
13 de julho de 1940
Passeei hoje, com Ara, à tarde. Fomos pela beira do Alster. Num recanto da
margem, porto da Lombardsbrüche, para o lado de cá (da minha casa), vi uma
praiazinha para crianças. Pequenina enseada, protegida, de um lado, por um
pernambuco de pedra, ganho pelas ondas do lado, que vão e vêem por entre as
pedras, convertendo-o em cachoeira. Marrecos flutuando, dando o peito redondo ao
ímpeto em miniatura das ondas, ou mergulhando as cabeças. A 2 metros da terra, uma tela, firme em estacas.
Os garotos podem nadar ali dentro. Há um quadrado, espécie de vasto caixão de areia, para os garotos brincarem. Perto, os salgueiros-chorões. Ondazinhas vêm lamber a praia de brinquedo.E...mas...para estragar toda a mansa poesia do lugar: arvoraram, num poste, uma taboletazinha amarela:
"Lugar de brinquedo para crianças arianas"...
Guimarães Rosa... Inédito em livro até hoje, o diário foi escrito entre 1939 a 1941, muito antes de o autor mineiro publicar sua primeira obra . Rosa trabalhava como cônsul-adjunto no consulado brasileiro de Hamburgo, onde ficou até 1942.
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