Feliz 2011!
sexta-feira, 31 de dezembro de 2010
quinta-feira, 23 de dezembro de 2010
sexta-feira, 17 de dezembro de 2010
a falta de restaurantes, nos levou a cozinhar juntos.
a falta de música ao vivo, nos embalou em deliciosos flash backs.
a falta da segunda tv, nos juntou no sofá.
a falta da tv a cabo, nos jogou nos livros.
a falta de shoppings, nos levou aos parques.
a falta de shows, nos levou aos museus.
a falta de bares, nos levou a fantásticos happy hours caseiros.
a falta de médicos, nos obrigou a deliciosas massagens.
a falta de camarão, nos obrigou a criatividade de novas receitas.
a falta de presentes, nos forçou a carinhosos abraços.
a falta de planos, nos forçou ao improviso.
a falta de possibilidade, nos trouxe a caridade.
a falta do que dizer, nos deixou confortáveis no silêncio.
a falta de coragem, nos surpreendeu com o carinho.
a falta de aviões, nos fez admirar o arco-íris na estrada.
a falta de outro carro, nos permitiu andar mais tempo juntos.
a falta de estratégias, nos fez viver o momento.
a falta de planos, nos fez reeditar o passado.
a falta de amigos, nos mostrou os verdadeiros.
a falta de ajuda, nos alertou para a verdade.
a falta do supérfulo, nos provou a importância do necessário.
segunda-feira, 13 de dezembro de 2010
eu queria ter um nome interessante,
eu queria ser um ser interessante.
queria ser...
Ana Lúcia e ser flautista.
Margarida e ser zootécnica.
Brígida e ser moradora anônima do Leblon.
Fernanda e ser surfista oxigenada.
Noemia e ser professora de Literatura.
Luana e ser telemarketing.
Stephany e ser a negra da padaria.
Clara e ser avó grisalha.
Berenice e ser psicóloga.
Fabíola e ser hair stilist.
Andréia e ser consultora.
Olga e subir o morro.
Wanda e ser orientadora vocaional.
Sueli e ser poeta triste.
Samara e ter uma tatuagem de dragão.
Marina e fumar maconha.
Eliane e visitar o Nepau.
Janaina e ser a dançarina da roda.
Lourdes Maria e ser artesã.
Inés e ler toda a obra de Pessoa.
Laura e entender Clarice.
Mariana e ser arquiteta.
Gabriela e ser voluntária.
Helena e ser atriz pornô.
Vera e ser arqueóloga.
Regina e trocar chuveiro.
Thereza e ser misteriosa.
Judith e ser mãe de gêmeos.
Débora e ser delegada.
Francine e ser bruxa.
Cláudia e ser inocente.
Sônia e vender pastel.
Cynthia e ser mais eu!
sexta-feira, 10 de dezembro de 2010
Existe um portão secreto que une a casa dos meus pais à casa da minha avó. Ele sempre existiu. sempre foi o mesmo. Passou por algumas pinturas mas sua estrutura é original, desde que me conheço por gente.
O tal portão fica no final do muro que une as duas casas, longe da vista de quem olha as casas da rua. Acessível somente aos moradores das casas. Uma espécie de portão da intimidade.
Minha avó, quase aos 90 anos, mas com saúde de ferro, atravessa o portão infinitas vezes ao dia, apressada com tarefas às quais só ela dá urgência e que a mantém viva.
Existe um pequeno degrau no portão, um obstáculo para quem o atravessa. A passagem é estreita e o portão, hoje em dia é branco.
Do lado da casa dos meus pais, o tal portão é a única coisa que dá sentido a um corredor que, depois de várias reformas pelas quais passou a casa, ficou totalmente sem utilidade e também sem saída (nem entrada). Hoje em dia, guardam-se grandes bacias de alumínio nesse corredor.
Do lado da casa da minha avó, ainda o mesmo chão de caquinhos vermelhos, salpicados de algumas poucas pecinhas amarelas. Uma tampa de alguma caixa de água, feita de concreto, que quando a gente pisa faz barulho. É a campainha do portãozinho. A gente sempre sabe quando alguém vai atravessá-lo quando pisa na tal tampa. São os sons secretos das casas.
Quando meu avô morreu, minha avó desesperada correu até o portão para chamar pela ajuda dos meus pais, mas não pôde atravessá-lo, ficou caída no degrau. Como se, atravessar o portão, fosse abandonar pra sempre o amor de uma vida toda.
Naquela madrugada atravessamos o portão inúmeras vezes...carregando a tristeza de lá pra cá...de cá pra lá.
O tal portão fica no final do muro que une as duas casas, longe da vista de quem olha as casas da rua. Acessível somente aos moradores das casas. Uma espécie de portão da intimidade.
Minha avó, quase aos 90 anos, mas com saúde de ferro, atravessa o portão infinitas vezes ao dia, apressada com tarefas às quais só ela dá urgência e que a mantém viva.
Existe um pequeno degrau no portão, um obstáculo para quem o atravessa. A passagem é estreita e o portão, hoje em dia é branco.
Do lado da casa dos meus pais, o tal portão é a única coisa que dá sentido a um corredor que, depois de várias reformas pelas quais passou a casa, ficou totalmente sem utilidade e também sem saída (nem entrada). Hoje em dia, guardam-se grandes bacias de alumínio nesse corredor.
Do lado da casa da minha avó, ainda o mesmo chão de caquinhos vermelhos, salpicados de algumas poucas pecinhas amarelas. Uma tampa de alguma caixa de água, feita de concreto, que quando a gente pisa faz barulho. É a campainha do portãozinho. A gente sempre sabe quando alguém vai atravessá-lo quando pisa na tal tampa. São os sons secretos das casas.
Quando meu avô morreu, minha avó desesperada correu até o portão para chamar pela ajuda dos meus pais, mas não pôde atravessá-lo, ficou caída no degrau. Como se, atravessar o portão, fosse abandonar pra sempre o amor de uma vida toda.
Naquela madrugada atravessamos o portão inúmeras vezes...carregando a tristeza de lá pra cá...de cá pra lá.
segunda-feira, 6 de dezembro de 2010
sexta-feira, 3 de dezembro de 2010
há alguns dias descobri que posso fotografar momentos sem importância. essa descoberta foi libertadora. agora fotografo tudo para colecionar.
queria ter descoberto isso antes.
gostaria de rever fotos do meu aniversário de 5 anos, quando prendi o dedo na balança do quintal. rever o dia em que fomos buscar a caçula no hospital e choramos juntas achando que papai havia nos abandonado. queria poder rever fotos de nós três empinando pipa nos gramados infinitos da USP. uma foto da ovada que demos no renatinho e que ele chorou. poder me deliciar com as fotos dos nossos passeios ao Playcenter. poder relembrar o desenho da colcha de indinho que tínhamos na nossa cama. rever o feijãozinho, as fofoletes, o trenzinho, os carrinhos de rolemã, o vai-e-vem, os bambolês. fotos tiradas na praia de Bertioga nas nossas férias da infância. queria rever uma foto, que fosse, do saco de laranjas e do Estadão nos almoços na Vila Ida. uma foto daquela mesa barulhenta com o meu padrinho. uma foto dos cachorros da lhô, do quintal de terra e até do galinheiro. dos concurso de dança e dos batizados das bonecas. uma foto da cozinha da sara com sua cortina xadrezinha. mais fotos dos jogos de dominó. das festas de santo antónio e de uma panela cheia de pinhão. uma foto de um natal da minha infância. queria rever a perua azul do tio e nós todos dentro dela. uma foto da antiga casa que não existe mais. uma do cachorro que morreu de barriga d'água porque atacou um rato. do incênio da campainha. de um domingo no parque da previdência. de uma das nossas expedições e do dia em que encontramos com os cães ferrozes. uma foto dos churros da amélia e da piscina de 1000 litros que nos divertia tanto nas tardes das férias. uma foto do morro de terra colorida. queria ter mais fotos da minha turma do pré primário, da minha primeira professora. das experiências com sonrizal que fazíamos na casa do marcelinho. fotos com amigos que se perderam mas que sempre estiveram lá. uma foto do joão mauro. queria ver uma foto da rede de voley estendida na rua. da gente escorregando na rampa da garagem. uma foto da vizinhança sentada na calçada. a criançada pulando na montanha de areia da construção da casa do genuíno. a fachada do bar da dona ana e do seu cachorro chacrinha. queria ter uma foto do meu primeiro namorado. relembrar o primeiro beijo dado no fim da feira, ao lado da barraca de pastel. poder ver uma foto do meu rosto em prantos no dia em que ele partiu para sempre. uma foto minha vestindo minha blusa cigana e meu anel de pedra, quando eu tinha 15 anos. seria delicioso ver uma foto de um bailinho na garagem do carlinhos. dos copos de plástico com refrigerante e da pilha de sanduiches de patê de atum. uma foto com a dona izulina que eu nunca entendi direito quem era, mas que sabia que era muito importante pro meu pai. mais fotos dos bolos da minha mãe. da mesa do café. do pão doce da minha tia que assava por horas e deixava a cozinha cheirando a coco. uma foto dos carrinhos de ferro dos primos. do forte apache. do cachorro que chamava dog e que era feio feito o demônio. queria poder rever os cômodos da minha antiga casa. rever o desenho dos caquinhos vermelhos da cerâmica. da caveira que havia no armário do corredor. as janelas guilhotina. os portões baixinhos. fotos da minha viagem a botucatu. foz do iguaçu. das nossas breves subidas no balão mágico. do macaco que ficava na árvore daquele sítio. das casinhas de boneca. dos finais de semana em ibiúna. queria poder ver mil fotos da barra manteiga, pula pau, corre cotia. nós todos dentro da brasília ou tomando sorvete no wells da panamericana.
com o tempo a gente descobre quais foram realmente os momentos importantes.
quinta-feira, 2 de dezembro de 2010
sobre minha mania de perseguição:
se alguém escreve um post sobre comentários ridículos; os comentários são meus.
se soltam uma circular advertindo sobre faltas e atrasos; é pra mim (apesar de não chegar atrasada e nem faltar nunca).
se falam sobre regime; eu passei de todos os limites.
se minha irmã é problemática; é porque sempre fui certinha demais.
se minha mãe é problemática; é porque fui uma péssima filha.
se meu pai é problemático; é porque deixei minha mãe problemática com os problemas que causei a minha irmã problemática.
se ouço uma busina; fechei alguém.
se acaba a bobina da máquina do VISA; é só comigo.
se tem um guarda na esquina; adivinha quem ele está multando?
se não me retornam a ligação; fiz alguma merda.
se me mandam corrente de oração; por que será que estou precisando de proteção?
tem algo errado comigo!
se me mandam piada; estou mal humorada.
se não gostaram de Cinema Paradiso; estão me chamando de burra.
se não usam vermelho; estão me chamando de puta.
se não gostam de vinho; estão me indicando ao AA.
se alguém escreve um post sobre comentários ridículos; os comentários são meus.
se soltam uma circular advertindo sobre faltas e atrasos; é pra mim (apesar de não chegar atrasada e nem faltar nunca).
se falam sobre regime; eu passei de todos os limites.
se minha irmã é problemática; é porque sempre fui certinha demais.
se minha mãe é problemática; é porque fui uma péssima filha.
se meu pai é problemático; é porque deixei minha mãe problemática com os problemas que causei a minha irmã problemática.
se ouço uma busina; fechei alguém.
se acaba a bobina da máquina do VISA; é só comigo.
se tem um guarda na esquina; adivinha quem ele está multando?
se não me retornam a ligação; fiz alguma merda.
se me mandam corrente de oração; por que será que estou precisando de proteção?
tem algo errado comigo!
se me mandam piada; estou mal humorada.
se não gostaram de Cinema Paradiso; estão me chamando de burra.
se não usam vermelho; estão me chamando de puta.
se não gostam de vinho; estão me indicando ao AA.
quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Segue o teu destino,
Rega as tuas plantas,
Ama as tuas rosas.
O resto é a sombra
De árvores alheias.
A realidade
A realidade
Sempre é mais ou menos
Do que nós queremos.
Ricardo Reis, 1-7-1916
o domingo estava esplendoroso...dia lindo!
Levei Maria para desfilar seus cachos no Museu da Língua Portuguesa,
lemos juntas as loucuras de Pessoa e vimos correndo no teto negro
as palavras de Emília dizendo que a vida é uma sequência de piscadelas.
E o que vem depois do último pisco?
O que vem depois é hipótese!
“A vida, Senhor Visconde, é um pisca-pisca. A gente nasce, isto é, começa a piscar. Quem pára de piscar, chegou ao fim, morreu. Piscar é abrir e fechar os olhos – viver é isso. É um dorme-e-acorda, dorme-e-acorda, até que dorme e não acorda mais. A vida das gentes neste mundo, senhor sabugo, é isso. Um rosário de piscadas. Cada pisco é um dia. Pisca e mama. Pisca e anda. Pisca e brinca. Pisca e estuda. Pisca e ama. Pisca e cria filhos. Pisca e geme os reumatismos. Por fim, pisca pela última vez e morre.- E depois que morre – perguntou o Visconde.- Depois que morre, vira hipótese. É ou não é?”
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