
A vida que me deram não se resume a uma lista de compras, objetos de desejo, livros que não li, 100 roteiros exóticos. O futuro que eu espero não cabe numa lista de desejos, ou numa "wish list" (para os que têm a insuportável necessidade de acrescentar termos estrangeiros nesta, já tão complicada, língua portuguesa).
Estou certa de que, em algum lugar que eu ainda não encontrei, se encondem desejos que eu ainda não descobri. Livros ainda não escritos...destinos ainda não desbravados. Quem sabe atrás do fundo do guarda-roupa (né amigo "Pavão")?
Minha família não é simplesmente a primeira comunidade de que fiz parte - como me ensinaram em Educação Moral e Cívica (que tipo de coisa se ensina numa matéria com esse nome?), não, minha família é a minha família. É esse conjunto heterôgeneo de pessoas que não parecem ser nem do mesmo planeta, quem dirá da mesma família. Esse conjunto estranho, barulhento, engraçado e triste do qual faço parte. O termo que define esta família? Não, não sei.
Meus amigos não são pessoas que, simplesmente, cruzaram meu caminho em algum instante, não, são meus amigos. Amigos conquistados e cultivados a custa de dedicação, carinho e muitas vezes tolerância. Como são? O que os define? Não, não sei.
Eu sei que não sou o resultado das características determinadas por pouco mais de 20.000 genes, não, sou muito mais. Sou mais que um conjunto de cromossomos, tecidos, células nervosas, cabelos e dentes. Sou um pouco fruto de outros tempos e de outros mundos talvez. Talvez minha definição esteja num termo ainda inédito. Talvez minha definição ainda não esteja no Aurélio, no Houaiss ou na Wikipedia..talvez eu ainda nem exista de fato. Talvez eu nunca tenha existido.
Ainda faltam termos para todas as minhas definições. Ainda faltam respostas...e talvez ainda faltem muitas perguntas também.
Ainda faltam listas para todos os desejos que eu tenho...ainda preciso encontrar em algum lugar, os desejo que ainda não descobri que tenho.
Talvez minha vida seja simplesmente tomar café da manhã com Maria, redescobrir nos olhos do homem o amor de todo dia. Talvez seja a descoberta da música até então desconhecida. Talvez seja a emoção de um quadro que ainda não foi pintado...nem foi desejado. Talvez esteja no meu presente. Talvez tenha ficado no meu passado.
Talvez minha vida seja simplesmente isso...e eu que talvez ainda não tenha entendido.