Mas a saudade não é exatamente um desejo de voltar. A nostalgia não é a contrapartida de uma sensação de que a vida era melhor antes. A saudade, portanto, não é a tentativa de instaurar o passado em detrimento do presente. A nostalgia é, antes, um jeito de tentar se agarrar em alguma coisa que suavise a queda livre.
Saudade não é só a falta dos outros. É a falta da gente mesmo, do que fomos, dos grandes momentos por que passamos. É o vazio deixado por um tempo que não existe mais, quando várias portas que se fecharam com o passar dos anos ainda estavam abertas.
Minha saudade também tem um pouco de covardia. Porque o amor ao passado é o amor a um tempo dominado, conhecido. Enquanto o presente implica riscos, desafios e exige esforço, e o fruturo é um espaço disforme com tudo por construir, o passado é um refúgio sereno e controlado. Mesmo as lembranças que não são tão boas ganham, com o tempo, um belo incremente de sabor e harmonia.
Saudade é tentar trancafiar perto da gente aquilo que amamor, é tentar interromper os fluxos para eternizar numa fotografia aquilo que nos faz falta. Saudade é essa vontade de estar junto, de ficar junto, de ficar mais, de parar o tempo para que a gente não precise se separar nunca.
O apego ao passado é também o desejo de continuar vivo, de entender a vida, de não deixá-la correr tão impunemente para o fim. é um jeito de dizer: pára, dá meia volta, eu quero descer, ficar um pouco mais, voltar atrás, viver de novo."
Não fui eu quem escreveu...foi Adriano Silva....