quinta-feira, 31 de dezembro de 2009











...que venha 2010!







que chegue com cheiro de agenda nova

com linhas em branco e novo calendário

que traga os cachos de Maria cheirando a Clinique Happy

as covinhas emoldurando seu sorriso único



amigos em volta da mesa da cozinha



da casa da mãe ou da madrinha



pão, queijo e vinho

Merlot ou Carmenére

pro ano ser suave



papo furado



papo chorado



criança correndo para todo lado

prato quebrado

campainha que toca



avó sentada no sofá com mantinha no colo



cada vez mais surda...pobre Raimunda



pai no cochilo



café no coador de pano

bolinho de chuva com açucar e canela



sinteko novo



patinhas do cachorro



tinta fresca



mulher falando



mulher cantando



mulher chorando



mulher para todo lado



Maria aprendendo a sonhar



Maria aprendendo a sofrer



Maria terminando seu primeiro livro



viola e canto



cantos de alegria



cantos de saudade



"Me leva...oh vento me leva pra ela..."



pai de chapéu



samba e cerveja gelada



no copo ou na lata



picanha cortada na tábua

"levanta, sacode a poeira e dá volta por cima"

Salve 2010!















quarta-feira, 30 de dezembro de 2009






Cientistas criam forma de reduzir gases do gado




da BBC Brasil



Cientistas do Rowett Research Institute, do Reino Unido, estão testando comercialmente um aditivo alimentar natural que pode diminuir a quantidade de gás metano produzido naturalmente pelo gado durante a digestão.

O metano é um dos gases do efeito estufa. De acordo com os pesquisadores, cada cabeça de gado pode liberar até 500 litros do gás por dia, a maior parte disso ao arrotar.

Os pesquisadores descobriram que esse aditivo diminui a produção de metano pelos ruminantes e começaram um processo de produção comercial por um ano com um parceiro não identificado.

"Fizemos um teste com cordeiro recentemente e obtivemos uma redução de 70% na formação de metano", disse John Wallace, chefe da equipe.




segunda-feira, 28 de dezembro de 2009






Logan Pugh acordou no meio da noite e notou que presentes ao redor da árvore de Natal da casa de um amigo, onde estava dormindo, estavam mexidos. Pensou na ação de um ladrão. E estava certo. Só que o larápio era ninguém menos que um menino de 4 anos. Sim, 4 anos! O pequeno vizinho invadiu a casa, em Hixson, Tennessee (EUA), e pegou presentes na sala. Minutos depois, a criança foi encontrada pela polícia na rua, com uma lata de cerveja vazia na mão e usando um vestido que estava embrulhado ao pé da árvore natalina.



"Os policiais encontraram o menino no fim da rua, bebendo cerveja e andando como se nada tivesse acontecido", contou Logan à NBC.



O Departamento de Serviços Infantis retirou a guarda dos pais, acusados de expor o menino a perigos. Até a conclusão do inquérito, os pais não terão acesso à criança.



TEM ALGUMA COISA MUITO ERRADA ACONTECENDO NO MUNDO!






domingo, 27 de dezembro de 2009

Depoimento de uma moradora do Jardim Pantanal (não é piada) a respeito da remoção das famílias que residem na área alagada:



"Por desespero, no entanto, alguns moradores pretendem aceitar deixar a região mesmo sem saber para onde vão. Creuza Costa Dourado, que mora há 11 anos no bairro, contou que perdeu tudo na casa alagada e que está "desesperada" para sair dali. "Eu tenho um filho esquizofrênico, minha mãe com quase 90 anos, meu padrasto tem marca passo e sofre de mal de Chagas. Coloco meu filho pra dormir sentado em duas cadeiras e durmo assim, do lado dele. Mais de oito dias nessa penitência. Não aguento mais", disse.



parece enredo de filme de humor negro, mas é Brasil!

...mas o prefeito segue dizendo que..."está tudo bem"!

sábado, 26 de dezembro de 2009








"Como se eu tivesse a tela, os pincéis e as cores - e me faltasse o grito de libertação, ou a mudez essencial que é necessária para que se digam certas coisas......Também seria inesgotável escrever sobre beber mal. Bebo depressa demais, e não há alternativas: ou praticamente adormeço dentro de mim e fico morosa, pensativa sem que um pensamento se esclareça como descoberta, ou fico excitada dizendo tolices de maior brilho instantâneo. Mas - há um instante mínimo nesse estado em que simplesmente sei como é a vida, como eu sou, como os outros são, como a arte deveria ser, como o abstracionismo por mais abstrato não é abstrato. Esse instante só não vale a pena porque esqueço tudo depois, quase na hojra. É como se o pacto com Deus fosse este: ver e esquecer, para não ser fulminado pelo saber." Clarice...

tenho um grave defeito: MANIA DE PENSAR. estou sempre analisando o que eu falei, o que deixei de falar. dizem até que eu fujo dos conflitos e pior é que eu concordo. justifico meus atrasos, justifico as vezes que cheguei mais cedo. tento descobrir o que as pessoas queriam dizer e o que não disseram. invento minhas culpas e minhas desculpas. tento adivinhar por que ligou e por que não ligou. e, se ligou, falou o que queria, será que falou tudo o que queria? será que realmente era isso que queria falar? o que queria dizer com o que falou? tento descobrir minha parcela de culpa (porque eu sei que tenho) nas atitudes dos outros. pensando na minha omissão e na minha intromissão. tenho esse grave defeito: MANIA DE PENSAR!


sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

O Grande Botão Vermelho

de Diogo Mainardi





"Neil Young é um colecionador de trens elétricos. Como seu filho era incapaz de acionar os trens, ele inventou um dispositivo: O Grande Botão Vermelho. Meu filho tem um Grande Botão Vermelho conectado a mim. Ele me liga e desliga quando quer"

Eu tenho um filho com paralisia cerebral. Neil Young tem dois. Ele fez o hino da paralisia cerebral. É T-Bone, do disco Re-ac-tor. Neil Young repete uma mesma frase sem parar, por nove minutos e dez segundos: Got mashed potatoes Ain't got no T-bone Ou: Tenho purê de batatas Não tenho bisteca



A paralisia cerebral é uma anomalia motora. Meu filho anda errado, pega errado, fala errado. Quando é para soltar um músculo, ele contrai. Quando é para contrair, ele solta. O cérebro dá uma ordem, o corpo desobedece. É o motim do corpo contra o cérebro. Como o doutor Strangelove que se estrangula, com aquela sua "síndrome da mão alienígena".



O tratamento da paralisia cerebral consiste em repetir em casa e na fisioterapia os movimentos que os outros meninos aprendem instintivamente. Sobe. Desce. Rola para um lado. Rola para o outro. Abre. Fecha. Perna direita para a frente. Perna esquerda para a frente.



Neil Young teve dois filhos com paralisia cerebral com duas mulheres diferentes. Por isso ele é o chefe da nossa tribo. O primeiro filho se chama Zeke. O segundo se chama Ben. T-Bone é de 1981. Na época, Ben tinha 3 anos de idade. Ele era tratado pelo método Doman, um programa de terapia intensiva desenvolvido na Filadélfia, nos Estados Unidos. Eram doze horas por dia de terapia caseira, sete dias por semana.



Neil Young falou sobre o período:



– Nosso filho não engatinhava, e diziam que, se ele não conseguisse engatinhar, a culpa era nossa, porque não tínhamos seguido o programa direito. Sofremos uma lavagem cerebral para pensar que o único jeito de salvar nosso filho era o programa. Durou dezoito meses. Dezoito meses sem sair de casa.



Neil Young só podia trabalhar entre 2 e 6 da tarde. Foi nesse intervalo de quatro horas diárias que ele gravou Re-ac-tor. O resto do tempo era dedicado à terapia de Ben, repetindo obcecadamente sua rotina de movimentos. Batata. Bisteca. Batata. Bisteca. Batata. Bisteca. Batata.



O método Doman era uma seita. Ao longo dos anos, acabou perdendo adeptos. O conceito lamarckiano de que o uso contínuo podia moldar as características dos portadores de paralisia cerebral foi posto de lado. Era muita batata para pouca bisteca.



Quando Neil Young percebeu isso, tudo mudou. Em vez de tentar adaptar Ben à realidade, ele passou a adaptar a realidade a Ben. Neil Young é um colecionador de trens elétricos. Como Ben era incapaz de acionar os trens, ele inventou um dispositivo para facilitar a operação. O dispositivo ficou conhecido como O Grande Botão Vermelho. Com O Grande Botão Vermelho, Ben podia finalmente abrir porteiras, engatar locomotivas, fazer o trem mudar de trilho, soltar fumaça e apitar.



Meu filho nunca se interessou por trens elétricos. Mas ele tem um Grande Botão Vermelho conectado a mim. Ele me liga e desliga quando quer. E me faz mudar de trilho, soltar fumaça e apitar."























[Revista VEJA, 3.3.2007, Ed. n° 1998]
















quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

mais uma de Diogo Mainardi





Ter um filho com paralisia cerebral é a experiência mais empolgante que existe. Eu nunca havia imaginado que isso fosse possível. Mas é. A principal característica de uma criança com paralisia cerebral é a dificuldade que ela encontra para vencer a força da gravidade. É como se fosse continuamente perseguida por um lutador de judô alucinado, que se diverte em passar-lhe rasteiras e imobilizá-la no chão. O que ela precisa aprender a fazer, desde o nascimento, é responder aos golpes desse seu adversário gravitacional. Vai pulando de faixa branca para faixa amarela, de faixa amarela para faixa verde, até atingir o seu limite máximo. Todas as habilidades motoras que adquirimos de modo automático, através do instinto, ela tenta adquirir com o raciocínio, com o exercício, com a perseverança. É a luta do intelecto contra a natureza selvagem.



A metáfora perfeita da história da humanidade. Davi contra Golias. Dr. Jeckyll contra Mr. Hyde. Uma criança com paralisia cerebral é como a maçã de Newton, que, caindo, revela os mecanismos secretos de funcionamento do mundo. Quando as pessoas descobrem que meu filho tem paralisia cerebral, costumam olhar para ele com uma mistura de simpatia e condescendência. Eu olho para ele como se olhasse para um totem, com reverência, devoção, gratidão e sentimento de inferioridade. Dizem que, por causa da ausência de gravidade, uma criança com paralisia cerebral estaria mais bem preparada que todos nós para viver na lua. Meu filho, portanto, é o homem do futuro, pronto para viagens interplanetárias.Sabe aquele episódio de Jornada nas Estrelas em que alienígenas de uma galáxia distante cismam que o capitão Kirk é a encarnação de Deus? Pois eu sou como os alienígenas, e o meu filho é o capitão Kirk.



O escritor italiano Giuseppe Pontiggia também tem um filho com paralisia cerebral. Acaba de ser publicado no Brasil o romance que ele escreveu baseado em sua experiência, Nascer Duas Vezes. Os fatos que ele descreve são comuns a todos aqueles que se vêem nessa situação: a incompetência dos médicos, o terrorismo dos fisioterapeutas, a incapacidade dos pais em aceitar os diagnósticos mais negativos, a dedicação maníaca aos exercícios de reabilitação. O que não é igual é a reação de cada um. O protagonista de Pontiggia, por exemplo, é tomado pelo sentimento



de culpa. Ele se convence de que a patologia do filho é uma punição por ter traído a mulher durante a gravidez. Sente angústia pela condição da criança. A angústia faz com que se afaste dela, cada vez mais. Um afastamento que, às vezes, chega a se transformar em ódio. Comigo aconteceu ao contrário: nenhuma culpa, nenhuma angústia, nenhum afastamento. Mas não é isso o que importa. Pontiggia, em seu romance, quer demonstrar que o fenômeno da invalidez é muito mais difuso do que se pensa. Não só a invalidez da menininha surda, ou do diretor de escola manco, ou do sogro senil, e sim a invalidez moral, a invalidez lingüística, a invalidez afetiva. Em relação a essas outras, a invalidez do filho de seu protagonista é apenas mais evidente. Com a vantagem de que ele está preparado para viagens interplanetárias.



mesmo tendo "amigos" que não são verdadeiros fãs, insisto em publicar aqui alguns textos do Diogo.

O que acho "magestral" na sua escrita (pelo menos nesses textos) é a forma como ele escreve do "real"...a forma como consegue ver a própria vida - com defeitos e tristezas - como se fosse uma outra pessoa. O talento de rir do destino!






quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Alguns meses após o nascimento da minha filha...Diogo Mainardi escreveu isto e a partir de então, nunca mais deixei de ler seus escritos!







Meu pequeno búlgaro



de Diogo Mainardi



"Eu achava que as palavras eram inofensivas. Para mim, o politicamente correto era folclore. Já não penso assim"

Diagnosticaram uma paralisia cerebral em meu filho de 7 meses. Vista de fora, uma notícia do gênero pode parecer desesperadora. De dentro, é muito diferente. Foi como se me tivessem dito que meu filho era búlgaro. Ou seja, nenhum desespero, só estupor. Se eu descobrisse que meu filho era búlgaro, minha primeira atitude seria consultar um almanaque em busca de informações sobre a Bulgária: produto interno bruto, principais rios, riquezas minerais. Depois tentaria aprender seus costumes e sua língua, a fim de poder me comunicar com ele. No caso da paralisia cerebral, fiz a mesma coisa. Passei catorze horas por dia diante do computador, fuçando o assunto na internet. Memorizei nomes. Armazenei dados. Conferi estatísticas. Pelo que entendi, a paralisia cerebral confunde os sinais que o cérebro envia aos músculos. Isso faz com que a criança tenha dificuldades para coordenar os movimentos. Meu filho tem uma leve paralisia cerebral de tipo espástico. Os músculos que deveriam alongar-se contraem-se. Algumas crianças ficam completamente paralisadas. Outras conseguem recuperar a funcionalidade. É incurável. Mas há maneiras de ajudar a criança a conquistar certa autonomia, por meio de cirurgias, remédios ou fisioterapia.

Um dia meu filho talvez reclame desta coluna, dizendo que tornei público seu problema. O fato é que a paralisia cerebral é pública. No sentido de que é impossível escondê-la. Na maioria das vezes, acarreta algum tipo de deficiência física, fazendo com que a criança seja marginalizada, estigmatizada. Eu sempre pertenci a maiorias. Pela primeira vez, faço parte de uma minoria. É uma mudança e tanto. Como membro da maioria, eu podia me vangloriar de meu suposto individualismo. Agora a brincadeira acabou. Assim que soube da paralisia cerebral de meu filho, busquei apoio da comunidade, entrando em tudo que é fórum da internet para ouvir o que outros pais em minha condição tinham a dizer sobre os efeitos colaterais do Baclofen ou sobre a eficácia de tratamentos menos ortodoxos, como a roupa de elásticos dos astronautas russos usada numa clínica polonesa.

A paralisia cerebral de meu filho também me fez compreender o peso das palavras. Eu achava que as palavras eram inofensivas, que não precisavam de explicações, de intermediações. Para mim, o politicamente correto era puro folclore americano. Já não penso assim. Paralisia cerebral é um termo que dá medo. É associado, por exemplo, ao retardamento mental. Eu não teria problemas se meu filho fosse retardado mental. Minha opinião sobre a inteligência humana é tão baixa que não vejo muita diferença entre uma pessoa e outra. Só que meu filho não é retardado. E acho que não iria gostar de ser tratado como tal.

Considero-me um escritor cômico. Nada mais cômico, para mim, do que uma esperança frustrada. Esperança frustrada no progresso social, na força do amor, nas descobertas da ciência. Sempre trabalhei com essa ótica antiiluminista. Agora cultivo a patética esperança iluminista de que nos próximos anos a ciência invente algum remédio capaz de facilitar a vida de meu filho. E, se não inventar, paciência: passei a acreditar na força do amor. Amor por um pequeno búlgaro. "
















terça-feira, 22 de dezembro de 2009



O FILHINHO DO PAPAI" / Publicado na coluna semanal de "Veja".



“Eu sempre achei que, se tivesse filhos, o ideal seria fazer exatamente como o filósofo francês Jean-Jacques Rousseau, que abandonou os seus num orfanato. Pais costumam ser uma influência nefasta para as crianças. Quanto mais distantes, melhor. Agora que estou esperando um filho, porém, já não tenho mais coragem de aplicar meus princípios pedagógicos. Esmoreci. Virei um pai presente e apreensivo. Pareço mais o tonto do Tony Blair do que Rousseau. Só penso e só falo no meu filho. Uma idéia fixa. Passo o dia com a mão na barriga da mãe, à espera de seus socos e pontapés. Quando vi pela primeira vez o filme Aprile, de Nanni Moretti, em que ele narra o nascimento de seu filho, achei de uma pieguice insuportável. Vi-o novamente na TV, no mês passado, e gostei muito. O filho tornou-me uma pessoa pior, mais molenga, mais acrítica. E ele ainda nem nasceu.



O maior motivo de preocupação em relação ao meu filho é a escola. Recentemente, o ministro da Educação da Itália divulgou uma pesquisa em que se dizia que dois terços dos italianos são analfabetos. Não aquele analfabetismo absoluto, de quem não sabe assinar o próprio nome, mas um analfabetismo funcional: sessenta e tantos por cento dos italianos são incapazes de compreender um texto simples. O número é assustador, considerando-se que, na Itália, a escola é obrigatória até os 16 anos e todo mundo a freqüenta. Nem posso imaginar o resultado de uma pesquisa semelhante no Brasil. Vejo os professores paulistas em greve por melhores salários e logo desconfio que muitos deles sejam analfabetos. Passei por um cartaz dos grevistas com um erro de concordância verbal. No dia seguinte, no Show do Milhão, apareceu uma professora que não sabia o que era o Apocalipse. Ganhou apenas 3.000 reais do programa. É o que ela mereceria receber anualmente. Aliás, se o governo passasse a calcular o salário dos professores de acordo com o que cada um deles ganhasse no Show do Milhão, provavelmente haveria uma boa economia para as finanças públicas.



O melhor, portanto, seria educar meu filho em casa, enchendo-o de livros, mas ele correria o risco de ficar meio isolado. A não ser que eu conseguisse ganhar tanto dinheiro nos próximos anos que ele simplesmente começasse a comprar suas amizades. Não tenho nada contra amizades compradas. São tão válidas quanto quaisquer outras. Basta ter cacife para sustentá-las. É nesse ponto que pretendo garantir o futuro de meu filho. Eu nunca dei bola para dinheiro. Desde que minha mulher engravidou, sonho em ficar rico. Quero encher meu filho de grana, para que ele possa viver na maior vagabundagem e gastar no que quiser. Se quiser perder tudo na roleta do Cassino de Montecarlo, por exemplo, que perca. No dia seguinte, cubro todas as suas dívidas. Se quiser fornecer divertimentos para todo o seu círculo de sanguessugas, que forneça. É ofensivo dizer uma coisa dessas num país de crianças miseráveis, mas meu filho me subjugou. Ele pode fazer o que bem entender. O importante é que volte de vez em quando para casa, para os braços do pai.”






















domingo, 20 de dezembro de 2009

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

"O papa, em sua eterna cruzada antiaborto, lançou um novo alarme contra o baixo índice de natalidade dos italianos. Eu me pergunto: quem é ele para reclamar que os outros não procriam? Um dos dogmas irrenunciáveis de sua função eclesiástica não é, justamente, a renúncia a ter filhos? O senador e cineasta Franco Zeffirelli foi ainda mais longe, sugerindo que as mulheres que recorrem a abortos sejam decapitadas em praça pública. Desnecessário dizer, claro, que Zeffirelli nunca teve nem nunca terá uma mulher ou um filho. O fato é que, no mesmo período em que o papa e Zeffirelli faziam seus pronunciamentos, fui informado de que minha mulher estava grávida. O meu impulso natural, ouvindo-os, seria correr para o hospital mais próximo. O aborto é legal na Itália, graças a um referendo de 1974. Depois de refletir por alguns dias, porém, acabamos por descartar essa opção. E, em setembro, serei pai.



Eu nunca imaginei que viesse a ter um filho. A recusa da paternidade foi uma das poucas certezas que jamais questionei em minha vida. Eu detesto crianças. Muito melhor do que uma criança é um cachorro. Infelizmente, a probabilidade de que meu filho nasça igual a um basset hound é um tanto remota. Eu também ficaria satisfeito com um filho-tartaruga: toda vez que ele se agitasse demais, bastaria revirá-lo de barriga para cima, e ele permaneceria imóvel, em silêncio, sacudindo os bracinhos.



Imagino que todo pai tenha um medo danado de não gostar do próprio filho. Não deve ser uma eventualidade tão rara assim. Ter um filho, a meu ver, equivale a enfiar um completo estranho dentro de casa. É como se eu convidasse o gerente do meu banco a morar comigo e, ainda por cima, passasse a sustentá-lo. Porque nada exclui que meu filho tenha uma cabeça idêntica a do gerente do meu banco. O que vai acontecer, por exemplo, se meu filho gostar dos filmes de Zeffirelli? O que eu posso fazer para impedi-lo? E se ele tiver o desplante de desaprovar o que eu escrevo? Se não achar graça neste artigo?



A solução perfeita, para contornar esses casos, seria mudar a legislação relativa ao aborto. Na Itália, o aborto é permitido até o terceiro mês de gravidez. Eu estenderia esse prazo até o décimo quinto aniversário da criança. Seria uma arma potentí­ssima nas mãos dos pais. Farí­amos crianças obedientes e solícitas. Aterrorizadas com a possibilidade de que pudéssemos descartá-las de um momento para o outro, elas sempre fariam de tudo para nos agradar. A idéia é muito boa. O único problema seria convencer o papa e Zeffirelli sobre os benefícios da nova lei.



Por fim, minha mulher suspeita que eu tenha concordado em ter esse filho apenas porque não tinha assunto para o artigo desta semana. Parece-me um motivo tão válido quanto qualquer outro. "



Apaixonei-me por Diogo numa manhã de domingo. Foi a primeira vez que li sua coluna da Veja e, diferentemente de outras oportunidades, em vez de me indignar com seu tiroteio sem critérios, admirei nele a coragem de escrever tudo o que eu gostaria de ter dito naquele momento...pois eu também acabara de descobrir que teria um filho.

Assim como ele, nesta altura eu também não sabia que seria  a "coisa" mais importante da minha vida!

NOS PRÓXIMOS DIAS VOU PUBLICAR UMA SEQUÊNCIA DE TEXTOS DE DIOGO MAINARDI A RESPEITO DO ASSUNTO PATERNIDADE EM ÉPOCAS E SITUAÇÕES DIFERENTES...ACOMPANHEM A EVOLUÇÃO!

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009


O QUE NÃO DEVERIA SER NORMAL...


MAS ACABOU SE TORNANDO!





andar a 20 km por hora dentro da cidade


pagar para estudar


pagar para ir ao médico


pagar para andar na estrada


pagar para não roubarem meu carro


pagar para alguém ficar com meu dinheiro


proibir meu filho de usar pulseirinhas coloridas


proibir meu filho de brincar na rua


proibir meu filho de ter amigos


comprar CD pirata


comprar DVD pirata


comprar remédios pirata


dormir 4 horas por noite


beber 1 garrafa de vinho


não pisar na calçada do meu prédio


não saber o nome do meu vizinho


viver cercado de grades de proteção


ficar 1 semana sem ver meu pai


fechar todos os vidros do carro no semáforo


ter medo de crianças


o Jardim Romano estar cheio de água até hoje


ter medo da polícia


ter medo do futuro


doença do pânico


estress


gastrite


não poder se aposentar


não poder acreditar no país


ter grades nas janelas


leptospirose


dengue


AIDS


arma nuclear


bancar o esperto sempre


furar fila


acostumar com a tragédia


corromper


motoboy


perder amigos


amizade virtual


escrever sem trema


escrever sem letra maiúscula


escrever em ponto final


trabalhar 18 horas por dia


não brincar com meu filho


não estudar com meu filho


não conversar com meu filho


não repreender meu filho


ter 40 pares de sapato


não ter dinheiro na poupança


carnê de 60 folhas


hormônio na carne de frango


açucar no café!



INSTITUTO TOM JOBIM



"O instituto disponibiliza pela internet (no site http://www.jobim.org/), para qualquer interessado, quase todo o arquivo privado do maestro.

São mais de 30.000 documentos de texto, foto, vídeos e áudio. "



"A idéia é que todo o acervo, a não ser coisas muito sensíveis, que podem afetar terceiros, esteja disponível on-line" - diz Paulo Jobim.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009


"Os leitores de jornal, alguns dias atrás, foram amedrontados pela imagem de um urso polar canibal. O que eu sei sobre o assunto é que, nos tempos de Giorgione e de William Shakespeare, talvez houvesse menos CO2, mas nós brasileiros já comíamos uns aos outros."



...do impagável Diogo Mainardi

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

não me chame para fazer trilha no mato

não me passe corrente religiosa

não me convide para show de rap

não me mande selinhos

não me dê livros da Zíbia

não me dê braceletes

não me cobre

não me ofereça Amarulla

não me ofereça Pudim de Leite

não me dê rosas de semáforo

não me dê receita de bolo

não me ensine um novo ponto

não me fotografe

não me bajule

não me cutuque

não me conte o último capítulo

não me mande mala-direta

não me peça opinião

não me dê amarelo

não me fale inglês

não me defenda pena de morte

não me venda porcaria

não me prometa nada

não me passe manteiga no pão

não me dê bala de troco

.

.

.

não me esqueça


segunda-feira, 14 de dezembro de 2009





SONHEI QUE AMAVA O TONY RAMOS!



acordei assustada e pensativa.



não que eu o ache horrível ou repugnante, não, muito pelo contrário.



mas ele não estaria no centésimo lugar na minha lista de preferências.



era um amor louco, me obrigava a todas as loucuras que normalmente a gente faz por amor...



mas com glamour de novela das 8.

ele cheiroso, charmosíssimo, de terno escuro, numa sala de embarque de aeroporto, depois num restaurante de um refúgio charmoso de praia.



incrível o que pode habitar nosso subconsciente!



algum psicólogo de plantão???







domingo, 13 de dezembro de 2009


FELIZ ANO IGUAL!








Algumas previsões para 2010:





vai começar em 1 de janeiro


com Show da Xuxa


acabar em 31 de dezembro


com Show da Xuxa


vai chover muito em janeiro


dia 5 terei 38 anos


crises políticas no Oriente Médio


palhaçadas na América do Sul


uns ficarão mais pobres


os mais ricos...ainda mais ricos


vou ter umas 12 crises de TPM


começar uns 48 regimes


(1 para cada segunda-feira)


descobrirão alguma nova estrela


uma nova doença


uma nova espécie de peixe


muitos vão morrer sem assistência da saúde pública


o governo vai dizer que está tudo bem


crianças vão ficar sem escola


o governo vai dizer que está tudo bem


o Jardim Romano vai encher de água


o governo irá dizer que está tudo bem


nossas casas e carros serão roubados


o governo irã dizer que está tudo bem


Ana Maria Braga vai casar de novo


Fábio Jr vai se separar


 e casar de novo


vamos comer, beber e respirar futebol


vamos assistir Eclipce, Harry Potter


e outras continuações


vai terminar a novela das 9


e começar outra exatamente igual


alguns políticos corruptos aparecerão no Fantástico


outros corruptos não aparecerão no Fantástico


tudo vai terminar em pizza


alguém vai ganhar a eleição presidencial


e o vice irá assumir


teremos novos brindes no Mac Lanche Feliz


vou sorrir com minha família


a mesma família que me fará chorar


a Avon lançará uma nova fórmula mágica contra o envelhecimento


a Seda vai lançar mais 4.546 tipos de shampoo


vão surgir mais 1.345.678 modelos de celular


vou tomar multas de trânsito


vou dirigir bêbada


vou me arrepender de ter falado demais


vou me arrepender de ter falado de menos


a temperatura do mundo irá subir alguns milésimos (ou centésimos?)


alguns ursos polares ficarão sem casa


moradores do Jardim Romano ficarão sem casa


teremos trânsito e enchentes em São Paulo


os moradores do Morro do Macaco


continuarão não vendo nada, não ouvindo nada


os ratos continuarão morando nas selas


da Penitenciária Feminina de Santana


e o governo dirá que está tudo bem


alguém ficará famoso por fazer algo idiota


balas perdidas serão encontradas por inocentes


mas no fim vai dar tudo certo


porque afinal nosso presidente prometeu


que vai tirar nosso povo da MERDA!








sábado, 12 de dezembro de 2009

maria é grande
grande na alma
maria sorri
mas eu sei que chora
como chora maria
chora medos
chora quieta
em segredo
frustrações e perdas
maria é linda
é querida
mesmo sendo maria
é unica
maria usou tamancos
foi à pé
pé na enchorrada
maria seria canhota
casou virgem
nunca fez planos
dá aos outros os presentes que ganha
diz "tudo bem" sempre
mesmo que não esteja
come fruta do conde
se queimou com água fervendo
maria só teme as baratas
sobretudo as voadoras
vive para suas mulheres
sobretudo por uma delas!

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

não deu tempo de fazer rascunho
2009 saiu rabiscado, borrado
feio e errado
sem sequência ou lógica
página amassada, esticada
sofrida e rasurada
surrada
lida e relida
sem lógica
2009 deixa sua página
no livro da vida!

sábado, 5 de dezembro de 2009

"E o que ele via não era bonito, nem bom, nem ruim, nem feio, era o que fatalmente a vida fizeram dele e sobretudo o que fatalmente ele fizera da vida. E aí vem o problema: até que ponto fora fatal o que ele fizera na vida e esta dele? Até que ponto houvera escolha? Estou me confundindo toda com esta história que jamais escreverei." Clarice...

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009



"...Porque eu fazia do amor um cálculo matemático errado: pensava que, somando as compreensões, eu amava. Não sabia que, somando as incompreensões, é que se ama verdadeiramente." Clarice...

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009





"Não entendo. Isso é tão vasto que ultrapassa qualquer entender. Entender é sempre limitado. Mas não entender pode não ter fronteiras. Sinto que sou muito mais completa quando não entendo. Não entender, do modo como falo, é um dom Não entender, mas não como um simples de espírito. O bom é ser inteligente e não entender. É uma bênção estranha, como ter a loucura sem ser doida. É um desinteresse manso, é uma doçura de burrice. Só que de vez em quando vem a inquietação: quero entender um pouco. Não demais: mas pelo menos entender que não entendo." Clarice...

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

" Quando o amor é grande demais torna-se inútil: já não é mais aplicável, e nem a pessoa amada tem a capacidade de receber tanto. Fico perplexa como uma criança ao notar que mesmo no amor tem-se que ter bom senso e senso de medida. Ah, a vida dos sentimentos é extremamente burguesa." Clarice...