quarta-feira, 26 de março de 2008

Morro de Saudade - por Adriano Silva

"A dor da saudade é um evento físico. Um sofrimento pontiagudo que arrocha o peito, fecha a garganta, impõe uma bruta vontade de chorar sozinho. A saudade traz em si um escárnio: não há remédio para ela. E lamentar não adianta: não é possível voltar no tempo. A saudade é um desejo que, quanto mais fundo, mais impossível é de realizar. É um jeito que o tempo tem de nos dizer que ele é uma via de mão única e que as perdas que são irreversíveis.

Mas a saudade não é exatamente um desejo de voltar. A nostalgia não é a contrapartida de uma sensação de que a vida era melhor antes. A saudade, portanto, não é a tentativa de instaurar o passado em detrimento do presente. A nostalgia é, antes, um jeito de tentar se agarrar em alguma coisa que suavise a queda livre.


Saudade não é só a falta dos outros. É a falta da gente mesmo, do que fomos, dos grandes momentos por que passamos. É o vazio deixado por um tempo que não existe mais, quando várias portas que se fecharam com o passar dos anos ainda estavam abertas.

Minha saudade também tem um pouco de covardia. Porque o amor ao passado é o amor a um tempo dominado, conhecido. Enquanto o presente implica riscos, desafios e exige esforço, e o fruturo é um espaço disforme com tudo por construir, o passado é um refúgio sereno e controlado. Mesmo as lembranças que não são tão boas ganham, com o tempo, um belo incremente de sabor e harmonia.

Saudade é tentar trancafiar perto da gente aquilo que amamor, é tentar interromper os fluxos para eternizar numa fotografia aquilo que nos faz falta. Saudade é essa vontade de estar junto, de ficar junto, de ficar mais, de parar o tempo para que a gente não precise se separar nunca.

O apego ao passado é também o desejo de continuar vivo, de entender a vida, de não deixá-la correr tão impunemente para o fim. é um jeito de dizer: pára, dá meia volta, eu quero descer, ficar um pouco mais, voltar atrás, viver de novo."

Não fui eu quem escreveu...foi Adriano Silva....

Não tente explicar




não tente explicar

nem se desculpar

nem tente esconder

se vem do coração

não tem jeito não

deixa acontecer

.............

sendo por amor

seja como for

o que Deus quiser

segunda-feira, 24 de março de 2008

Vivaldi no Centro

ele tocava magistralmente. não tenho conhecimento acadêmico, mas estava uma delícia de se ouvir. era Vivaldi, eu acho...
as pessoas passavam de todas as cores e sons.
carros, ônibos.
placas penduradas em pescoços.
advogados trabalhistas.
cartomantes e ciganas.
a música se perdeu logo depois da esquina...

Semana de frases curtinhas

Semana começa com frases curtinhas.
Muito ponto final.
Falta o fôlego para as frses longas.
Falta o fôlego das reticências.
Anciedade é sempre muita, nunca é comedida.
Anciedade pelo que ensaia e não estréia.
Anciedade pelo que está a ponto de queimar.
Amor de sempre manchado.
Não é só fruta que mancha.
Tempo mancha também.
Tempo mancha rostos, cartas, sentimentos, lençóis.
Semana começa com frases curtinhas.
Com falta de ar no peito.
Boa Semana.

quinta-feira, 20 de março de 2008

Páscoa



quero um ovo gigante...

este ano vou comê-lo de dentro para fora...

Aquarela







um menino caminha


e caminhando chega num muro


e ali logo em frente


a esperar pela gente


o futuro está


e o futuro


é uma astronave


que tentamos pilotar


não tem tempo


nem piedade


nem tem hora de chegar


sem pedir licença muda a nossa vida


e depois convida


a rir ou chorar


nesta estrada não nos cabe


conhecer ou ver o que virá


o fim dela ninguém sabe bem ao certo


onde vai dar


vamos todos numa linda passarela


de uma aquarela


que um dia enfim


descolorirá...
...e esta tudo aí mesmo durante todo esse tempo? tudo isso numa música tão simples...que sempre esteve tocando...e eu nunca parei para escutar. dura e crua realidade disfarçada de "música bonitinha"...

terça-feira, 18 de março de 2008

Águas de Março

e em plena segunda feira, em meio ao caos absoluto da metrópole submersa...alguém canta no elevador...
"são as águas de março fechando o verão e a promessa de vida no meu coração"

quinta-feira, 13 de março de 2008



e o circo estava prestes a chegar ao vilarejo. habitantes em polvorosa...Helena vasculha as poucas roupas de Zézinho e conclui que nada serve. Ora que a barriga do moleque se pôs a crescer no último ano. na venda compra a fazenda e na velha máquina costura o traje que é para não fazer feio no evento. calça curta, colete e chapéu...ora que o raparigo ficou chique demais.

e chega o circo. Helena e Zezinho se botam a caminho. Zezinho empinando a pança, se achando de roupa colorida e chapéu. no circo se empuleram na platéia e vão deliciando cada atração.

quase ao fim do espetáculo, entre o macaquinho...empinando a pança, se achando de roupa colorida e chapéu.

fatos históricos de família para registro

quarta-feira, 12 de março de 2008

A vida de um professor universitário argentino muda radicalmente depois que ele é obrigado - por decreto - a se aposentar. Ao lado de sua mulher, com quem forma um casal apaixonado e dedicado, viaja para a Espanha. Na volta, procura uma nova ocupação mudando-se para uma fazenda.
Depois de uma longa temporada de Big Brother, volto a entretenimento de conteúdo.
Peguei uma lista (indicações de Carlota e mais uma amiga), há tempos guardada na carteira e lá fui eu.
Deixei de escrever sobre todos os filmes que assisto, pois nem todos merecem um post...mas esse aí, realmente...merece.
Fala do amor que se transforma. O amor que vira cumplicidade, amizade, parentesco...do amor que simplesmente não pode deixar de ser.
Linda também a cena onde ele fala da "benção ou maldição" da lucidez.
Amei.

segunda-feira, 10 de março de 2008

Síndrome da Alegria Constante


Acho que nunca antes relatei aqui um sonho. Costumo ter uns muitos e muito estranhos, mas na maioria das vezes, assim que me levanto eles somem na poeira do dia. O de hoje não. Acho que o de hoje vai ser um daqueles que vou contar para sempre. De dentro do carro eu via pela janela uma menina maravilhosa portadora de "Síndrome de Down" - ela estava do lado de fora do vidro e eu do lado de dentro. Tive muita vontade de tocá-la ou falar com ela, mas o vidro não permitiu. Na casa da minha mãe encontrei a certidão de nascimento de uma criança desconhecida. Na certidão eu aparecia como a mãe. No meio dos papéis encontrei uma foto - na foto uma menina com "Síndrome de Down". No sonho concluí que eu havia tido uma filha, que por algum motivo tinha sido escondida de mim...mas eu não me lembrava disso. No sonho concluí que a menina da foto era minha filha. Saí pelo bairro onde nasci procurando por moradores antigos que pudessem me confirmar esta informação e fui para na casa de uma vizinha que eu odiava na infância...infelizmente o resto do sonho não me lembro.
No percurso "oeste-leste" hoje pela manhã esse foi meu único pensamento.
Na escola, desde os primeiros anos convivi com Juliana. Juliana tinha "Síndrome de Down". Somente adolescente descobri que se tratava de uma "síndrome". Até então para mim, não tinha nada de diferente ou especial em Juliana. Depois de Juliana conheci e convivi com muitos outros. Um deles teve câncer e na época um médico disse a mãe que o percentual de cura de câncer em portadores de "Síndrome de Down" é 40% maior do que nos demais. O médico comentou que o comportamento positivo, que é característico nos pacientes portadores desta síndrome, seria a principal causa desse percentual maior...ele vive até hoje...muito bem. Eu nunca mais esqueci esse dado.
Sempre me intrigou uma síndrome que determina característica de fisionomia, fazendo parecer os portadores, pertencentes a uma mesma família. Como se estivessem acima das características hereditárias das suas próprias famílias. Como se fossem seres tão superiores que não precisassem obedecer nem às leis da hereditariedade. Uma síndrome que determina um eterno comportamento positivo. Uma síndrome que faça o ser mais sensível, mais carinhoso...mais humano. Uma síndrome que determina um formato específico para os olhos. Olhos que dão uma eterna impressão de alegria.
No meu sonho hoje, a filha que eu não tive.