
Eu nunca achei que seria mãe. Na infância nem gostava tanto de brincar de casinha. Tinha certeza que havia nascido sem o tal "instinto materno",o tal dom mágico que surge como que por um milagre em toda mulher praticamente na hora do parto.
Tenho sérias dificuldades em administrar os "porquês" e "bicos" de Maria. Nem sempre, ao final do dia, tenho a paciência necessária para recortar palavras começadas com "gue" e "gui". Eu definitivamente odeio "Cartoon Networks" e os sapatinhos da "Polly".
Não sei como explicar a ela que simplesmente, por mais incrível e inacreditável que isso possa parecer, não posso comprar tudo o que ela deseja. Eu nem sei como ela consegue desejar tudo o que ela deseja.
Não sei o que dizer quando ela vem reclamando que as suas "costas estão coçando". Sinto nestas queixas um certo ar de acusação, como se eu tivesse culpa de ter gerado um ser que pode sentir coceira nas costas.
Não consigo ficar indiferente às suas "precoces crises de adolescência" e isso torna as tais crises ainda mais freqüentes e eu ainda mais intolerante.
Tento, o tempo todo, ferozmente, resistir a tentação de resolver os seus problemas, esclarecer todas as suas dúvidas, elevar sua auto-estima, espantar seus fantasmas. Nesses momentos me sinto o ser mais impotente e incompetente do planeta.
Entenda, ainda outro dia eu era uma menina mimada e bicuda que vivia com coceira nas costas.
setembro de 2008
Tenho sérias dificuldades em administrar os "porquês" e "bicos" de Maria. Nem sempre, ao final do dia, tenho a paciência necessária para recortar palavras começadas com "gue" e "gui". Eu definitivamente odeio "Cartoon Networks" e os sapatinhos da "Polly".
Não sei como explicar a ela que simplesmente, por mais incrível e inacreditável que isso possa parecer, não posso comprar tudo o que ela deseja. Eu nem sei como ela consegue desejar tudo o que ela deseja.
Não sei o que dizer quando ela vem reclamando que as suas "costas estão coçando". Sinto nestas queixas um certo ar de acusação, como se eu tivesse culpa de ter gerado um ser que pode sentir coceira nas costas.
Não consigo ficar indiferente às suas "precoces crises de adolescência" e isso torna as tais crises ainda mais freqüentes e eu ainda mais intolerante.
Tento, o tempo todo, ferozmente, resistir a tentação de resolver os seus problemas, esclarecer todas as suas dúvidas, elevar sua auto-estima, espantar seus fantasmas. Nesses momentos me sinto o ser mais impotente e incompetente do planeta.
Entenda, ainda outro dia eu era uma menina mimada e bicuda que vivia com coceira nas costas.
setembro de 2008
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