segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

Relatos de felicidade



ela é uma
eles, três
ela chega e nem as rugas e a cara nem sempre simpática os assusta
ela chama, eles vêm
vêm e sentam
sentam e contemplam
no sotaque arrastado, ela ainda conta histórias que lembra da distante infância
eles assistem
assistem quietos
curiosos e quietos
carinhosos

na porta da casa da mãe, aos domingos, sempre tem uma fresta de sol vespertino e reconfortante.
a gente almoça, come bolo preto e branco...toma café na xicrinha de ágata
aí a gente senta no degrau
num momento desses, de fresta e de degrau, eu vi a cena
a tecnologia - muitas vezes injustiçada - permitiu-me o registro
registro de emoção

em breve, ela vai embora
eles ficarão
a cena, para sempre

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

E agora, Benedito?

O personagem errou o texto.
O cenário desbotou.
A música entrou na hora errada.
E agora, José?

Meu roteiro era perfeito. Previsível e amarradinho.
Mas por que, afinal, Benedito, você foi errar o caminho?

O céu devia estar azul.
Quem pintou essas nuvens aí?
Onde foram parar meu arco-íris e minhas gaivotas?

Maria que amava João que amava Ana...se casava no final.
Ana iria morar em Portugal.
Mas Maria chora sozinha...onde foi que você errou, Maria?
E José, para onde foi?

O avesso do bordado tá todo emaranhado.
Caixas fazem pilhas instáveis nos armários.
As roupas estão amarrotadas e já não se abraçam.

E agora, Benedito?