja bahia. A madrinha fazia lazanha com frango assado (a casquinha grudava na assadeira e isso era delicioso) e a vó...ah, a vó...fazia aquele bolo mesclado com aquela casquinha durinha. Era dia da criançada brincar de queimada e barra manteiga no quintal e voltar dormindo para casa. A gente sonhava com a "Beijoca", mas a prima mais velha não deixava nem chegar perto.
Os supermercados, que ainda não eram "hiper", só abriam de dia e os sacos eram de papel, muito usados inclusive por pintores de parede.
Não pagávamos estacionamento nos shoppings. Quase ninguém tinha carro zero e nem carnês com 60 parcelas. As pessoas tinham cadernetas de poupança e também de "mercearia".
Comíamos doce de banana dentro de casquinhas de sorvete. Fruta do pé. Chiclete só tinha de tutti-fruti ou hortelã, mas já tinha figurinha.
Os telefones não tinham teclas. Tínhamos que colocar o dedo e rodar o disco...era triste quando o número do telefone tinha o número zero.
As TVs não tinham controle remoto, mas também nem precisava, tínhamos apenas quatro canais. Ainda não existia a Internet. Já existia a Barsa e a Coleção Conhecer.
dezembro 2009
Naquela época, os amigos eram reais e não virtuais. Fazíamos roda de conversa e não redes de relacionamento. No dia do aniversário, a gente se reunia, comia bolo e cantava parabéns...ainda não existia e mail.
Naquela época, as lojas não abriam aos domingos. Domingo era dia de ir na madrinha. O pai parava na banca de jornal da praça para comprar o "Estadão", enquanto a mãe ia ao caminhão de frutas comprar uma melancia ou um sacão de laranja bahia. A madrinha fazia lazanha com frango assado (a casquinha grudava na assadeira e isso era delicioso) e a vó...ah, a vó...fazia aquele bolo mesclado com aquela casquinha durinha. Era dia da criançada brincar de queimada e barra manteiga no quintal e voltar dormindo para casa. A gente sonhava com a "Beijoca", mas a prima mais velha não deixava nem chegar perto.
Os supermercados, que ainda não eram "hiper", só abriam de dia e os sacos eram de papel, muito usados inclusive por pintores de parede.
Não pagávamos estacionamento nos shoppings. Quase ninguém tinha carro zero e nem carnês com 60 parcelas. As pessoas tinham cadernetas de poupança e também de "mercearia".
Comíamos doce de banana dentro de casquinhas de sorvete. Fruta do pé. Chiclete só tinha de tutti-fruti ou hortelã, mas já tinha figurinha.
Os telefones não tinham teclas. Tínhamos que colocar o dedo e rodar o disco...era triste quando o número do telefone tinha o número zero.
As TVs não tinham controle remoto, mas também nem precisava, tínhamos apenas quatro canais. Ainda não existia a Internet. Já existia a Barsa e a Coleção Conhecer.
dezembro 2009
sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Eu nunca achei que seria mãe. Na infância nem gostava tanto de brincar de casinha. Tinha certeza que havia nascido sem o tal "instinto materno",o tal dom mágico que surge como que por um milagre em toda mulher praticamente na hora do parto.
Tenho sérias dificuldades em administrar os "porquês" e "bicos" de Maria. Nem sempre, ao final do dia, tenho a paciência necessária para recortar palavras começadas com "gue" e "gui". Eu definitivamente odeio "Cartoon Networks" e os sapatinhos da "Polly".
Não sei como explicar a ela que simplesmente, por mais incrível e inacreditável que isso possa parecer, não posso comprar tudo o que ela deseja. Eu nem sei como ela consegue desejar tudo o que ela deseja.
Não sei o que dizer quando ela vem reclamando que as suas "costas estão coçando". Sinto nestas queixas um certo ar de acusação, como se eu tivesse culpa de ter gerado um ser que pode sentir coceira nas costas.
Não consigo ficar indiferente às suas "precoces crises de adolescência" e isso torna as tais crises ainda mais freqüentes e eu ainda mais intolerante.
Tento, o tempo todo, ferozmente, resistir a tentação de resolver os seus problemas, esclarecer todas as suas dúvidas, elevar sua auto-estima, espantar seus fantasmas. Nesses momentos me sinto o ser mais impotente e incompetente do planeta.
Entenda, ainda outro dia eu era uma menina mimada e bicuda que vivia com coceira nas costas.
setembro de 2008
Tenho sérias dificuldades em administrar os "porquês" e "bicos" de Maria. Nem sempre, ao final do dia, tenho a paciência necessária para recortar palavras começadas com "gue" e "gui". Eu definitivamente odeio "Cartoon Networks" e os sapatinhos da "Polly".
Não sei como explicar a ela que simplesmente, por mais incrível e inacreditável que isso possa parecer, não posso comprar tudo o que ela deseja. Eu nem sei como ela consegue desejar tudo o que ela deseja.
Não sei o que dizer quando ela vem reclamando que as suas "costas estão coçando". Sinto nestas queixas um certo ar de acusação, como se eu tivesse culpa de ter gerado um ser que pode sentir coceira nas costas.
Não consigo ficar indiferente às suas "precoces crises de adolescência" e isso torna as tais crises ainda mais freqüentes e eu ainda mais intolerante.
Tento, o tempo todo, ferozmente, resistir a tentação de resolver os seus problemas, esclarecer todas as suas dúvidas, elevar sua auto-estima, espantar seus fantasmas. Nesses momentos me sinto o ser mais impotente e incompetente do planeta.
Entenda, ainda outro dia eu era uma menina mimada e bicuda que vivia com coceira nas costas.
setembro de 2008
segunda-feira, 2 de agosto de 2010
Apesar de convivermos há tanto tempo, hoje descubro que sei muito pouco de você. Te culpo pelas conseqüências que hoje carrego de decisões que você não tomou; te culpo também por algumas decisões que tomou. Te culpo pelos milhares de cursos que você começou e não concluiu. Por não falar outro idioma. Ser limitada intelectualmente e ter péssima memória para nomes e datas. Te culpo por essa insegurança que te faz refém de eternos sins, para todo mundo, o tempo todo. Te odeio por você nunca ter tido coragem de pegar um avião sozinha e passar um dia no Rio de Janeiro. Te culpo pelas dores de dente que tenho hoje, o motivo? É óbvio que você sabe qual é. Te culpo pelo seu senso de humor descalibrado e descabido e pela sensação ridícula que você tem de que isso a torna popular. Odeio sua mania irresponsável de abrir sua vida a todos indiscriminadamente. Odeio o talento que você adquiriu de conviver com pendências. Queria que você pudesse pensar, falar e fazer uma coisa de cada vez, quem sabe as coisas não sairiam mais bem feitas desta forma. Odeio sua incapacidade de comer apenas um Bis, um Mentex, de tomar um café, uma cerveja. Odeio sua incompatibilidade com a moderação. Odeio os quilos que você ganhou e hoje sou obrigada a carregar. Odeio a forma que você provoca e foge de fortes emoções. Odeio sua postura simpática e polida. Odeio o fato das pessoas não perceberem o quanto você pode ser calculista. Odeio sua mania de organizar a vida em caixas. Odeio sua incapacidade de esperar. Odeio a forma como você trata sua família. Te odeio pelo tempo da minha vida que você perdeu cuidando de negócios. Odeio sua incapacidade de alimentar planos a longo prazo. Te odeio por ter-se deixado apaixonar perdidamente e ter permitido que isso virasse sua vida de cabeça para baixo. Odeio ter consciência de que, apesar de conviver com você a cem mil anos, sou incapaz de prever seu próximo passo.
postado originalmente em novembro de 2008
postado originalmente em novembro de 2008
quarta-feira, 28 de julho de 2010

Gosto de ficar sozinha. Sempre gostei.
Na casa da minha família sempre tinha gente, muita gente.
Gente indo, gente voltando...gente nascendo, gente entrando, saindo, gente morrendo, almoçando...rindo, cantando, chorando, falando, falando, falando.
Eram raras as chances de ficar só...talvez por isso, ainda hoje carrego isso como um privilégio.
Gosto de ficar sozinha no quietinho da madrugada. Gosto de chegar em casa antes do resto...e ficar no silêncio escuro esperando a chegada da noite. Gosto da solidão da manhã na casa...quando, deliciosamente só, sento na mesinha da cozinha com uma caneca de café quente...esperando o dia acordar.
Gosto da sensação de que ninguém vai me chamar. Ninguém está esperando para o jantar, para o jornal ou para o amor.
Gosto da liberdade de poder sair ou ficar...sem ter que avisar...sem ter hora para voltar.
A necessidade desta solidão cresce a cada dia e me faz pensar...desejar...planejar.
Nunca antes senti tamanho desejo de me dedicar a mim.
Penso em cursos, viagens, em terapias, massagens, mil outras possibilidades...porém hoje, num momento de lúcida solidão, chego à conclusão de como me fariam bem alguns momentos de planejada solidão.
Vou encontrar um canto secreto.
Uma janela e uma poltrona.
Um esconderijo de fim de tarde.
Uma caverna onde eu possa, comigo mesma, curtir deliciosos "happy hours".
novembro 2007
Na casa da minha família sempre tinha gente, muita gente.
Gente indo, gente voltando...gente nascendo, gente entrando, saindo, gente morrendo, almoçando...rindo, cantando, chorando, falando, falando, falando.
Eram raras as chances de ficar só...talvez por isso, ainda hoje carrego isso como um privilégio.
Gosto de ficar sozinha no quietinho da madrugada. Gosto de chegar em casa antes do resto...e ficar no silêncio escuro esperando a chegada da noite. Gosto da solidão da manhã na casa...quando, deliciosamente só, sento na mesinha da cozinha com uma caneca de café quente...esperando o dia acordar.
Gosto da sensação de que ninguém vai me chamar. Ninguém está esperando para o jantar, para o jornal ou para o amor.
Gosto da liberdade de poder sair ou ficar...sem ter que avisar...sem ter hora para voltar.
A necessidade desta solidão cresce a cada dia e me faz pensar...desejar...planejar.
Nunca antes senti tamanho desejo de me dedicar a mim.
Penso em cursos, viagens, em terapias, massagens, mil outras possibilidades...porém hoje, num momento de lúcida solidão, chego à conclusão de como me fariam bem alguns momentos de planejada solidão.
Vou encontrar um canto secreto.
Uma janela e uma poltrona.
Um esconderijo de fim de tarde.
Uma caverna onde eu possa, comigo mesma, curtir deliciosos "happy hours".
novembro 2007
quinta-feira, 22 de julho de 2010
6:08, é o que os caracteres vermelhos marcam no fundo preto do visor. Mariah, silenciosamente, lamenta os 2 minutos que, diariamente, o hábito lhe rouba de sono. Estica um pouco o braço e aperta o botão que silencia o aparelho - faz isso como se calá-lo fosse uma vingança.
Apesar da maravilhosa noite de sono, desperta sentindo o corpo dolorido e, especialmente, cutucado por espetadinhas de adrenalina.
Esta manhã sentia-se inesplicávelmente animada. Talvez apenas resquícios de um sonho bom. Sempre teve dificuldade em lembrar dos seus sonhos, principalmente dos bons. Agradece pela noite de sono e lembra dos fortes calmantes de apenas alguns meses atrás. Sente-se satisfeita pelo rumo que sua vida tinha tomado, apesar de todas as dificuldades, tudo caminhava bem.
Admira a filha que ainda dorme profundamente ao seu lado. Alguns cachos dourados desenhados no travesseiro. O rosto lindo completamente relaxado sem qualquer indício de tensão ou medo. O sono tranquilo que só quando se é criança se pode ter. Sentiu-se ligeiramente culpada por não ter tido força suficiente para tê-la mandado para o seu quarto na noite anterior e ao mesmo tempo lamenta que isso não duraria para sempre. Logo ela não irá mais querer dormir na sua cama. Não lhe contará seus segresos. Não lhe fará desenhos à guache.
Na ponta dos pés descalços, caminha até o banheiro e abre a torneira para que possa ter um banho de água bem quente em poucos minutos. Confere o corpo no espelho, lamenta não ter sido mais assídua nos exercícios físicos ao longo da vida. Caminha pela casa que começa a ser invadida pelos primeiros raios do dia e desfruta um pouco dessa sensação de reinício. Através das grandes janelas da sala vê o vermelho do sol nascente por trás do contorno das árvores. Todas as manhãs, isso é para ela , a maior obra de arte que se pode ter numa sala.
Sorri da garrafa de vinho da noite anterior e fica satisfeita com o hábito mantido. O vinho, o bate papo e uma música no fim de um dia, eram como uma recompensa merecida. As rolhas se acumulavam nos grandes vidros ao lado do sofá, no prato sobre a mesinha, em potes e cachepos, como recordações de cada celebração.
No silêncio do seu banho matutino, planeja alguns passos práticos do dia enquanto permite que a água quente lhe caia nas costas. Percebe joelhos e cotovelos castigados pelo rigor do inverno. Deseja que o rosto tenha menos manchas. Confere quatro fios de cabelo brancos no alto da cabeça. As rugas no canto dos olhos continuam as mesmas e ela continua não acreditando em cremes anti-sinais.
Pouca maquiagem para deixar a pele mais uniforme. Preto nos olhos para destacar o olhar. Veste-se, no escuro, como faz todos os dias. Escolhe as argolas, os sapatos altos de bico fino, uma echarpe sobre os ombros. Bolsa, pasta de papéis, celular...dá apenas 1 volta de chave na porta e chama o elevador. No espelho confere melhor a aparência e não fica insatisfeita com o resultado. Apesar de tudo, a vida havia lhe sido bem generosa. Deixa que um sorriso espontâneo lhe marque uma covinha no rosto.
No carro, gasta alguns minutos a mais na escolha de uma música especial. Acredita que a música pode imprimir um ritimo especial ao dia, não sabe bem porque, mas sente que aquele dia é um capítulo de uma história muito especial.
Todos os dias quando sai da garagem escura sente-se particularmente brindada pelo sol. Hoje ele lhe parece ainda mais divino.
Na loja de conveniência habitual do seu café da manhã, o display de livros e revistas lhe chama particular atenção. Entre todas as publicações, a que salta aos seus olhos é a última edição da revista Viagem. Veneza era o Destino do Mês. Veneza nunca tinha sido para Mariah a primeira opção na Itália. Sempre a óbvia Roma, mas hoje sem entender bem o motivo, se sente irresistívelmente atraída por Veneza.
"Sim, Veneza! Por que não?"
quarta-feira, 21 de julho de 2010

A água do mar lava algumas ruas de Paraty ! Idéia original de urbanistas portugueses que ajudaram na elaboração do projeto urbanístico da cidade. A água tem permissão para entrar e levar embora toda a sujeira das ruas. A cada nova maré a cidade tem a chance de "se limpar" novamente.
As casas de Paraty têm mais portas que janelas. Isso porque, antes de serem casas, foram lojas, armazéns, ferrarias. Hoje, este detalhe, dá uma gostosa sensação de hospitalidade.
Amyr Klink começa ou termina sempre suas viagens em Paraty.
Dona Geralda, filha de um portugues beneficiado com o sistema de sesmarias, financiou a construção da igreja da Matriz (a terceira construída, depois de duas anteriores que ficaram pequenas para a população local e foram destruídas). Em troca, teria feito duas exigências: que fosse feita uma homenagem a Nossa Senhora dos Remédios e que os índios - Guaianás - que ajudariam (não voluntariamente) na construção da igreja fossem tratados com carinho. A Santa está lá, já os índios...não encontramos nenhum que pudesse confirmar se a segunda exigência foi atendida.
A "coroa", tão benevolente com os escravos, deixou eles construíssem uma igreja para uso próprio (além das que construíam para os brancos), foi chamada de "Nossa Senhora das Dores". Os escravos acabaram caprichando mais na "sua própria igreja" e hoje é considerada a mais bonita da cidade. No teto da abóbada principal "esconderam" um abacaxi disfarçado. Como o abacaxi era o principal símbolo da família real, eles não poderiam usá-lo na igreja dos escravos. Hoje ele está lá, de cabeça para baixo, mas está.
Algumas fachadas são ornamentadas de pedras enormes amarelas trazidas de Portugal como lastro nas embarcações. Os návios eram construídos para navegarem cheios porém, quando vinham para o Brasil , viajavam vazios. Para manter a estabilidade, enchiam seus porões de pedras. Chegando aqui tinham que enfiá-las em algum lugar.
O triângulo da Maçonaria está presente nas cantoneiras de pedras nas encruzilhadas.
Em Paraty sorri mais do que chorei, mas chorei.
Tomei vinho bom.
Usei meu xale preto e minhas botas toc toc toc.
Deixei que a água entrasse e lavasse a sujeira que ainda poluía minhas ruas.
Descarreguei algumas pedras que me pesavam.
Abri minhas portas.
Entendi enfim que, para o que não há remédio, remediado está.
postado originalmente em julho 2007
sábado, 17 de julho de 2010
..."toc toc toc"...o salto das minhas botas pretas nas calçadas silenciosas. Sem saber exatamente onde íam mas seguindo a passos firmes. Ladeiras sem cansaço, ruas escuras sem medo da violência da cidade, madrugada sem sono ou fadiga. A noite saboreada numa jornada silenciosa para dentro de mim..."toc toc toc"...
O cheiro de rosas a me acarinhar por toda a caminhada me dava a confortável sensação de estar sendo cuidada.
Carregando os cacos que sobraram do nosso amor observava os caquinhos que ornamentavam as calçadas..."toc toc toc"...
Cruzei com bêbados e boêmios, desconfiei do comportamento de alguns...muitos desconfiaram do meu....nada diminuía o rítmo das minhas botas pretas..."toc toc toc"... Eu, nascendo de novo...parto dolorido...na última noite de maio. Casaco de couro, cachecol...e botas pretas ... "toc toc toc"... a me levar.
Na minha lembrança, as noites tristes sempre são frias.
Num bar quase vazio, um cantor, um violão, MPB...desejei entrar, sentar, ouvir a música com uma cerveja....minhas botas não permitiram..."toc toc toc"...
Passei por casas e lojas dormindo de portas fechadas. Ruas em repouso, desertas. Imagens do meu dia a dia num quadro diferente... luz cenográfica, silêncio teatral..."toc toc toc"...
Uma cidade carinhosa a acolher meu momento de reflexão...sem fazer alarde, sem emitir opiniões ou dar conselhos..."Toc toc toc"...
Queria apenas estar quieta. Andando. Pensando. Deixando minhas botas me levarem..."toc toc toc"...
maio 2007
O cheiro de rosas a me acarinhar por toda a caminhada me dava a confortável sensação de estar sendo cuidada.
Carregando os cacos que sobraram do nosso amor observava os caquinhos que ornamentavam as calçadas..."toc toc toc"...
Cruzei com bêbados e boêmios, desconfiei do comportamento de alguns...muitos desconfiaram do meu....nada diminuía o rítmo das minhas botas pretas..."toc toc toc"... Eu, nascendo de novo...parto dolorido...na última noite de maio. Casaco de couro, cachecol...e botas pretas ... "toc toc toc"... a me levar.
Na minha lembrança, as noites tristes sempre são frias.
Num bar quase vazio, um cantor, um violão, MPB...desejei entrar, sentar, ouvir a música com uma cerveja....minhas botas não permitiram..."toc toc toc"...
Passei por casas e lojas dormindo de portas fechadas. Ruas em repouso, desertas. Imagens do meu dia a dia num quadro diferente... luz cenográfica, silêncio teatral..."toc toc toc"...
Uma cidade carinhosa a acolher meu momento de reflexão...sem fazer alarde, sem emitir opiniões ou dar conselhos..."Toc toc toc"...
Queria apenas estar quieta. Andando. Pensando. Deixando minhas botas me levarem..."toc toc toc"...
maio 2007
Assinar:
Postagens (Atom)