quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Descobrindo-me poeta!

Há alguns dias um amigo me disse que o que eu faço é POESIA. Desde então não caibo em mim, toda prosa e poesia. Montada em versos, vejo cenas do meu dia como estrofes que se exibem para minha exclusiva apreciação. Tudo virou poesia desde então. Chorei poesia ao ver Maria caminhando de All Star preto em sentido ao portão da escola. Espiei poesia através da janela azul bebê. Vi poesia no capacete amarelo do operário saindo do boeiro da avenida. Pingou poesia no guarda chuva de borboletas. A poesia estava pintada em pequenas bolinhas negras na bandeija de jaboticabas da feira livre. Enquadrei poesia no Sol nascente da janela da sala de jantar. Cheirei poesia no bolinho de chuva da cozinha amarela da minha mãe. Toquei na poesia dos cachos que o cabelo da Maria pintam na minha vida. Degustei poesia no café expresso com pauzinho de canela. Suspiro poesia o tempo todo. Com paz no coração cheguei a simples conclusão que ela, a poesia, sempre esteve aqui, só não sabia que ela se chamava assim. Obrigada ao amigo: @AndeMeireles

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Sem sentido!

Hoje acordar me pareceu sem sentido. O banho quente com o sabonete verde me pareceu sem sentido. Sem sentido a echarpe que escolhi, pois nem frio faz. Não vi sentido algum em tomar o café expresso serviço pelo novo atendendente da loja de conveniência. Não vi sentido ou conveniência nisso. O caminho, hoje, não fez sentido. Não fez sentido a rua que mudou de mão e que tornou o meu caminho tão mais longo e engarrafado. Hoje, as músicas que tocaram desde cedo no rádio do carro não fizeram sentido algum. O caminho até o Largo do Socorro não fez sentido. Sempre perco meu sentido quando vou ao Largo do Socorro, aquele lugar é, por si só, sem sentido. Tentei ser educada com a recepcionista da grande empresa multinacional, onde todos têm malas de rodinha, mas ela não viu muito sentido no meu sorriso comercial. Hoje os grandes picups fizeram ainda menos sentido pra mim. A reunião, com a loira com olhos pintados de verde e mala de rodinhas, não fez o menor sentido. Também não fizeram sentido as solicitações dela que, infelizmente, terei que atender, fazendo sentido ou não. Hoje o sol não está me fazendo muito sentido. Não faz sentido o que digo hoje. A ligação do amigo, que deveria fazer sentido, hoje não fez. Hoje estou sem sentido. Ser sem sentido pode ser bom. Pode ser bom não ter sentido em não sentir.

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

O que é Poesia?

O que é poesia afinal?
...para mim...
poesia é o vestido flor da menina de trança
a fila de formigas no algo do muro caiado
o pauzinho de canela no café
a janela com floreira de violeta
o cacho da Maria desenhando o travesseiro
a meia taça de vinho tinto
o gesto de afastar uma mecha de cabelo do meu rosto
o post it colado para me lembrar do amor
a flor bordada no travesseiro
a saudade que não tem solução
a entrelinha e a reticência
a metáfora que grita
a alameda arborizada no meio da cidade
o gosto de fazer um novo amigo
o Moleskine de capa vermelha
o almoço de domingo
o saco de mexerica
o azul do papel que envolve a maçã
o fim de tarde com brisa de mar
o olhar da despedida
o seu perfume no cinto de segurança
o abraço da chegada
a dedicatória no livro de Vinícius
a menina de guarda-chuva cor de rosa
a capa da joaninha
a mesa sob a jaboticabeira
o vaso com a flor solitária
a cera escorrendo da vela branca
o relógio antigo sobre a cristaleira
o sorriso secreto
a boneca de pano
a cicatriz da chegada dela
o desenho em guache sob o vidro
beijar fazendo amor
chorar quietinho
sentir falta sem saber do que
o doce de abóbora com cravo
o vapor da panela na janela
o sal que nasce atrás dos eucaliptos
.....
e um tantinho de coisas mais!

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Vida!

porque eu simplesmente adoro que a nossa vida seja temperada com mel e pimenta.
que você me olho com olhos de desejo todas as vezes que me vê nua.
que me abrace no meio do sexo e me diga que sou a mulher da sua vida e
que é para sempre.
agora, por que um texto desses e uma xícara de café com mini-suspirinhos?
sei lá
mas Freud deve saber!

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

A insustentável leveza...

'Parece que existe no cérebro uma zona específica, que poderíamos chamar memória poética e que registra o que nos encantou, o que nos comoveu, o que dá beleza à nossa vida. Desde que Tomas conhecera Tereza, nenhuma outra mulher tinha o direito de deixar marca, por efêmera que fosse, nessa zona do cérebro dele. Tereza ocupava como déspota sua memória poética e dela varrera todos os vestígios das outras mulhres. Não era justo porque, por exemploo, a jovem com quem fizera amor no tapete durante a tempestada não era menos digna de poesia do que Tereza. "Feche os olhos, segure meus quadris, aperte-me com força!" Não podia suportar que Tomas ficasse com os olhos abertos, atentos e perscrutadores durante o amor, e que seu corpo, ligeriamente supenso acima do dela, não se colasse à sua pele. Não queria que ele a estudasse. Queria levá-lo na onda de encantamento em que só se pode entrar com os olhos fechados. Recusava-se a ficar de quatro, pois nessa posição seus corpos mal se tocavam e ele poddia observa-la a uma distância de quase cinquenta centímetros. Destestava esse distanciamento. Queria se confundir com ele. Por isso lhe afirmava obstinadamente, olhando nos seus solhos, que não tinha gozado, ainda que o taperte ficasse molhado com seu orgasmo: "Não procuro o gozo, procuro a felicidade, e o gozo sem felicidade não e gozo. " Em outras palavras, ela batia na porta de sua memória poética. Mas a porta estava fechada. Não havia lugar para ela na memória poética de Tomas. Só havia lugar para ela no tapete. ' (A Insustentável Leveza do Ser - Milan Kundera)

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Grande e muito pequena!

Não se iluda, você não me alcança. Nem eu mesma sou capaz. Não sou capaz de ser, o que sou capaz de ser. Sou mais do que acredito. Menos do que consigo. Sou grande e pequena. Mãe e filha. Não se iluda. Você não vê o horizonte de mim. Vou além daquela montanha. Sou além desse poema bobo. Sou rascunho. Imperfeita, massante, frágil, falsa. Fraude de ser. Não se iluda. Eu te engano. Eu me engano. E sigo vivendo.

terça-feira, 6 de setembro de 2011

Sentimento libertador!

Neste momento pouso na página com metáforas pobres. Não serei compreendida, nem compreenderei. Estou em tempos de silêncios, de silenciosas paisagens internas. Algumas tempestadas de mim intercaladas de momentos de estranha calmaria. Sou tardes de verão. Entre tempestades e arcos-íris. Deito-me nas minhas dúvidas. Descubro a delícia de degustar lentamente a calda doce das minhas incertezas. Colher de chá que é pra fazer a degustação durar. Esqueço no fundo do armário minhas certezas amareladas de tempo. Espio de longe e de longe já não me parecem tão certas assim. Talvez ação do tempo que castiga tudo, talvez ângulo de visão. Ou talvez seja minha alma que, tardiamente, tenha resolvido vestir a armadura da insanidade. A coragem me cai bem afinal. Levanta minha sombrancelha. De óculos escuros e echarpes posso tudo. Conquisto o mundo. Lavo a louça acumulada na pia. Sou eu no espelho? Vejo lampejos de mim. Lampejos de uma verdade que fui um dia. Mas o reflexo já mudou. Não sou mais o que era ao meu olhar. O olhar o reflexo me fez outra. Ver o reflexo me transformou. Não sou mais aquela, tampouco agora sei quem sou.