sexta-feira, 16 de março de 2012

Pé pra cima

tinha um bueiro no meio do (meu) caminho, no meio do (meu) caminho tinha um bueiro. um bueirinho muito do safadinho, causador de uma imprevisível depressão no asfalto que, agindo em conjunto com meu chinelão, meu causou um baita acidente.
mas como dizem os mais otimistas, entre os quais eu me enquadro - "há males que vêm para o bem" - além de ter beijado o asfalto Carioca, que eu tanto almejava pisar durante meus suados 40 aninhos, ainda fui gentilmente aparada por um bêbado dançarino; assistida de camarote por uma platéia que há alguns segundos ouvia animada Tom e Vinícius numa calçada salpicada de pedrinhas pretas e brancas; e ainda, de quebra, ganhei um tour surpresa por um PS do Rio. quer mais emoção que isso? (piadinhas idiotas à parte, fui muito mais bem atendida do que tenho sido em SP em PSs da mesma rede, inclusive...só para constar).
mas ganhei carinho, fui mimada e vi o Rio de dentro da janela do Taxi do Carlinhhos. que me colocou no "colo" e me mostrou o "seu Rio"...suas praças com parquinhos, suas ladeiras de pedrinhas, seu Cristo, sua lagoa, sua Urca e a mureta da praia, seu Jocquey e sua Catedral, seu sambódromo, os arcos da sua Lapa.
de volta a SP, pé pra cima e 2 semanas em casa. pensando na vida. nunca na minha vida tinha tirado uma licença tão extensa. (nem mesmo no nascimento de Maria, conto essa história num outro post). fato é que gostei de estar em casa. gostei de ser mãe e dona de casa em período integral e isso me fez pensar em quantas vezes duvidei que pudesse gostar desse papel. o tempo passa e a vida segue ensinando...sempre e pra sempre.
gostei de acordar sem pressa e aproveitar mais um minutos de preguiça na cama vazia da manhã solitária. gostei de tomar meu café na minha varanda, tomar meu suco de laranja e comer minha torrada com geléia de morango...sentindo o perfume das minhas árvores. gostei de andar pela casa procurando o que fazer, bibelôs para arrumar, fotos para trocar nos porta-retratos, receber as correspondências do zelador, ouvir os barulhos diurnos dos apartamentos vizinhos, ver Maria chegando da escola de rosto vermelho de calor e ir largando a mochila e os tênis em qualquer lugar (eu fazia isso há tão poucos anos), gostei de cuidar de mim em tratamentos de beleza demorados e secretos, gostei de ler com tranquilidade sem barulhos, horários ou luz controlada, gostei de ir e vir pelo corredor e rever um milhão de vezes as mesmas fotos no meu mural, gostei dos bate papos com a Socorro e de saber um pouco mais da sua vida , gostei de poder tomar banho de Sol no meio da manhã sem culpa, gostei de não precisar sofrer com os horários mais concorridos da manicure, gostei de estar sozinha e de ter tempo para os meus próprios planos, gostei de planejar cardápios diários, voltar a fazer gelatina e receber meu amor no final do dia, gostei de respirar devagar, tomar banho devagar, ler devagar, poder perder tempo com péssimos filmes japoneses e franceses, comer devagar, pensar devagar, viver devagarinho.

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