quinta-feira, 28 de junho de 2012
18 lindos anos!
Era um dia como o de hoje. Seria mais um dia entre todos os outros se você não o tivesse escolhido para chegar. Não deu muito aviso. Estreou.
Aconteceram algumas coisas desde então. Vivemos na mesma casa. Andamos nas mesmas ruas. Temos os mesmos amigos. Nesses poucos anos sofremos algumas perdas.... Choramos algumas tristezas e acumulamos tantas alegrias. Você é nossa luz. Sorrindo, de laço delicado na cabeça.
Não vejo medo em seus olhos grandes. Tenho inveja da sua coragem. A coragem dos inocentes. Suas formas se transformam como se transformaram todos os nossos planos pra você. Passamos os últimos dias revendo os sonhos que sonhamos pra você. Passamos os últimos dias passando à limpo nossos projetos.
Mas quão ingênuos fomos querendo sonhar seus sonhos. Mas quão ambiciosos fomos querendo sorrir seus sorrisos. Afaguei seus cabelos. Enxuguei suas lágrimas e senti uma dor aguda por sua tristeza. Sua dor doeu mais em mim do que qualquer dor que eu tenha sentido na minha vida.
Agora toda tristeza passou. Uma luz divina acendeu-se e clareou todas as nossas dúvidas. Um afago carinhoso envolveu nossos medos e transformou todos os nossos temores em lindos sorrisos de criança. Irresistíveis gargalhadas infantis.
Você sempre foi alegria e certezas para nós...sempre. Não há porque ser diferente agora. Não há.
Agora você carrega mais um pedaço do nosso futuro. Um pedaço com quase um quilo e pouco mais de 20 cm. Um pedaço tão pequeno mas que já preenche um espaço tão importante em nós. A forma do futuro já se vê na sua silhueta, tão mudada nos últimos dias. De nossa menina, num piscar de olhos, você se transforma em nossa "mamãezinha". Tão linda. Quase uma boneca.
Ainda não sabemos se é Cecília. Certamente não será Cecília Flor como eu tanto desejei. Excentricidades de uma tia avó meio louca. Talvez seja Theo. Que venha Deus. Que nos abençoe como você nos abençoou.
sexta-feira, 15 de junho de 2012
mais valter hugo mae
do valter músico.
"Não vou ser o teu namorado
Eu não vou casar-me contigo
Não sei se queres esperar-me
Para além da morte talvez
Quando tudo estiver acabado
E for hora de recomeçar
E arriscar
Saberei inventar um amor eterno
De ser teu para sempre
Até lá sonha comigo
Como alguém no futuro
Acho que vou ser castigado
Eu sei, por ser tão ausente
Mas vale mais um amor inventado
Se o for eternamente
Ah, sonha comigo
Como alguém no futuro
E seremos apenas aliados
E sem tempo
No amor para sempre
Não vou ser o teu namorado
Eu não vou casar-me contigo
Mas suspeito que queiras esperar-me
Para além da morte talvez
Até lá sonha comigo
Como alguém no futuro"
"Não vou ser o teu namorado
Eu não vou casar-me contigo
Não sei se queres esperar-me
Para além da morte talvez
Quando tudo estiver acabado
E for hora de recomeçar
E arriscar
Saberei inventar um amor eterno
De ser teu para sempre
Até lá sonha comigo
Como alguém no futuro
Acho que vou ser castigado
Eu sei, por ser tão ausente
Mas vale mais um amor inventado
Se o for eternamente
Ah, sonha comigo
Como alguém no futuro
E seremos apenas aliados
E sem tempo
No amor para sempre
Não vou ser o teu namorado
Eu não vou casar-me contigo
Mas suspeito que queiras esperar-me
Para além da morte talvez
Até lá sonha comigo
Como alguém no futuro"
quinta-feira, 14 de junho de 2012
Vida real!
Acho que eu conheço muita gente. Pelo menos é essa a sensação que eu tenho. Tem sempre algo acontecendo com gente que anda a minha volta.
Gente nascendo, gente morrendo. Gente conquistando, gente desistindo. Gente roendo unha. Gente cortando cabelo. Gente soltando pum. Gente se graduando. Gente tendo câncer. Gente fazendo brigadeiro. Gente casando. Gente separando. Gente indo. Gente voltando. Gente sorrindo e gente chorando. Muita gente, sempre. Muito barulho, sempre.
Chego a conclusão que a ação está muito mais nas pessoas que me cercam do que, propriamente, na minha cena. Talvez eu seja uma personagem de apoio, tão somente uma coadjuvante.
Mais coisa acontece agora! Sabe aquele tipo de coisa que muda a vida? Pois é, esse tipo mesmo.
Todas as vezes em que a vida me coloca a frente de um desafio, eu me sinto totalmente despreparada. Já devo ter dito isso aqui umas 136 vezes. O que prova o quanto eu sou despreparada para os desafios da vida real.
Sou despreparada para dificuldades. Tenho problemas com contratempos. Sou péssima em administrar a adversidade. Demoro a entender que a vida nada mais é que uma feliz sequência de adversidades.
Há alguns anos eu perdia a paz e o ar com a sensação de impotência. Com a impressão de que nem tudo estava sob meu controle. Os anos e talvez as dificuldades me ensinaram a respirar melhor. Hoje sou uma melhor equilibrista de pratos. Ainda deixo alguns caírem, mas os cacos já não me incomodam da mesma forma. Aprendi a acreditar que tem sempre alguém, que sabe mais que eu, e que, muito provavelmente, saiba o que está fazendo. Alguém que talvez tenha um plano maluco e inacreditável para esse caos que se chama "vida". Aprendi que isso se chama FÉ.
Hoje, ela que nasceu da adversidade, há tão poucos anos, precocemente se vê a frente de uma decisão tão dura, tão cruel e solitária. E eu, impotente, só posso olhar de longe.
Meu desejo hoje, seria te colocar no colo. Te deixar chupar o dedo e costurar seu pilili, pensativa. Queria hoje poder ver em seus olhos grandes, a paz que eu via nesses seus momentos de descanso. Mas não posso. Hoje, nesses mesmos olhos, vejo medo, aflição e uma descrença sem fim.
terça-feira, 12 de junho de 2012
recomeços...parte 2
Mas fulana, isso não deveria ser um post sobre "recomeços"?
Que raio faz um orelhão ilustrando o texto?
Tá, eu explico....
Ulisses, de James Joyce, é um livro que eu namoro de longe. Algo como aquele restaurante ultra fino que você não entra não necessariamente por falta de dinheiro, mas talvez por achar que não esteja pronto para aquele ambiente. Mais ou menos isso. Tenho Ulisses a uma distância segura.
Há algumas semanas li que a Companhia das Letras estava relançando Ulisses numa edição popular. Óbvio, popular no preço, não na obra. A obra continua sendo..."a obra". Em comemoração ao lançamento, um mini curso de 2 dias com Caetano Galindo, tradutor dessa última edição. Planejei colocar meus óculos vermelhos, fazer pose de intelectual (que aliás faço muito bem) e me embrenhar no meio da platéia. Talvez ninguém notasse a minha presença ali. Praticamente uma intrusa. Fui.
O mini curso começou ontem. Inacreditavelmente Caetano fala minha língua. É simples e muito didático ao tentar passar para a pequena platéia um cenário geral da obra de 1100 páginas. Estou mais apaixonada que nunca e agora talvez tenha coragem de um olhar mais demorado...uma assédio mais próximo. Talvez, eu digo apenas talvez, eu encare Ulisses desta vez.
Bom, mas afinal o que tem a ver o tal orelhão pintado da foto com Ulisses e com recomeços?
Ontem, foi um dia surreal, uma correria do cão a tarde. Cheguei em casa em cima da hora e previa ir de ônibus/metrô para a Paulista. Se eu tivesse leitores e eles fossem leitores desavisados (sempre quis escrever isso "leitores desavisados") eles não entenderiam porque achar estranho ir de ônibus/metrô para a Paulista. Mas se eles me conhecessem, entenderiam.
Cheguei correndo, esbaforida de uma tarde incrível, de jaqueta preta e cachecol rosa. Larguei o carro e lá fui eu, de botas cano alto, de ônibus para a Paulista. Sim, a Paulista.
A Paulista sempre foi um cenário importante para mim. Algumas pessoas gostam do Itaim, outras da Liberdade, algumas da Vila Mariana. Eu mesma tenho quedinha grande pela Vila Madalena. Mas, cá entre nós, é na Paulista que as coisas acontecem.
E lá estava eu. Toda "pimpona" como diria uma nova amiga já muito querida. Caminhando nas calçadas da Paulista, iluminada por aquela incrível luz amarela, com passos seguros e um sorriso meio idiota no rosto. Eu quis registrar isso hoje, pois tenho certeza que daqui a alguns dias isso vai parecer uma bobagem sem fim. Mas ontem, isso teve uma importância ímpar nesse meu recomeço.
Ontem, eu era uma adolescente tardia. De botas de cano alto (eu nunca tinha tido botas de cano alto), andando sozinha (de ônibus) pela Paulista. Me aventurando num mundo que sempre amei (a literatura) mas que nunca foi meu. A sensação do dia de ontem é algo que quero guardar pra sempre.
Por que o orelhão afinal?
Há alguns dias conversando com um amigo, que mora há alguns anos nos EUA, acabamos ficando na dúvida quanto a configuração atual dos orelhões de São Paulo. Ele, ausente da cidade há muitos anos, lembra-se de um orelhão amarelo "marca texto". Eu lembrava de algo azul. Ontem, na Paulista, me deparei com esse. Obvio, talvez seja uma versão moderninha que fizeram para a Paulista (não acredito que os orelhões de Barueri tenham essa configuração). Mas enfim, mostrou como eu vivi fora do mundo nos últimos anos.
O orelhão foi a minha porta de entrada para esse mundo onde as coisas acontecem...
segunda-feira, 11 de junho de 2012
de valter hugo mae (assim mesmo, em minúscula)
O que a obra provoca.
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De tempos em tempos cai no colo da gente uma obra, um autor, um personagem....há pouco tempo me caiu no colo tudo isso junto.
Ele surgiu, a princípio, como uma opção desconhecida no Nosso Clube de Leitura. Talvez pela concorrência fraca dos demais títulos, acabou sendo o escolhido. O livro, àquela altura, era "a máquina de fazer espanhóis" de um autor, até então, desconhecido para nós.
Mas que escritorzinho mais atrevido. Não respeita as regras de pontuação, vejam só. Cadê as maiúsculas do texto, mas que absurdo.
Como tudo que corre o risco de transgredir, a obra transcendeu. Enfeitiçou. Essa é a palavra. Fiquei enfeitiçada.
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Numa sentada, como dizem, lá se foi "a máquina de fazer espanhóis". Tão linda, tão real, tão melancólica e suave ao mesmo tempo. Teve o poder de me fazer gargalhar em risos e choro.
Apos a leitura, a surpresa maior. O autor tinha a minha idade. Como assim? Uma pessoa de 40 anos escrevendo as dúvidas, tristezas e saudades de um velho de 80??? Como assim???
Um tempo depois, num encontro na Livraria da Vila, ele explicou que tem nele todas as perguntas de um homem de 80 anos. Só ainda não tem a necessidade urgente de respondê-las.
Após o encontro do grupo de leitura, ficou a angustiante sensação de quero mais. Queríamos mais. Entre trancos e barrancos de agendas, conseguimos encontrar um tempo nas manhãs dos nossos sábados e lá fomos nos, sentindo-nos meio extra terrestres, lançadas aos nossos "Saraus valter hugo mae". A obra agora, que tornar-se-ia nossa Bíblia, seria "O filho de Mil Homens".
Que delícia de encontros. Com valter. Com a obra. Com as outras. Com a gente mesma!
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Abaixo alguns dos trechos dos tantos que nos arrancaram suspiros durante a leitura.
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"Pra dentro do homem o homem caía"
"Queria dizer meu filho, como se a partir da pronúncia de tais palavras pudesse criar alguém."
"e dizia que os amores lhe tinham faltado, mas que os amores não destruíam o futuro."
"Pensava que quando se sonha tão grande a realidade aprende."
"A natureza, quieta a ser só inteligente e quieta, não disse nada, nem o Crisóstomo esperaria ouvir uma voz. A esperança era uma coisa muda e feita para ser um pouco secreta."
"Amar era feito para ser uma demasia e uma maravilha"
"Quem tem menos medo de sofrer, tem maiores possibilidades de ser feliz."
"O homem que chegou aos quarente anos sorriu, e aquele sorriso já não era o mesmo do dia anterior. Já não era como nenhum outro do passado. Era o dobro de um sorriso."
"Mais as árvores, que ficavam quietas sem fazerem nada, só o barulho no inverno e a fruta no verão. Sem medo. As árvores mostravam apenas a espantosa paciência."
"Não era mulher de reclamar grandes atenções, e por isso não retinha nada de especial. Era como aproveitar o amor possível. O amor dos infelizes."
"Sentia que, se o filho vingasse, a sua vida valera a pena. Curava-se da tristeza e prosseguia no insondável que os filhos são. Os filhos, dizia, levam dentro famílias inteiras."
"A vida fazia-se à revelia da felicidade."
"A Isaura caminhou a sentir-se assim, perplexa e vazia, como se não fosse ninguém, apenas encantada percepção do que há no mundo."
"Era uma mulher carregada de ausências e silêncios. Para dentro da Isaura era um sem fim e pouco do que continha lhe servia para a felicidade. Para dentro da Isaura a Isaura caía."
"O passado não corre. O doutor pensava o contrário. Pensava que o passado tinha pernas longas e corria, sim, e muito, como um obstinado a marcar a sua presença, a sua herança. O passado é uma herança de que não se pode abdicar."
"Ensinava-lhe que era uma pena a falta de leitura não se converter numa doença, algo como um mal que pusesse os preguiçosos a morrer. Imaginava que um não leitor ia ao médico e o médico o observava e dizia: você tem o colesterol a matá-lo, se continuar assim não se salva. E o médico perguntava: tem abusado dos fritos, dos ovos, você tem lido o suficiente. O paciente respondia:não, senhor doutor, há quase um ano que não leio um livro, não gosto muito e dá-me preguiça. Então, o médico acrescentava: ah, fique pois sabendo que você ou lê urgentemente um bom romance, ou então vemo-nos no seu funeral dentro de poucas semanas. O caixão fechava-se como um livro. O Camilo ria-se. Perguntava o que era o colesteral. e o velho Alfredo dizia-lhe ser uma coisa de adulto que o esperaria se não lesse livros e ficasse burro."
"Ser o que se pode é a felicidade."
"Vinha do hospital. Talvez pensasse que a vida era curta. Demasiado breve para tanto procurar. Melhor seria se aceitasse o que havia como bastante. A felicidade podia definir-se assim. O bastante."
"Ela perguntou: o boneco tem nome. Ele respondeu: nao. Ela disse: que sorte, assim não precisa de ser ninguém. Quem não é ninguém não lhe falta nada. Nem lhe falta o amor, nem espera por nada."
"Pode não ser mentiras, mas apenas uma maneira diferente de acreditar."
"As pessoas eram assim mesmo, feitas de imprudências. Olhe, dizia a Rosinha, quem sabe se a imprudência é a felicidade."
"Achava que tinha um filho que era um certo deficiente do amor. Padecia de uma loucura dos sentimentos. Dizia por imprudência o que não tinha de dizer, não devia sequer acreditar naquilo."
"Se não esperarmos nada, dizia ele, tudo quanto existe é já abundância."
"Crisóstomo então levantou-se, atravessou o quarto, saiu, foi ver o Camilo deitado e beijá-lo para dormir e disse-lhe: nunca limites o amor, filho, nunca por preconceito algum limites o amor. O miúdo perguntou: porque dizes isso, pai. O pescador respondeu: porque é o único modo de também tu, um dia, te sentires o dobro do que és."
"Assim se ia calando, encostando sempre as dores aos móveis, frequentemente permanecendo apenas deitado, esperando."
"Mas quando se soube, estava lá, metida numa caixa, arrumada de flores e perfumes para fazer de conta que a morte era uma coisa bonita."
"Elevou as mãos num abraço e não contou mais pelos dedos se seria demasiado velha para aquela alegria esquisita, para aquele compromisso grande, para a abundância imposta por amar-se uma filha. Era necessária uma abundância de tudo, matéria, espírito e idade, para regressar a tempo de educar alguém. Não quis contar, nem pelos dedos nem por alto, o quanto arriscava com aquele sentimento, o quanto se vulnerabilizava, talvez tola, por uma esprança nova de voltar a ser mãe."
"Ela nunca fora amiga de ninguém. Vivera encurralada entre os pais, o gato, as hortaliças e o amor dos infelizes."
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