segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

A caçadora de pipas

E então eu volto para a realidade que ficou aqui a me esperar...a chuva fina, o trânsito da metrópole, o relógio marcando implacávelmente os minutos, os cadernos para serem encapados e o lápis aguardando o apontador. Guardo o chinelo de dedo e calço os sapatos de bico fino que me apertam os dedos.


Ontém vi como um filme uma lembrança que nem eu sabia que tinha:

Numa calçada de periferia, numa tarde preguiçosa de domingo...um grupo de meninos (alguns nem tão meninos assim) se acotovelavam sob um fio de eletricidade disputando o resgate de uma pipa. Ela veio de longe e se embaraçou no fio...amarela, com uma linda rabiola feita de um saco de supermercado. Ficou balançando enroscada no fio aguardando o resgate. Nem sei dizer por quanto tempo eles ficaram lá, olhando, analisando a situação, propondo estratégias de resgate. Paus, sapatos, pedras...de tudo tentaram sem sucesso. Depois de algum tempo aos poucos foram se dispersando largando o troféu pendurado no fio. Uma menina, morena de cachos no cabelo, com uma boneca presa ao colo, observava tudo de perto...assim que os meninos se afastaram da cena, ela aproximou-se do fio e olhou para cima...neste exato momento pipa e rabiola, como que por milagre, desprenderam-se no fio e caíram bem na sua mão que já estendida esperava pelo presente.

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