quinta-feira, 28 de agosto de 2008

ooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooo

o colar de lanternas vermelhas ao longo da marginal anuncia um longo e lento caminho de retorno.
às 18:26 o céu ainda não é azul marinho e a primeira estrela no céu me obriga uma lembrança tão antiga que nem sei de quando...
"primeira estrela que eu vejo me conceda um desejo..."
deixo atrás de mim planilhas e emails iniciados e não terminados...como tantas outras coisas. uma pilha de contas por pagar, nem um tostão no bolso...ligações recebidas e não atendidas, oportunidades perdidas...até a polícia ultimamente resolveu andar atrás de mim. uma noite não dormida pesa nos olhos e nas juntas.

o colar de lanternas vermelhas nesta quase noite parece poesia e me obriga a aceitar que a "alegria" é um impulso interno que, simplesmente, ignora o ambiente.
desfaz-se a ruga na testa...o peito fica leve de novo e a boca permite-se o sorriso...
a vida, chamada real, se enche de boas imagens...
...o cacho descuidado de Maria no rosto...o amor sereno que desperta ao lado...cheiro de pão torrado acordando a casa... a mensagem do colega para a "querida amiga"...o vinho com os companheiros na hora do almoço...a paz!
essa paz que vem de dentro de mim...essa paz!

neste momento é possível a conclusão sábia e simples:
"a felicidade nada mais é do que um punhado de momentos de alegria..."

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

vira e mexe lá vem Maria:
- Na sua época tinha mochila de rodinha?
- Não não tinha.
- Tinha "Naruto"?
- Não, não tinha.
- "Pica Pau" e "Tom e Jerry" tinha né?
- Tinha...e já era chato!
- Tinha "Cartoon Networks"?
- Não, não tinha. Nem internet e nem TV à cabo.
- Não tinha?
- O "Homem Aranha" é da sua época?
- Sim é...mas em quadrinhos?
- O que é quadrinhos?
- Revistinha, Gibi!
- Ah, Gibi! Na sua época tinha tênis de rodinha?
- Não, não tinha.
- Tinha celular?
- Não, não tinha.
- Televisão tinha?
- Sem controle remoto.
- Orkut tinha? Msn?
- Não tinha internet...a gente escrevia cartas.
- Tinha Barbie?
- Só Susi. Eu tive uma.
- Só uma?
- Tinha avião?
- Já tinha.
- Carro tinha?
- Poucas marcas...Fusca tinha.
- Tinha lição de casa?
- Ah, isso tinha!
- Pelo menos alguma coisa tinha né?

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

"A verdade é que não se sobrava tempo para estudar. As alegrias me ocupavam, ficar atenta me tomava dias e dias; havia os livros de histórias que eu lia roendo de paixão as unhas até o sabugo, nos meus primeiros êxtases de tristeza, refinamento que eu já desbrira; havia meninos que eu escolhera e que não me haviam escolhido, eu perdia horas de sofrimento porque eles eram inatingíveis, e mais outras horas de sofrimentos aceitando-os com ternura, pois o homem era o meu rei da Criação; havia a esperançosa ameaça do pecado, eu me ocupava com medo em esperar; sem falar que estava permanentemente ocupada em querer e não querer ser o que eu era, não me decidia por qual de mim, toda eu é que não podia; ter nascido era cheio de erros a corrigir." (Os desastres de Sofia - Felicidade Clandestina - Clarice Lispector)

terça-feira, 19 de agosto de 2008

hoje é um dias daqueles, que acontecem de vez em quando (cada vez com mais freqüência), dia em que as pessoas parecem mais burras e óbvias do que em outros dias. tenho a forte impressão de que falam mais e mais...cada vez mais...cada vez mais alto...tendo cada vez menos o que dizer...mas falam, falam, falam...talvez por desespero...para convencerem a si próprias que têm algo a falar...mas não ouvem a si mesmas...não escutam quanta merda são capazes de dizer...e repetir, repetir, repetir..."enfim". repetindo paradigmas...daria muito trabalho mudar de idéia a essa altura do campeonato.
o maxilar apertado me faz doer os dentes de traz...a nuca fica dura e dolorida...e o corpo parece até desanimar...dia após dia...quanta bobagem, quanta perda de tempo. pessoas que correm para lá e para cá...fingindo-se de muito ocupadas...para na verdade, disfarçar a falta de rumo...de foco, de objetivo.
e elas continuam falando, falando, falando..."enfim"...e enquanto elas falam e falam e falam...a vida passa por elas cheia de novas idéias, novas perspectivas...mas elas estão sempre tão ocupadas...sempre falando tanto....

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

"Isso tudo não chegava a formar uma situação para o casal. Quer dizer, algo que cada um pudesse contar mesmo a si próprio na hora em que cada um pudesse contar mesmo a si próprio na hora em que cada um se virava na cama para um lado e, por um segundo antes de dormir, ficava de olhos abertor. E pessoas precisam tanto poder contar a história delas mesmas. Eles não tinham o que contar. Com um suspiro de conforto, fechavam os olhos e dormiam agitados. E quando faziam o balanço de suas vidas, nem ao menos podiam nele incluir essa tentativa de viver mais intensamente, e descontá-la, como em impostos de renda. ............
Talvez apenas devido à passagem insistente do tempo tudo isso começava, porém, a se tornar diário, diário, diário. Às vezes arfante. (Tanto o homem como a mulher já tinham iniciado a idade cr[itica.) Eles abriam as janelas e diziam que fazia muito calor. Sem que vivessem propriamente no tédio, era como se nunca lhes mandassem notícias. O tédio, aliás, fazia parte de uma vida de sentimentos honestos...........................
Mas enfim, como isso tudo não lhes era compreensível, e achava-se muitos e muitos pontos acima deles, e se fosse expresso em palavras eles não o reconheceriam - tudo isso, reunido e considerado já como passado, assemelhava-se à vida irremediável. À qual eles se submetiam com um silêncio de multidão e com o ar um puco magoado que têm os homens de boa vontade. Assemelha-se à vida irremediável para a qual Deus nos quis." (Os obedientes - Felicidade Clandestina - Clarice Lispector)

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

"Os ovos establam na frigideira, e mergulhada no sonho preparo o café da manhã. Sem nenhum senso de realidade, grito pelas crianças que brotam de várias camas, arrastam cadeiras e comem, e o trabalho do dia amanhecido começa, gritado e rido e comido, clara e gema, alegria entre brigas,
dia que é o nosso sal e nós somos o sal do dia,
viver é extremamente tolerável,
viver ocupa e distrai, viver faz rir. "
(O ovo e a galinha - Felicidade Clandestina - Clarice Lispector)

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

"A existência é um trajeto
temporal;
no caminho,
os anos vão nos fazendo e
também desfazendo.
Talvez seja essa uma das
perguntas fundamentais da vida:
O que eu serei amanhã, o que
terei feito de mim? "
(Histórias de Mulheres - Rosa Montero)

terça-feira, 5 de agosto de 2008

...recomendações médicas a mulheres atormentadas no final do século XIV...
.....
"Por exemplo, quando, em janeiro de 1852, Charlotte Brontë sofreu uma de suas grandes depressões, o médico a proibiu de escrever: achava-se que o trabalho intelectual era anormal nas mulheres e que, portanto, provocava-lhes crises de nervos. "

"Leve a vida mais caseira possível. Mantenha sua filha com a senhora o tempo todo.
Deite-se durante uma hora após cada refeição.
Não tenha mais do que duas horas de vida intelectual por dia.
E não volte nunca a tocar uma pena, um pincel ou um lápis pelo que lhe restar de vida."
....
(Histórias de Mulheres - Rosa Montero)

segunda-feira, 4 de agosto de 2008




"A preguiça nesse sentido não é o ócio, mas seu momento negativo, pejorativo. Assim como o negócio é a negação do ócio, mas num sentido positivo, a preguiça é a negação do ócio num sentido pejorativo. Por isso é possível dizer que a preguiça é autoritária, porque ela é fechada, não deixa espaço para as novidades da vida, para outros olhares, para a aceitação de novas potências. Se há segredo em conviver com a preguiça nossa de todo dia, ele está na possibilidade de saber sua diferença com o descanso necessário ou a afalta de desejo pela vida e suas possibilidades. É muito bom não fazer nada quando isso é uma escolha, mas não é nada bom ser escravo da própria impotência." (Revista Vida Simples - Maio 2008 - Me dá preguiça - Márcia Tiburi)

domingo, 3 de agosto de 2008

"De onde o escritor tira o que escreve?
Seus romances nascem do que ele sabe ou do que ele teme?
Do que viveu ou do que sonhou?"
(Histórias de Mulheres de Rosa Montero)

sábado, 2 de agosto de 2008



no livro "Histórias de Mulheres" de Rosa Montero...sobre Simone de Beauvoir...


" Seja como for, agora sua imagem é mais complexa e mais humana: porque todos temos vergonhas e incoerências a ocultar em nossa vida privada. Por fim, entre tanta glória e tanta miséria, o que fica é a magnífica proeza de ter sido livre e responsável por seu próprio destino. Para o bem e para o mal, Beauvoir se fez a si mesma."