segunda-feira, 17 de dezembro de 2012


há pouco éramos poucos. éramos menos. alguns poucos e nem tão felizes. não chegávamos a ser tristes. acho que tristes nunca fomos. mas felizes? tenho minhas dúvidas.
éramos poucos e uma triste árvore de natal.
éramos mais espaços. éramos falta de outros. sentíamos falta de uma roda onde, na realidade, nunca fizemos falta alguma.
éramos alguns silêncios. éramos vários segredos. algumas mágoas e muita saudade.não éramos plenos.
sobravam frutas na mesa decorada com a antiga toalha vermelha. sobrava massa do bolinho. éramos poucos pacotes sob a grande árvore. éramos desejo de mais risadas, de mais castanhas, de mais restos de papel pela casa. sobravam horas na nossa festa.
o tempo nos trouxe harmonia de presente. nos trouxe um saco de paz. um pacote gigante de novas gargalhadas. o tempo nos presenteou com novas vidas. mágica pura.
hoje somos harmonia, perfeita harmonia. uma paz que faz barulho, paz que gargalha, que tira sarro da vida. hoje temos menos espaços. precisamos menos de outros. hoje somos nós. fazemos nós mesmos nossa roda. aprendemos a brincar sozinhos.
hoje somos nossa própria história, e temos nós tantas histórias. somos nossos próprios elos. nossos próprios filhos. hoje somos plenos de nós, nada nos falta. hoje já não sobramos em canto algum. somos prioridade para nós mesmos.
hoje somos muitos. somos muitos a espera de mais alguns. mais vidas. mais risadas. mais alegria.
hoje somos nós.

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

O tempo passa...

O tempo passa. Sábia constatação. Passa rápido. Por cima da gente, inclusive, se a gente não ficar esperto. Atropela sonhos, expectativas, esperanças, saudades, distâncias. Ele passa. Passa e leva no vácuo algumas certezas. Leva lembranças. Deixa um gosto esquisito de esquecimento.
O tempo passa. Há pouco que se possa fazer. Ele deixa marcas nas paredes, ao redor dos olhos, nas páginas amarelas, nos furos das roupas, na nata do leite.
Tenho pensado muito nisso. No tempo que passa. Eu passando com o tempo. O tempo que é tão pouco para algumas pessoas. O tempo que nos afasta. O tempo que rouba a intensidade daquele primeiro momento. Um tempo tão pequeno para um primeiro momento.
O tempo que seca a roupa na corda do varal. O tempo da música. Do beijo. Do adeus. Do esquecimento. O tempo da amiga que se foi. O tempo que não cura tudo.
Será o tempo que me assusta ou será a falta dele?
O tempo que passa e eu que não faço nada com ele. O tempo que encolhe e me assusta. Meus sonhos já não cabem dentro do tempo que tenho. Meus sonhos não encolheram com o tempo. Ilusão. Ilusão ficou grande demais para o tempo que já não tenho. Passou.

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Envelhecer

...de Ivan Angelo...a respeito do Envelhecer....

"Percebes as perdas; mas a sabedoria que vem com elas impedirá gura e te encaminhará, se fores esperto, para o humor.
Observas teu corpo, notas que já não gozas de tantos privilégios, aquela visão, a audição, a agilidade, a memório, o racicínio, o equilíbrio, o olhar interessado das moças.
Sentes dificuldade de te equilibrar sobre um pé só, para vestir as calças, por exemplo; já não dá para galgar correndo os degraus do ônibus. Paciência. Principalmente para quem vem atrás: paciência.
O humor te salva. Comparas teu corpo com o automóvel que não trocaste: os faróis perdem luminosidade, a suspensão e os amortecedores começam a socar, osso com osso, o motor faz barulhos suspeitos, a bomba de combustível perde pressão, a bateria cai e não dá aquela partida, o óleo vai ficando ralo, as cores da lateria tornam-se pálidas, aparecem manchas, riscos...
O que mais se perde é a pressa, e o perdê-la é um ganho. Ganha-se o fruir, o tempo da degustação. Uma fruta já não é só alimento, é sumo, é açucar, é sorver, como na infância.
A sombra torna-se merecimento, deixar-se estar, sem ter de forçosamente abreviar aquele desfrute. Doce, nem precisas de muito, o pouco rende, vai demorando-se no céu da boca, continua rendendo pelas artérias.´
Andar não é tanto a obrigação de chegar, é flanar. E amar já não é uma batalha, é rendição - de arma pronta, porém.
Nem tudo é perda, aprendes. Melhoram a ponderação, o juízo,  paciência, o paladar, a noção de convivência, a noção de tempo. Quanto menos tempo te resta, mais avaro o aproveitas."

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Medo


eu lembro de sentir muito medo quando era mais nova
tinha medo de errar
medo de não atingir meus objetivos
medo de aparecer demais
medo de desaparecer
de não conseguir descobrir quem eu era
medo também de descobrir quem eu era e não gostar da descoberta
hoje, andando pela faria lima, descobri que tenho poucos medos
não tenho medo da cidade que se mostra violenta na estatística
não tenho medo do motoboy suspeito que passa ao meu lado
com um skate na garupa
não tenho medo do trânsito
de chegar atrasada
de chegar cedo demais
de dizer que nao sei
de pedir para repetir a explicação
de parecer ridícula com minha capa de dez anos
caminhando, a pé, penso muito
concluo que sinto poucos medos
talvez os tenha perdido junto com as certezas
existe ligação entre medos e certezas?
talvez sim
talvez medos nasçam de certezas destruídas
quem não tem certeza de nada, não erra
quem não sabe para onde caminha, desfruta do caminhar
hoje só tenho medo do medo que não tenho.

quinta-feira, 20 de setembro de 2012


Meus desejos para você, a mais nova Flor do meu jardim: Cecília!
........
Antes de qualquer coisa quero que você seja feliz,
que todos os dias da sua vida você encontre um motivo para sorrir
e que quando quiser chorar, tenha sempre um colo amigo que te esquente.
..........
Quero que você rale o joelho e fique com a cicatriz de um momento feliz.
Quero que você chupe sorvete de casquinha e que ele pingue por baixo e te manche uma blusa nova.
Quero que você voe algo no balanço da praça.
Quero que você chore quando seu primeiro dente cair.
Quero que você tenha soluços de tanto rir.
Quero que você sinta a emoção de virar uma cambalhota.
Quero que fique tonta de tanto brincar de roda.
Quero que você pule corda até cair de cansada.
Quero que você tire sonecas vespertinas no sofá.
Quero que você coma muita gelatina colorida
Quero que você raspe a tijela da massa de bolo.
Quero que você se esconda atrás da cortina.
Quero que você sonhe em ser a Cinderela ou a Mulher Maravilha.
Quero que você suspire pelo Príncipe Encantado ou pelo Sapo.
Quero que você seja corajosa e enfrente o monstro do armário.
Quero te ouvir dizer mamãe.
Quero te ver ouvindo minhas histórias de mocinho e bandido.
Quero te ver fazendo manha.
Quero que você brinque de mangueira.
Quero que você durma no meio da cama.
Quero que você tenha todos os sonhos de criança.
Quero que você chore por uma grande paixão.
Quero que você se apaixone por um ídolo da televisão.
Quero te mostrar o Pequeno Príncipe.
Quero te falar do Tibet e de Paris.
Quero te colocar no colo e cheirar seu pescocinho.
Quero te ver dar seu primeiro passo.
Quero te ver viver todos os seus sonhos.
......
Quero estar sempre por perto!
Seja bem vinda, Cecília!
 


quarta-feira, 22 de agosto de 2012

"A Queda"...Diogo e Tito


"Tito foi meu Ricardo III. Tito foi meu sapo venenoso.
Ele tomou meu trono. Ele dominou meu reino. Depois do seu nascimento, tornei-me um fantasma que gira em torno dele."
.........
"Cheguei cedo à UTI do hospital de Pádua.
Tito estava em uma incubadora. Nada nele se movia. Um tubo pendia de uma artéria em seu pé. Outro tubo, ligado a um respirador, alargava-lhe grotescamente uma narina. Ele tinha eletrodos espalhados por todo o corpo, conectados a uma série de aparelhos. Ocasionalmente, um desses aparelhos emitia um alarme e os médicos da UTI corriam para controlá-lo. Sempre que isso ocorria, eu era tomado pelo temor de que Tito estivesse morrendo. O temor era desesperador. Era também um alento. Eu só consequia ter certeza de que Tito ainda estava vivo quando temia que ele estivesse morrendo.
Para poder morrer, Tito tinha de estar vivo."
...............
"Saber cair tem muito mais valor do que saber caminhar."
...........



quinta-feira, 16 de agosto de 2012

As piores notícias...os lindos lábios.


Há histórias de amor que já nascem fadadas a tristes fins....

Trechos que valem a pena serem guardados:

"A esperança é o pior dos venenos."

"O que acontece é que, quando estou com você, eu me perdôo por todas as lutas que a vida venceu por pontos, e me esqueço completamente que a gente como eu, no fim, acaba saindo mais cedo de bares, de brigas e de amores para não pagar a conta."

"Eu ia embora. O rebuliço das caixas pelos cômodos, a falta de bebidas no armário da cozinha, um lençol improvisado como trouxa de roupa no quarto, as marcas mais claras na paree de um ou outro quadro ausente, tudo alardeava a notícia da minha partida. E a gente falando das diversas poesias e miudezas do mundo. Até mesmo de um tatu chamado Zacarias."

"Embora estivesse morrendo de vontade, não pedi que abrisse o vestido sóbrio, para que minha sede pudesse despedir-se das fontes de seu corpo. Sabia que não me saciaria."

"Talvez tivesse me abaixado para afagar uma despedida  em sua placa carrugada. (Imagine: entre as coisas que me fazem falta na vida , existe ate um tatu.)"


terça-feira, 14 de agosto de 2012

A volta com amores!


"Tudo o que é bom, tudo o  que é ruim, também termina por acabar."


"A esperança é o pior dos venenos, seu Cauby. O senhor não concorda?"


Um pequeno príncipe que busca sentido onde só há sentimento....

Ando à volta com amores. Amores de Gabriela e Nacib. De Mundinho e Gerusa. Amores correspondidos e amores assassinos.
Amores de Cauby e Lavínia que, ainda não sei, mas me cheira a tragédia.
Ando a volta com amores...mas nenhum que me tire o ar.

quinta-feira, 19 de julho de 2012

Carson McCullers - O Coração é um Caçador Solitário


Foi num sábado, num dos Saraus do Mae. A nova amiga, abriu uma grande estante com portas de vidro e, do meio de todas as lombadas, puxou a desse livro.
Veio para casa comigo, cuidadosamente ajeitado entre os outros. E desde então, ando com ele.
Edição terrível. Frases muito juntinhas embananam minhas vistas já não tão jovens. Mas sigo corajosa. Tentando desvendar a história dos dois mudos.
..................
"Na cidade havia dois mudos..."

"M.K. Era o que escreveria em tudo quando tivesse dezessete anos e fosse bastante famosa. Voltaria para casa num Packard vermelho e branco com suas iniciais nas portas. Mandaria por M.K. , em vermelho, em seus lenços e roupa de baixo. Talvez se tornasse uma grande inventora. Inventaria radiozinhos  minúsculos, do tamanho de um grão de ervilha, que as pessoas levariam consigo enfiados no ouvido. E também máquinas de voar que as pessoas amarrariam às costas como mochilas e sairiam zunindo pelo mundo todo. Depois disso seria a primeira a fazer um grande túnil varando o mundo até a China, e as pessoas poderiam descer em grandes balões. Essas seriam as primeiras coisas que inventaria. Já estavam planejadas."

"A descida era a parte mais difícil de qualquer subida."

"Fora então que ela compreendera aquilo sobre o pai. Mas não era como se soubesse de um fato novo - compreendera-o o tempo todo, de todos os modos, menos com o cérebro. Agora, simplesmente, sabia, de repente, que conhecia o pai. Ele era solitário e estava velho. Como nenhum dos filhos se dirigia a ele para nada, e como ele não ganhava muito dinhiro, sentia-se separado da família. E em sua solidão desejava ficar perto de um dos filhos - mas eles viviam sempre tão ocupados o tempo todo que não sabiam disso. Ele sentia que não servia muito para ninguém."

"A tarde chegava ao fim, e o sol lançava longos e enviesados raios pela janela. Se levasse duas horas vestindo-se para a festa, já era tempo de começar. Quando pensava em vestir aquelas finas roupas, não podia simplesmente ficar sentada esperando. Muito lentamente, dirigiu-se ao banheiro e despiu o velho short, a camisa e abriu a água. Esfregou as partes ásperas dos calcanhares, os joelhos,  e especialmente os cotovelos. Fez o banho durar um longo tempo."

"Está vendo, Sr. Singer? Tenho  essa música dentro de mim o tempo todo. Preciso ser uma música. Talvez não saiba de nada agora, mas vou saber quando tiver vinte anos. Está vendo, Sr. Singer? Quero viajar a um país estrangeiro, onde haja neve."


quinta-feira, 5 de julho de 2012

Somos todas mulheres!


Cecília nasceu no mato. Lavou roupa no riacho.
Vive para as suas meninas. Tereza, Ana e Maria.
Lavou todos os pratos de todas as nossas refeições.
Hoje, descansa seus longos cabelos brancos, escondidos em lenços escuros.
Tem a serenidade de uma centenária, marcada nas muitas rugas do rosto.

Maria nasceu bonita. Cabelos negros e olhos de jaboticaba.
Lembra da boneca que a prima roubou e do navio que a trouxe pra cá.
Vive para as suas meninas. Cynthia, Patricia e Carina.
Maria é santa. Espírito de LUZ.
Tem a luz que guia e acalma a todos, o tempo todo.

Patricia nasceu em dia de festa.
Grande, linda e já com os lindos longos e negros cabelos.
Estrela num palco de meninas.
Sempre estrela. Sempre brilhando.
Patricia tem a luz de Maria.
Vive para sua menina: Isabela.

Isabela nasceu em dia de chuva.
A surpresa mais desejada.
Grandes olhos e um amor inédito.
Isabela se vestiu de princesa.
Trouxe a Paz a nossa família.
Agora, Isabela nos traz Cecília.

E, de novo, nossa história continua.
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Um texto de outra Cecília!

Nem tudo é fácil

É difícil fazer alguém feliz, assim como é fácil fazer triste.
É difícil dizer eu te amo, assim como é fácil não dizer nada
É difícil valorizar um amor, assim como é fácil perdê-lo para sempre.
É difícil agradecer pelo dia de hoje, assim como é fácil viver mais um dia.
É difícil enxergar o que a vida traz de bom, assim como é fácil fechar os olhos e atravessar a rua.
É difícil se convencer de que se é feliz, assim como é fácil achar que sempre falta algo.
É difícil fazer alguém sorrir, assim como é fácil fazer chorar.
É difícil colocar-se no lugar de alguém, assim como é fácil olhar para o próprio umbigo.
Se você errou, peça desculpas...
É difícil pedir perdão? Mas quem disse que é fácil ser perdoado?
Se alguém errou com você, perdoa-o...
É difícil perdoar? Mas quem disse que é fácil se arrepender?
Se você sente algo, diga...
É difícil se abrir? Mas quem disse que é fácil encontrar
alguém que queira escutar?
Se alguém reclama de você, ouça...
É difícil ouvir certas coisas? Mas quem disse que é fácil ouvir você?
Se alguém te ama, ame-o...
É difícil entregar-se? Mas quem disse que é fácil ser feliz?
Nem tudo é fácil na vida...Mas, com certeza, nada é impossível
Precisamos acreditar, ter fé e lutar
para que não apenas sonhemos, Mas também tornemos todos esses desejos,
realidade!!!

Cecília Meireles

quinta-feira, 28 de junho de 2012

18 lindos anos!


Era um dia como o de hoje. Seria mais um dia entre todos os outros se você não o tivesse escolhido para chegar. Não deu muito aviso. Estreou.

Aconteceram algumas coisas desde então. Vivemos na mesma casa. Andamos nas mesmas ruas. Temos os mesmos amigos. Nesses poucos anos sofremos algumas perdas.... Choramos algumas tristezas e acumulamos tantas alegrias. Você é nossa luz. Sorrindo, de laço delicado na cabeça.

Não vejo medo em seus olhos grandes. Tenho inveja da sua coragem. A coragem dos inocentes. Suas formas se transformam como se transformaram todos os nossos planos pra você. Passamos os últimos dias revendo os sonhos que sonhamos pra você. Passamos os últimos dias passando à limpo nossos projetos.

Mas quão ingênuos fomos querendo sonhar seus sonhos. Mas quão ambiciosos fomos querendo sorrir seus sorrisos. Afaguei seus cabelos. Enxuguei suas lágrimas e senti uma dor aguda por sua tristeza. Sua dor doeu mais em mim do que qualquer dor que eu tenha sentido na minha vida.

Agora toda tristeza passou. Uma luz divina acendeu-se e clareou todas as nossas dúvidas. Um afago carinhoso envolveu nossos medos e transformou todos os nossos temores em lindos sorrisos de criança. Irresistíveis gargalhadas infantis.

Você sempre foi alegria e certezas para nós...sempre. Não há porque ser diferente agora. Não há.

Agora você carrega mais um pedaço do nosso futuro. Um pedaço com quase um quilo e pouco mais de 20 cm. Um pedaço tão pequeno mas que já preenche um espaço tão importante em nós. A forma do futuro já se vê na sua silhueta, tão mudada nos últimos dias. De nossa menina, num piscar de olhos, você se transforma em nossa "mamãezinha". Tão linda. Quase uma boneca.

Ainda não sabemos se é Cecília. Certamente não será Cecília Flor como eu tanto desejei. Excentricidades de uma tia avó meio louca. Talvez seja Theo. Que venha Deus. Que nos abençoe como você nos abençoou.

sexta-feira, 15 de junho de 2012

mais valter hugo mae

do valter músico.

"Não vou ser o teu namorado
Eu não vou casar-me contigo
Não sei se queres esperar-me
Para além da morte talvez
Quando tudo estiver acabado
E for hora de recomeçar
E arriscar
Saberei inventar um amor eterno
De ser teu para sempre

Até lá sonha comigo
Como alguém no futuro

Acho que vou ser castigado
Eu sei, por ser tão ausente
Mas vale mais um amor inventado
Se o for eternamente

Ah, sonha comigo
Como alguém no futuro

E seremos apenas aliados
E sem tempo
No amor para sempre

Não vou ser o teu namorado
Eu não vou casar-me contigo

Mas suspeito que queiras esperar-me
Para além da morte talvez
Até lá sonha comigo
Como alguém no futuro"

quinta-feira, 14 de junho de 2012

Vida real!


Acho que eu conheço muita gente. Pelo menos é essa a sensação que eu tenho. Tem sempre algo acontecendo com gente que anda a minha volta.

Gente nascendo, gente morrendo. Gente conquistando, gente desistindo. Gente roendo unha. Gente cortando cabelo. Gente soltando pum. Gente se graduando. Gente tendo câncer. Gente fazendo brigadeiro. Gente casando. Gente separando. Gente indo. Gente voltando. Gente sorrindo e gente chorando. Muita gente, sempre. Muito barulho, sempre.

Chego a conclusão que a ação está muito mais nas pessoas que me cercam do que, propriamente, na minha cena. Talvez eu seja uma personagem de apoio, tão somente uma coadjuvante.

Mais coisa acontece agora! Sabe aquele tipo de coisa que muda a vida? Pois é, esse tipo mesmo.

Todas as vezes em que a vida me coloca a frente de um desafio, eu me sinto totalmente despreparada. Já devo ter dito isso aqui umas 136 vezes. O que prova o quanto eu sou despreparada para os desafios da vida real.

Sou despreparada para dificuldades. Tenho problemas com contratempos. Sou péssima em administrar a adversidade. Demoro a entender que a vida nada mais é que uma feliz sequência de adversidades.

Há alguns anos eu perdia a paz e o ar com a sensação de impotência. Com  a impressão de que nem tudo estava sob meu controle. Os anos e talvez as dificuldades me ensinaram a respirar melhor. Hoje sou uma melhor equilibrista de pratos. Ainda deixo alguns caírem, mas os cacos já não me incomodam da mesma forma. Aprendi a acreditar que tem sempre alguém, que sabe mais que eu, e que, muito provavelmente, saiba o que está fazendo. Alguém que talvez tenha um plano maluco e inacreditável para esse caos que se chama "vida". Aprendi que isso se chama FÉ.

Hoje, ela que nasceu da adversidade, há tão poucos anos, precocemente se vê a frente de uma decisão tão dura, tão cruel e solitária. E eu, impotente, só posso olhar de longe.

Meu desejo hoje, seria te colocar no colo. Te deixar chupar o dedo e costurar seu pilili, pensativa. Queria hoje poder ver em seus olhos grandes, a paz que eu via nesses seus momentos de descanso. Mas não posso. Hoje, nesses mesmos olhos, vejo medo, aflição e uma descrença sem fim.

terça-feira, 12 de junho de 2012

recomeços...parte 2


Mas fulana, isso não deveria ser um post sobre "recomeços"?
Que raio faz um orelhão ilustrando o texto?
Tá, eu explico....

Ulisses, de James Joyce, é um livro que eu namoro de longe. Algo como aquele restaurante ultra fino que você não entra não necessariamente por falta de dinheiro, mas talvez por achar que não esteja pronto para aquele ambiente. Mais ou menos isso. Tenho Ulisses a uma distância segura.

Há algumas semanas li que a Companhia das Letras estava relançando Ulisses numa edição popular. Óbvio, popular no preço, não na obra. A obra continua sendo..."a obra". Em comemoração ao lançamento, um mini curso de 2 dias com Caetano Galindo, tradutor dessa última edição. Planejei colocar meus óculos vermelhos, fazer pose de intelectual (que aliás faço muito bem) e me embrenhar no meio da platéia. Talvez ninguém notasse a minha presença ali. Praticamente uma intrusa. Fui.

O mini curso começou ontem. Inacreditavelmente Caetano fala minha língua. É simples e muito didático ao tentar passar para a pequena platéia um cenário geral da obra de 1100 páginas. Estou mais apaixonada que nunca e agora talvez tenha coragem de um olhar mais demorado...uma assédio mais próximo. Talvez, eu digo apenas talvez, eu encare Ulisses desta vez.

Bom, mas afinal o que tem a ver o tal orelhão pintado da foto com Ulisses e com recomeços?

Ontem, foi um dia surreal, uma correria do cão a tarde. Cheguei em casa em cima da hora e previa ir de ônibus/metrô para a Paulista. Se eu tivesse leitores e eles fossem leitores desavisados (sempre quis escrever isso "leitores desavisados") eles não entenderiam porque achar estranho ir de ônibus/metrô para a Paulista. Mas se eles me conhecessem, entenderiam.

Cheguei correndo, esbaforida de uma tarde incrível, de jaqueta preta e cachecol rosa. Larguei o carro e lá fui eu, de botas cano alto, de ônibus para a Paulista. Sim, a Paulista.
A Paulista sempre foi um cenário importante para mim. Algumas pessoas gostam do Itaim, outras da Liberdade, algumas da Vila Mariana. Eu mesma tenho quedinha grande pela Vila Madalena. Mas, cá entre nós, é na Paulista que as coisas acontecem.

E lá estava eu. Toda "pimpona" como diria uma nova amiga já muito querida. Caminhando nas calçadas da Paulista, iluminada por aquela incrível luz amarela, com passos seguros e um sorriso meio idiota no rosto. Eu quis registrar isso hoje, pois tenho certeza que daqui a alguns dias isso vai parecer uma bobagem sem fim. Mas ontem, isso teve uma importância ímpar nesse meu recomeço.

Ontem, eu era uma adolescente tardia. De botas de cano alto (eu nunca tinha tido botas de cano alto), andando sozinha (de ônibus) pela Paulista. Me aventurando num mundo que sempre amei (a literatura) mas que nunca foi meu. A sensação do dia de ontem é algo que quero guardar pra sempre.

Por que o orelhão afinal?
Há alguns dias conversando com um amigo, que mora há alguns anos nos EUA, acabamos ficando na dúvida quanto a configuração atual dos orelhões de São Paulo. Ele, ausente da cidade há muitos anos, lembra-se de um orelhão amarelo "marca texto". Eu lembrava de algo azul. Ontem, na Paulista, me deparei com esse. Obvio, talvez seja uma versão moderninha que fizeram para a Paulista (não acredito que os orelhões de Barueri tenham essa configuração). Mas enfim, mostrou como eu vivi fora do mundo nos últimos anos.

O orelhão foi a minha porta de entrada para esse mundo onde as coisas acontecem...

segunda-feira, 11 de junho de 2012

de valter hugo mae (assim mesmo, em minúscula)

Esse é o homem!

essa é a obra!
O que a obra provoca.
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De tempos em tempos cai no colo da gente uma obra, um autor, um personagem....há pouco tempo me caiu no colo tudo isso junto.
Ele surgiu, a princípio, como uma opção desconhecida no Nosso Clube de Leitura. Talvez pela concorrência fraca dos demais títulos, acabou sendo o escolhido. O livro, àquela altura, era "a máquina de fazer espanhóis" de um autor, até então, desconhecido para nós.
Mas que escritorzinho mais atrevido. Não respeita as regras de pontuação, vejam só. Cadê as maiúsculas do texto, mas que absurdo.
Como tudo que corre o risco de transgredir, a obra transcendeu. Enfeitiçou. Essa é a palavra. Fiquei enfeitiçada.
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Numa sentada, como dizem, lá se foi "a máquina de fazer espanhóis". Tão linda, tão real, tão melancólica e suave ao mesmo tempo. Teve o poder de me fazer gargalhar em risos e choro.
Apos a leitura, a surpresa maior. O autor tinha a minha idade. Como assim? Uma pessoa de 40 anos escrevendo as dúvidas, tristezas e saudades de um velho de 80??? Como assim???
Um tempo depois, num encontro na Livraria da Vila, ele explicou que tem nele todas as perguntas de um homem de 80 anos. Só ainda não tem a necessidade urgente de respondê-las.
Após o encontro do grupo de leitura, ficou a angustiante sensação de quero mais. Queríamos mais. Entre trancos e barrancos de agendas, conseguimos encontrar um tempo nas manhãs dos nossos sábados e lá fomos nos, sentindo-nos meio extra terrestres, lançadas aos nossos "Saraus valter hugo mae". A obra agora, que tornar-se-ia nossa Bíblia, seria "O filho de Mil Homens".
Que delícia de encontros. Com valter. Com a obra. Com as outras. Com a gente mesma!
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Abaixo alguns dos trechos dos tantos que nos arrancaram suspiros durante a leitura.
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"Pra dentro do homem o homem caía"
"Queria dizer meu filho, como se a partir da pronúncia de tais palavras pudesse criar alguém."
"e dizia que os amores lhe tinham faltado, mas que os amores não destruíam o futuro."
"Pensava que quando se sonha tão grande a realidade aprende."
"A natureza, quieta a ser só inteligente e quieta, não disse nada, nem o Crisóstomo esperaria ouvir uma voz. A esperança era uma coisa muda e feita para ser um pouco secreta."
"Amar era feito para ser uma demasia e uma maravilha"
"Quem tem menos medo de sofrer, tem maiores possibilidades de ser feliz."
"O homem que chegou aos quarente anos sorriu, e aquele sorriso já não era o mesmo do dia anterior. Já não era como nenhum outro do passado. Era o dobro de um sorriso."
"Mais as árvores, que ficavam quietas sem fazerem nada, só o barulho no inverno e a fruta no verão. Sem medo. As árvores mostravam apenas a espantosa paciência."
"Não era mulher de reclamar grandes atenções, e por isso não retinha nada de especial. Era como aproveitar o amor possível. O amor dos infelizes."
"Sentia que, se o filho vingasse, a sua vida valera a pena. Curava-se da tristeza e prosseguia no insondável que os filhos são. Os filhos, dizia, levam dentro famílias inteiras."
"A vida fazia-se à revelia da felicidade."
"A Isaura caminhou a sentir-se assim, perplexa e vazia, como se não fosse ninguém, apenas encantada percepção do que há no mundo."
"Era uma mulher carregada de ausências e silêncios. Para dentro da Isaura era um sem fim e pouco do que continha lhe servia para a felicidade. Para dentro da Isaura a Isaura caía."
"O passado não corre. O doutor pensava o contrário. Pensava que o passado tinha pernas longas e corria, sim, e muito, como um obstinado a marcar a sua presença, a sua herança. O passado é uma herança de que não se pode abdicar."
"Ensinava-lhe que era uma pena a falta de leitura não se converter numa doença, algo como um mal que pusesse os preguiçosos a morrer. Imaginava que um não leitor ia ao médico e o médico o observava e dizia: você tem o colesterol a matá-lo, se continuar assim não se salva. E o médico perguntava: tem abusado dos fritos, dos ovos, você tem lido o suficiente. O paciente respondia:não, senhor doutor, há quase um ano que não leio um livro, não gosto muito e dá-me preguiça. Então, o médico acrescentava: ah, fique pois sabendo que você ou lê urgentemente um bom romance, ou então vemo-nos no seu funeral dentro de poucas semanas. O caixão fechava-se como um livro. O Camilo ria-se. Perguntava o que era o colesteral. e o velho Alfredo dizia-lhe ser uma coisa de adulto que o esperaria se não lesse livros e ficasse burro."
"Ser o que se pode é a felicidade."
"Vinha do hospital. Talvez pensasse que a vida era curta. Demasiado breve para tanto procurar. Melhor seria se aceitasse o que havia como bastante. A felicidade podia definir-se assim. O bastante."
"Ela perguntou: o boneco tem nome. Ele respondeu: nao. Ela disse: que sorte, assim não precisa de ser ninguém. Quem não é ninguém não lhe falta nada. Nem lhe falta o amor, nem espera por nada."
"Pode não ser mentiras, mas apenas uma maneira diferente de acreditar."
"As pessoas eram assim mesmo, feitas de imprudências. Olhe, dizia a Rosinha, quem sabe se a imprudência é a felicidade."
"Achava que tinha um filho que era um certo deficiente do amor. Padecia de uma loucura dos sentimentos. Dizia por imprudência o que não tinha de dizer, não devia sequer acreditar naquilo."
"Se não esperarmos nada, dizia ele, tudo quanto existe é já abundância."
"Crisóstomo então levantou-se, atravessou o quarto, saiu, foi ver o Camilo deitado e beijá-lo para dormir e disse-lhe: nunca limites o amor, filho, nunca por preconceito algum limites o amor. O miúdo perguntou: porque dizes isso, pai. O pescador respondeu: porque é o único modo de também tu, um dia, te sentires o dobro do que és."
"Assim se ia calando, encostando sempre as dores aos móveis, frequentemente permanecendo apenas deitado, esperando."
"Mas quando se soube, estava lá, metida numa caixa, arrumada de flores e perfumes para fazer de conta que a morte era uma coisa bonita."
"Elevou as mãos num abraço e não contou mais pelos dedos se seria demasiado velha para aquela alegria esquisita, para aquele compromisso grande, para a abundância imposta por amar-se uma filha. Era necessária uma abundância de tudo, matéria, espírito e idade, para regressar a tempo de educar alguém. Não quis contar, nem pelos dedos nem por alto, o quanto arriscava com aquele sentimento, o quanto se vulnerabilizava, talvez tola, por uma esprança nova de voltar a ser mãe."
"Ela nunca fora amiga de ninguém. Vivera encurralada entre os pais, o gato, as hortaliças e o amor dos infelizes."

quarta-feira, 30 de maio de 2012

Com Amor...da Idade da Razão


Sonhos de infância traídos? Baús de tesouros secretos enterrados na terra do quintal. Sempre mais seguros. Sonhos soltos por aí podem, tragicamente, tornarem-se frustrações, fardos pesados demais para serem carregados em maletas de notebooks compactos.

Hoje sou uma adulta chata que usa saltos, toma café, usa guarda chupa preto e adora brincar de quem consegue ficar quieto mais tempo. Se sou feliz? Sou. Se poderia ser mais feliz? Talvez.

Os sonhos de infância ficariam mais seguros em caixas forte. Protegidos da responsabilidade. Protegidos de um futuro cinza e com música ambiente.

Uma tábua de mandamentos que deveríamos seguir à risca:

- Nunca ter guarda chuva preto.
- Não ter duas canecas iguais.
- Escrever sempre com lápis de cor.
- Usar sempre batom vermelho com sabor de morango.
- Adotar meias Dancing Days para todas as ocasiões.
- Dançar em frente ao espelho, pelo menos, três vezes ao dia.
- Escova de cabelo é microfone; blusa cacharrel é cabelão.
- Nunca desistir de encontrar o príncipe encantado.
- Ser feliz para sempre, sempre.
- Morar num castelo encantado.
- Usar capa de chuva colorida, mesmo em dias de sol.
- Não deixar de testar o amor eterno nas pétalas das flores.
- Pisar em todas as poças dágua que cruzarem meu caminho.
- Levar todos os sonhos na cestinha da bicicleta.
- Nunca duvidar do poder da bicicleta me levar a outros mundos.
- Não esquecer o mundo que se vê do topo das árvores.

E...o mais importante...não esquecer que, estar perdido, pode ser uma grande aventura.

A partida

Alguns filmes, em alguns momentos de vida, falam com a gente. Falam, gritam ou sussurram...transmitem mensagens tão simples. Muitas vezes mensagens secretas.
Esse é um desses filmes!

terça-feira, 29 de maio de 2012

Complexo de Pornoy


"Era minha mãe que era capaz de fazer qualquer coisa; ela própria tinha de reconhecer que talvez fosse mesmo boa demais. E como um menino com a minha inteligência, com meus poderes de observação, poderia duvidar dessa avaliação? Ela sabia fazer, por exemplo, gelatina com fatias de pêssego suspensas dentro, pêssegos que simplesmente flutuavam, desafiando a lei da gravidade." (Philip Roth - Complexo de Portnoy)
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"Eu, por mim, jamais teria chegado perto daquela piscina, nem que me pagassem - é um viveiro de poliomielite e meningite, para não falar em doenças de pele, do couro cabeludo e do cu - ; dizem até que um garoto de Weequahic uma vez pisou no lava-pés entre o vestiário e a piscina e saio do outro lado sem as unhas dos pés. E no entanto é lá que a gente encontra garotas que trepam. Tinha que ser lá, não é? É justo lá que a gente acha o tipo de shikse que Topa Tudo! Assim, é preciso correr o risco de pegar poliomielite na piscina, gangrena no lava-pés, ptomaína no cachorro-quente e elefantíase no sabonete e nas toalhas para talvez conseguir comer alguém" (Phillip Roth - Complexo de POrtnoy)

Paraíso das Cachoeiras


Travada. Não consigo vomitar uma linha se quer a respeito desse momento tão importante da minha vida. Sentimentos e pensamentos tantos e tão variados que é bem possível que esteja tudo entalado na garganta a ponto de me sufocar.

Vivi a vida com os pés fincados no chão a espera de um futuro prometido e planejado que, simplesmente, não aconteceu. Em algum ponto do caminho, em alguma encruzilhada traiçoeira tomei uma decisão errada e me perdi do meu futuro glamouroso.

Hoje, caminhando num parque que não foi feito pra mim, finjo ser quem eu não sou. Muito provavelmente, nunca serei. Deixo que a música dê o rítimo da minha caminhada...bom se pudesse que uma música desse o tom da minha vida e que sobrassem, pra mim, menos decisões a serem tomadas.

"Não há certezas, só oportunidades" ouvi há poucos dias num dos meus filmes prediletos - V de Vingança. Ideais escondidos atrás de uma máscara. Eu sou uma máscara. As pessoas me acham grande demais, eu me acho pequena demais.

Uma vida toda traçando planos a longo prazo, mas vivendo de prazos curtos, de emergências, de situações sem saída. Tão cansada. Tão desanimada. Pode ser apenas um dia ruim, mas eu que sempre fui tão otimista, sempre com mensagens tão otimistas a pessoas tão menos otimistas que eu, hoje desanimo.

Quero me livrar de pesos, de expectativas frustradas, de aventuras instântaneas. Quero um milhão de balões que me leve para viver no Paraíso das Cachoeiras.

quinta-feira, 24 de maio de 2012

Uma despedida feliz!

É sempre mais fácil narrar as histórias depois que elas aconteceram. Mais fácil entender a dinâmica dos fatos, os motivos dos personagens, algumas ações desencontradas passam a fazer sentido após a revelação do grande mistério do final.

Hoje, vivo uma despedida. Quero escrever o texto enquanto a despedida acontece. É uma despedida de um dia inteiro. Uma despedida que começou a cerca de dois meses.

Aos poucos vou me despedindo da mesa azul que suportou meu notebook e tantos dos meus devaneios literários. Despeço-se dos três grandes armários de aço e suas seis imponentes portas. Sempre fechadas, sempre trancadas e sempre me observando. O pequeno arquivo de aço encostadinho tímido no canto da sala. Sempre quieto, quase vazio e também trancado.

Deixo hoje aqui nessa sala ampla de carpete cinza muitas boas lembranças. Aprendizado importante na minha vida. Tolerância, compreensão, paciência e dedicação.

Despeço-me silenciosamente da janela que me fez companhia durante esses anos. Uma janela de paisagem entristecida. Muitas casas, crianças, cachorros e vendedores ambulantes. Sentirei falta de cada janela.

Foi uma época difícil da vida fácil que vive. A mais difícil de todas. Muitas vezes, as paredes brancas da sala solitária, acolheram algumas lágrimas silenciosas minhas e souberam guardar segredo de alguns momentos de desesperança. Tudo fica aqui, guardado. E eu vou....embora.

Parto, agora livre de medos, para o futuro. Que não sei exatamente qual será. Mas sei que será.
Como li há poucos dias num dos meus favoritos filmes..."não há certezas, só oportunidades".


sexta-feira, 11 de maio de 2012

"No fim escolhi os nomes que eu continuava gostando depois de repetir cem vezes. É um teste infalível. Você começa a repetir uma coisa cem vezes e se continuar gostando, é porque é legal. Isso não serve só pros nomes, mas para qualquer coisa, para a comida ou para as pessoas."
(Festa no Covil - Juan Pablo Villalobos)

terça-feira, 8 de maio de 2012

"- E não te faz falta nada? - perguntei.
- Nada que seja impossível. - Quanto a ti, estás ai molhando a cabeça, acrescentou, acariciando-me como a uma criança, passando-me novamente a mão sobre os cabelos -, inveja as folhas e a erva, porque são molhadas pela chuva, gostaria de ser a erva, a folhagem, a chuva. E eu apenas me alegro com elas, como me alegro com tudo o que é belo, jovem e feliz no mundo.
- E não lamentas nada do que passou? - continuei a perguntar, percebendo em meu coração um sentimento cada vez mais penoso.
Ficou pensativo e tornou-se a calar-se. Vi que procurava responder com toda franqueza.
- Não! - respondeu ele, lacônico."
(Felicidade Conjugal - Tostoi)

domingo, 15 de abril de 2012

"A gente envelhece assim, pedaço por pedaço. E então, de repente, sua alma envelhece: mesmo sendo o corpo efêmero e mortal, a alma ainda é movida por desejos e recordações, ainda procura alegria. E quanto também desaparece esse desejo de alegria, só restam as recordações e a inutilidade de todas as coisas; nesse estágio, estamos irremediavelmente velhos. Um dia você acorda e esfrega os olhos e não sabe mais por que acordou. Já sabe exatamente o que o dia apresentará a ses olhos: a primavera ou o inverno, os cenários habituais, as condições atmosféricas, a ordem dos fatos. Nada de surpreendente pode acontecer: não o surpreendem nem sequer os fatos inesperados, insólitos ou horripilantes, porque você conhece todas as probabilidades, já previu tudo e não espera mais nada, nem para o bem nem para o mal...e esta é a verdadeira velhice." (Sandor Marai - As brasas)

segunda-feira, 9 de abril de 2012

"a minha mãe deixava de falar comigo e com o aldegundes, porque lhe saíam coisas de mulher boca fora, e barafustar, como fazia, era encher os ouvidos dos homens com ignorâncias perigosas. uma mulher é ser de pouca fala, como se quer, parideira e calada, explicava o meu pai, ajeitada nos atributos, procriadora, cuidadosa com as crianças e calada para não estragar os filhos com os seus erros."
(valter hugo mãe em "remorso de baltazar serapião")

quarta-feira, 4 de abril de 2012

A morte de Ivan Ilitch...e de todos nós!

"O exemplo do silogismo que aprendera no compêncio de lógica de Kiesewetter - Caio é um homem, os homens são mortais, logo Caio é mortal - sempre lhe parecera exato em relação a Caio, jamais em relação a ele. Que Caio, o homem abstrato, fosse mortal, era perfeitamente certo; ele, porém, não era Caio, não era um homem abstrato, era um ser completa e absolutamente distinto de tosod os demais. Ele fora o pequeno Vania, com sua mamãe e seu papai, com Mitia e Vológida, com os brinquedos, o cocheiro, a ama depois com Katienka e com todas as alegrias, tristezas e entusiasmos da infância, da adolescência e da mocidade. Porventura conheceu Caio o cheiro da pequena bola de couro listrado de que Vania tanto gostava? Por acaso Caio beijava a mão da mãe como Vania? Era para Caio que a seda do vestida da mãe fazia aquele frufru? Fora Caio quem protestara, na escola, por causa dos pastéis? Tinha Caio amado como Vania? Seria Caio capaz de presidir, como ele, uma audiência?
Caio é de fato mortal e, portanto, é justo que morra, mas quanto a mim, o pequeno Vania, Ivan Ilitch, com todos os meus sentimentos e minhas idéias, o caso é inteiramente outro. É impossível que eu tenha de morrer. Seria demasiado horrível."

quinta-feira, 29 de março de 2012

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"Há tanto tempo que eu te amo"
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Numa noite insone, recomeços me assombram. Tenho o mau traço de não terminar o que começo. Coleciono, durante a história da minha vida, muitos inícios sem finais. Mas agora, recomeços me assombram. Gritam na minha consciência. Não permitem que eu fique indiferente. Me chamam, gritam por mim...Socorro. Estamos aqui te esperando.
Tenho mais medos que coragem. Tenho mais dúvidas que certezas. Acho que, enfim, aprendi que isso é a vida real, um punhadinho de dúvidas nos cutucando o tempo todo, igual etiqueta de blusa.

sábado, 24 de março de 2012

Uma lágrima no diário!

Em 28 de março de 1941, Virginia Woolf encheu os bolsos de pedras e entrou no rio Ouse. O marido, Leonard Woolf, era obsessivamente meticuloso, e manteve na vida adulta um diário no qual registrava todos os dias as refeições e a quilometragem do carro. Aparentemente, não houve nenhuma diferença no dia em que sua mulher se suicidou: ele registrou a quilometragem do carro. Mas, diz sua biógrafa Victoria Glendinning, a página dessa data está borrada, com 'uma mancha amarela pardacenta que foi esfregada ou enxugada. Podia ser chá, café ou lágrimas. É o único borrão em todos os anos de um diário impecável.' (Como funciona a ficção - James Wood)

quarta-feira, 21 de março de 2012

Medianeras
Buenos Aires na Era do Amor Virtual
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Às vezes a gente pega um filme. Às vezes um filme pega a gente. Meus melhores momentos com eles são sempre nas minhas madrugadas solitárias.
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Na minha família sou referência em matéria de filme. Basta dizer que gostei, para que todos coloquem na lista dos filmes que NUNCA IRÃO VER. Me divirto com isso e acirro a cada dia esse meu gosto considerado "Excêntrico" pelo meu grupo.
Paraíso a Oeste
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Às vezes, muitas vezes, a gente se sente perdido nos caminhos. Encontra becos sem saída, se sente perseguido, perde o casaco, conta com a solidariedade de estranhos, toma chuva e come restos. Às vezes a gente tem que correr, fugir, de tudo e de si mesmo a procura de "Mágica".
Um dia, depois de tanto correr, a gente descobre que a mágica, aquela em qual a gente acreditava, na verdade não existe...mas, de qualquer forma, guarda a varinha mágica e segue caminhando em direção à Torre.

segunda-feira, 19 de março de 2012

UM DIA
(DAVID NICHOLLS)
Uma data específica na vida de um casal de amigos...por vinte anos consecutivos.
Amores, família, tragédias pessoais, encontros e desencontros.
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LIBERDADE
(JONATHAN FRANZEN)
Um casal de amigos, um melhor amigo. Filhos, amantes.
Amores, família, tragédias pessoais, encontros e desencontros.
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A SOLIDÃO DOS NÚMEROS PRIMOS
(PAOLO GIORDANO)
Um casal de amigos.
Amores, tragédias pessoas marcando vidas. Encontros e desencontros.
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Os últimos 15 dias foram produtivos em matéria de leitura e de tragédias pessoais.

sexta-feira, 16 de março de 2012

Pé pra cima

tinha um bueiro no meio do (meu) caminho, no meio do (meu) caminho tinha um bueiro. um bueirinho muito do safadinho, causador de uma imprevisível depressão no asfalto que, agindo em conjunto com meu chinelão, meu causou um baita acidente.
mas como dizem os mais otimistas, entre os quais eu me enquadro - "há males que vêm para o bem" - além de ter beijado o asfalto Carioca, que eu tanto almejava pisar durante meus suados 40 aninhos, ainda fui gentilmente aparada por um bêbado dançarino; assistida de camarote por uma platéia que há alguns segundos ouvia animada Tom e Vinícius numa calçada salpicada de pedrinhas pretas e brancas; e ainda, de quebra, ganhei um tour surpresa por um PS do Rio. quer mais emoção que isso? (piadinhas idiotas à parte, fui muito mais bem atendida do que tenho sido em SP em PSs da mesma rede, inclusive...só para constar).
mas ganhei carinho, fui mimada e vi o Rio de dentro da janela do Taxi do Carlinhhos. que me colocou no "colo" e me mostrou o "seu Rio"...suas praças com parquinhos, suas ladeiras de pedrinhas, seu Cristo, sua lagoa, sua Urca e a mureta da praia, seu Jocquey e sua Catedral, seu sambódromo, os arcos da sua Lapa.
de volta a SP, pé pra cima e 2 semanas em casa. pensando na vida. nunca na minha vida tinha tirado uma licença tão extensa. (nem mesmo no nascimento de Maria, conto essa história num outro post). fato é que gostei de estar em casa. gostei de ser mãe e dona de casa em período integral e isso me fez pensar em quantas vezes duvidei que pudesse gostar desse papel. o tempo passa e a vida segue ensinando...sempre e pra sempre.
gostei de acordar sem pressa e aproveitar mais um minutos de preguiça na cama vazia da manhã solitária. gostei de tomar meu café na minha varanda, tomar meu suco de laranja e comer minha torrada com geléia de morango...sentindo o perfume das minhas árvores. gostei de andar pela casa procurando o que fazer, bibelôs para arrumar, fotos para trocar nos porta-retratos, receber as correspondências do zelador, ouvir os barulhos diurnos dos apartamentos vizinhos, ver Maria chegando da escola de rosto vermelho de calor e ir largando a mochila e os tênis em qualquer lugar (eu fazia isso há tão poucos anos), gostei de cuidar de mim em tratamentos de beleza demorados e secretos, gostei de ler com tranquilidade sem barulhos, horários ou luz controlada, gostei de ir e vir pelo corredor e rever um milhão de vezes as mesmas fotos no meu mural, gostei dos bate papos com a Socorro e de saber um pouco mais da sua vida , gostei de poder tomar banho de Sol no meio da manhã sem culpa, gostei de não precisar sofrer com os horários mais concorridos da manicure, gostei de estar sozinha e de ter tempo para os meus próprios planos, gostei de planejar cardápios diários, voltar a fazer gelatina e receber meu amor no final do dia, gostei de respirar devagar, tomar banho devagar, ler devagar, poder perder tempo com péssimos filmes japoneses e franceses, comer devagar, pensar devagar, viver devagarinho.

terça-feira, 13 de março de 2012

Rio de Janeiro - Minha primeira vez

Um Rio, um cenário verde lindo que rodeia um mar.
Montanhas cinematográficas que me emocionam
e podem ser cenário para qualquer capítulo de uma vida....em qualquer vida.
É como se, do alto da montanha mais alta,
um Cristo de pedra gigante, de braços abertos dissesse ao mundo:
"É tudo meu, meu pai que fez".

segunda-feira, 12 de março de 2012

"De fato, não existe nada mais deplorável do que, por exemplo, ser rico, de boa família, de boa aparência, de instrução regular, não tolo, até bom, e ao mesmo tempo não ter nenhum talento, nenhuma peculiaridade, inclusive nenhuma esquisitice, nenhuma idéia própria, ser terminantemente "como todo mundo". Ter riqueza, mas não do tipo Rothschild; a família é honesta, mas nunca se distinguiu por nada; aparência boa, mas muito pouco expressiva; boa instrução, mas não sabe em que empregá-la; tem inteligência, mas sem ideias próprias; tem coração, mas sem magnanimidade et. etc. em todos os sentidos. No mundo existe uma infinidade extraordinária de pessoas assim e até bem mais do que parece; como todas as pessoas, elas se dividem em duas categorias principais: umas limitadas, outras "bem mais inteligentes". As primeiras são mais felizes. Para um homem "comum" limitado, por exemplo, não há nada mais fácil do que se imaginar um homem incomum e original e deliciar-se com isso sem quaisquer vacilações. Bastaria a algumas das nossas senhorinhas cortas os cabelos, pôr óculos azuis e chamar-se de niilistas para se convencerem imediatamente de que, de óculos, elas passariam imediatamente a ter suas próprias "convicções". A um bastaria apenas sentir no coração um pinguinho de algo derivado de alguma sensação humana e boa para logo se convencer de que ninguém sente como ele, de que ele é avançado em seu desenvolvimento. A outro bastaria adotar em palavra algum pensamento ou ler uma paginazinha de alguma coisa sem princípio nem fim para acreditar imediatamente que esses "são seus próprios pensamentos" e brotaram do seu próprio cérebro. O descaramento da ingenuidade, se é que se pode falar assim, chega ao surpreendente nesses casos; tudo isso é inverossímil, mas se encontra a cada instante.
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O problema é que o homem "comum" inteligente, ainda que de passagem (e talvez até durante toda a sua vida) tenha se imaginadao um homem genial e originalíssimo, mesmo assim conserva em seu coração o vermezinho da dúvida, que chega a tal ponto que o homem inteligente às vezes termina em absoluto desespero; se fica resignado, já o faz totalmente envenenado pela vaidade interiorizada."
(O Idiota - Dostoievski)

quinta-feira, 8 de março de 2012

16 anos depois!

no texto de alguns dias atrás, onde eu falava sobre o dia do meu casamento,
um amigo querido perguntou..."Mas foram felizes para sempre?"
A pergunta me inspirou um novo texto...
e acho que nesse, a pergunta ficará respondida.
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ele aprendeu a não por manteiga no meu pão,
eu aprendi a respeitar a mania que ele tem de por queijo ralado em tudo.
ele convive bem com minha neura quanto a portas abertas,
eu aprendi que ele não dorme com blusas de decote "v".
ele respeita as dificuldades e limitações dos meus pais,
eu aprendi a amar a mãe dele.
ele ainda ri do meu pânico por bichos de pena,
eu ainda acho que ele é um leão.
ele respeita a minha preferência pelo escuro,
eu acendo a luz quando quero surpreendê-lo.
ele censura meus decotes,
eu aprendi a me divertir com seus olhares furtivos nos decotes alheios.
ele se acostumou com os carinhos do jeito que eu gosto,
eu me acostumei ao jeito dele de gostar de todos os carinhos.
ele aprendeu a amar as minhas irmãs,
eu amei o irmão que ele me deu de presente.
ele passou a admirar minhas unhas pintadas de vermelho,
eu sou apaixonada pelos seus primeiros cabelos brancos.
ele aprendeu que meu sorvete é sempre de chocolate,
eu que ele gosta de dirigir em silêncio.
ele entende minha paixão por Tom e Vinícius,
eu apoio suas viagens interplanetárias.
ele passou a andar mais devagar para me esperar,
eu aprendi a sempre segurar sua mão para não me perder.
ele aprendeu a respeitar minha solidão compulsória,
eu aprendi a ouvir seu rock and roll.
ele me ensinou o que é amor eterno,
eu aprendi direitinho.

quarta-feira, 7 de março de 2012

Das coisas que me ganham!

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Me ganha a pessoa que senta do meu lado numa festa ou num samba (samba, do bom, antigo, me ganha) e, simplesmente, continua uma conversa. Aquele tipo de conversa de conhecidos de anos. Aquela que engata de algum caso (esquecido) de um passado que não lembramos de ter vivido.

A intimidade me ganha. Se puder falar alguns palavrões e fazer um pouco de piada a respeito de si mesmo, ainda melhor.

Me ganha quem limpa a tampa da latinha da cerveja pra mim. Já me ganhou quem sabe que só tomo cerveja na latinha. E que ela nunca pode ser Itaipava.

Me ganha quem canta o mesmo samba que eu. Me ganha também quem nem gosta de samba mas fica silencioso ao meu lado, curtindo meu prazer.

Me ganha quem sabe que minha pizza não pode ter catupiry, que meu temaki não pode ter cream cheese e que minha roupa nunca é amarela.

Me ganha gente que ouve. Que sabe esperar até o ponto final da frase. Gente que me dá feedback com movimentos leves de cabeça ou de olhar. Mas, se não concordar comigo, melhor. Me ganha quem sabe somar sua opinião à minha. Me ganha quem me deixa somar minha opinião à sua.

Me ganha quem me comenta suas leituras e me indica seus livros.

Me ganha quem me cumprimenta com abraço. Quem sabe escrever a grafia correta do meu tão complicado nome. Me ganha quem me chama de "querida", de "amiga" ou de "cuzona". Me ganha quem diz ter saudade de mim e nem precisa ser sincero. Me ganha quem me fala olhando nos olhos.

Me ganha quem me conta problemas cotidianos e crises conjugais. Me ganha quem diz que, mesmo que as coisas não estejam bem, elas irão melhorar.

Me ganha quem sofre e precisa da minha ajuda. Me ganha, pra sempre, quem pede meu socorro. Me ganha quem sabe fazer com que me sinta viva por saber fazer com que me sinta útil, quase imprescindível. Me ganha quem me pede ombro. Claro, também me ganha também quem me dá ombro. Me ganha quem sabe me dar broncas.

Me ganha quem tira o sapato na minha casa e se senta no chão. Quem sabe a história do meu relógio cuco, da minha sopeira e da minha poltrona de leitura.

Me ganha quem se dá o direito de se mostrar com defeitos para mim. Me ganha quem conta suas própria mazelas, seus planos frustrados, seus sonhos inatingíveis, seus amores não correspondidos, suas invejas, algum podre. Me ganha quem é tão imperfeito quanto eu.
Publicado originalmente em 10/10.

sexta-feira, 2 de março de 2012

2 de março de 1996

há 16 anos eu era uma adolescente tardia de 24 anos. tinha todas as certezas do mundo. a vida traçada numa planilha de excell com pequena margem percentual para variantes de insucesso.

naquela manhã de março, acordamos cedo, vestimos roupas despojadas e nos reunimos em frente a um juíz de paz num cartório do bairro. numa sala quente, com um buquet de flores de plástico e achando tudo muito engraçado, colocamos nossas assinaturas inseguras num contrato e partimos para nos preparar para a grande festa das nossas vidas.

enfurnada num salão de beleza junto com outras noivas neuróticas eu seguia o script. uma das noivas assistia apaixonada a um programa de vídeo clips onde o noivo, DJ, dedicaria a elas músicas românticas. outra, mais nova e de cabelos cuidadosamente cacheados, chorava decepcionada com o buquet. eu, me enchia de deliciosos pães de queijo e suco de laranja.

o vestido era uma versão pioneira de reciclagem. usado pela irmã três meses antes, tinha sido virado ao avesso, do lado onde o tecido era mais fosco, mais discreto. nessa superfície de segunda mão, foram pregadas quatro mil pérolas. tardes e tardes de um ritual familiar mágico regado a café e muita emoção, eu e minha mãe nas últimas confidência pré matrimoniais. metros e metros de linha cor de pérola. rendas cortadas em charmosos medalhões iriam decorar toda a barra que depois seria pisada pelos mais de 300 convidados.

uma macha vermelha de ousadia. um buquet de rosas vermelhas, compacto, seguro. lindo. um detalhe surpreendente num roteiro de vida tão previsível.

conduzida pelos braços carinhos de um pai com olhos emocionados, ao abrir do grande portal, um corredor interminável margeado de muitos rostos conhecidos e carinhosos. em passos seguros, como quem caminha para o futuro, desenhamos nossos passos no grande tapete vermelho e entreguei minha testa ao beijo do homem que seria, para sempre, o homem da minha vida.

quinta-feira, 1 de março de 2012

A máquina de fazer espanhóis - Valter Hugo Mae



"a máquina de  fazer espanhóis"
Valter Hugo Mae

num primeiro namoro a página assusta. não há parágrafos, nem a letra maiúscula que anuncia o início da sentença. não há dois pontos, travessão na outra linha.
ENCANTADOR!
um livro que me fez chorar e chorar de rir. em algumas situações até na mesma página.
abaixo, alguns trechos pinçados...
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"criei um pequeno embalo, como para confortar. vai ficar tudo bem, vai correr tudo bem. o que era impossível, e o impossível não melhora, não se corrige."
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"com a morte, também o amor devia acabar. acto contínuo, o nosso coração devia esvaziar-se de qualquer sentimento que até ali nutrira pela pessoa que deixou de existir. pensamos, existe ainda, está dentro de nós, ilusão que criamos para que se torne todavia mais humilhante a perda e para que nos abata de uma vez por todas com piedade. e não é compreensível que assim aconteça. com a morte, tudo o que respeita a quem morreu devia ser erradicado, para que aos vivos o fardo não se torne desumano. esse é o limite, a desumanidade de se perder quem não se pode perder. foi como se me dissessem; senhor silva, vamos levar-lhe os braços e as pernas, vamos levar-lhes os olhos e perderá a voz, talvez lhe deixemos os pulmóes, mas teremos de levar o coração, e lamentamos muito, mas não lhe será permitida qualquer felicidade de agora em diante."
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"é só não nos tornarmos  perigosos porque envelhecer é tornarmonos vulneráveis e nada valentes, pelo que enlouquecemos um bocado e somos só como feras muito grandes sem ossos, metidas dentro de sacos de pele imprestãveis que já não servem para nos impor verticalidade nem nas mais pequenas batalhas, como faria falta ferrarmos toda a gente e vingarmo-nos do mundo por manter as primaveras e a subitamente estúpida variedade das espécies e as manifestações do mar e a expectativa do calor e a extensão dos campos e as putas das flores e das arvorezinhas cheias de passarinhos cantantes aos quais devíamos torcer o pescoço para nunca mais interferirem com as nossas feridas mais profundas."
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"a laura morreu, pegaram em mim e puseram-no no lar com dois sacos de roupa e um álbum de fotografias. foi o que fizeram. depois, nessa mesma tarde, levaram o álbum porque achavam que ia servir apenas para que eu cultivasse a dor de perder a minha mulher."
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"um problema com o ser-se velho é o de julgarem que ainda devemos aprender coisas, quando, na verdade, estamos a desaprendê-las, e foz todo o sentido que assim seja para que nos afundemos inconscientemente na iminência do desaparecimento. a inconsciência apaga as dores, claro, e apaga as alegrias, mas já não são muitas as alegrias e no resultado da conta é bem-visto que a cabeça dos velhos se destitua da razão para que, ta~do de frente à morte, não entremos em pânico."
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"o ser humano é só carne e osso e uma tremenda vontade de complicar as coisas."
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"eu precisava desse resto de solidão para aprender sobre este resto da companhia."
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"nunca eu teria percebido a vulnerabilidade a quem um homem chega perante outro. nunca teria percebido como um estranho nos pode pertencer, fazendo-nos falta. não era nada esperada aquela constatação de que a família também vinha de fora do sangue, de fora do amor ou que o amor podia ser outra coisa, como uma energia entre pessoas, indistintamente, um respeito e um cuidado pelas pessoas todas."

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Silêncios

O Artista - Oscar Melho Filme 2012
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Não se trata de resenha, nem muito menos crítica literária...
trata-se, apenas,  de uma breve meditação a respeito do SILÊNCIO.
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Eu, que já nasci em tempos de barulhos, me admiro com o poder que o silêncio tem sobre mim. Com a sensação claustrofóbica dos barulhos internos que me ensurdecem em momentos de quase silêncio absoluto. Não acredito que os moradores das grandes metrópolis (como é meu caso) hoje em dia se possam dar ao luxo do "silêncio absoluto". É quase impossível. Há sempre um alarme de carro disparado, um vendedor ambulante, um grilo, um helicoptero, uma TV ao fundo, um menino empinando pipa, a música de algum carro, um cachorro.
Na última noite, mais uma noite entre um domingo e uma segunda que, por algum motivo, um doende maligno me rouba o sono, o quase silêncio da noite me faz pensar sobre o silêncio.
O silêncio dos amigos de infância, o silêncio da não concordância, o silêncio dos momentos fúnebres e dos momentos solenes, o silêncio interrompido, o silêncio do beijo, o silêncio do amigo distante, o silêncio do constrangimento, o silêncio do desejo....enfim...o silêncio.

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Persuasão - Jane Austen


"Não posso mais ouvir em silêncio. Devo falhar-lhe com os meios que estão a meu alcance. Meu coração está dilacerado. Estou em estado de semiagonia, semiesperança. Não me diga que cheguei tarde demais, que sentimentos tão preciosos se foram para sempre. Ofereço-me uma vez mais com um coração ainda mais seu do que quando quase o partiu, há oito anos a meio. Não ouse dizer que um homem se esquece mais depressa do que uma mulher, que o amor dele conhece primeiro a morte. Nunca amei outra pessoa. Injusto posso ter sido, fraco e rancoroso posso ter sido, mas nunca inconstante. Apenas por sua causa eu viria a Bah. Apenas por sua causa penso e planejjo. Não percebeu tudo isso? Não foi capaz de compreender meus desejos? Eu não teria esperado sequer estes dez dias caso tivesse lido seus sentimentos, como acredito que deva ter interpretado os meus. Mal consifgo escrever. A cada instantes ouço algo que me angustia. Sua voz se abaixa, mas posso reconhecer os tons dessa voz mesmo quando se misturam aos demais. Boníssima, extraordinária criatura! Faz-nos justiça, sem dúvida. Acredita que existam a verdadeira afeição e constância entre os homens. Acredite serem mais ardentes, mais inalteráveis, em     
                                                                                                                                                       F.W.

Preciso ir, incerto quanto ao meu destino. Mas voltarei aqui, ou me reunirei a seu grupo, o mais depressa possível. Uma palavra, um olhar, serão o basatne para que me decida a ir a casa de seu pai esta noite ou nunca."