terça-feira, 17 de julho de 2007

Alianças

A primeira em 89, prateada e muito fina, mostrava mais aos outros do que a nós mesmos, o nascimento de um compromisso.
Quebrou-se de tão fina. Em seguida veio outra, um pouco mais forte.
A segunda em 95, agora em ouro amarelo, num compromisso festejado com poucos familiares tornava oficial o compromisso, agora de dois jovens mais conscientes.
Em 2003 as duas amarelas unidas por uma branca simbolizava a separação do casal e a união da família.
Esta desapareceu misteriosamente.
A terceira em 2005, em ouro branco, foi pouco usada, simbolizada um laço que ainda se via frouxo...perdeu-se no hemisfério norte...a outra ficou guardada no porta jóias.
Nada significaram num amor que lutava para renascer.
A quarta em 2007, elo mais forte, mais consciente, em ouro branco e amarelo, com um pequeno diamante, simboliza só para nós mesmos o reencontro...neste momento tão particular.
Que esta dure.
Que o tempo não derreta.
Que não desapareça, que não se quebre.

terça-feira, 10 de julho de 2007

Paraty...


A água do mar lava algumas ruas de Paraty ! Idéia de um dos urbanistas portugueses (sério) que ajudou na elaboração do projeto da cidade. A água tem permissão de entrar e levar embora toda a sujeira. As casas de Paraty têm mais portas que janelas...antes eram lojas, armazéns, ferrarias...hoje dá uma gostosa sensação de hospitalidade. Amyr Klink sempre começa ou termina suas viagens em Paraty. Dona Geralda, filha de um portugues beneficiado com o sistema de sesmarias, financiou a construção da igreja da Matriz (a terceira construída, depois de duas anteriores que ficaram pequenas para a população local e foram destruídas). Em troca, teria feito duas exigências: que fosse feita uma homenagem a Nossa Senhora dos Remédios e que os índios - Guaianás - que ajudariam (não voluntariamente) na construção da igreja fossem tratados com carinho. A Santa está lá, já os índios...não encontramos nenhum que pudesse confirmar se a segunda exigência foi atendida. Deixaram que os escravos construíssem também uma igreja para uso próprio (além das que construíam para os brancos) A Igreja Nossa Senhora das Dores. Acabaram caprichando mais na sua própria e hoje é considerada a mais bonita...no teto tem um abacaxi disfarçado...era símbolo da família real: "a fruta coroada" eles não podiam usá-lo também. Algumas fachadas são ornamentadas de pedras amarelas trazidas de Portugal como lastro. Os návios eram construídos para navegarem cheios...na vinda, para manter a estabilidade, enchiam seus porões de pedras...chegando aqui tinham que enfiá-las em algum lugar. O triângulo da Maçonaria está presente nas cantoneiras de pedras nas encruzilhadas.
Em Paraty sorri mais do que chorei, mas chorei. Tomei vinho bom. Usei meu xale preto e minhas botas toc toc toc. Deixei que a água entrasse e lavasse a sujeira. Entendi que para o que não há remédio...remdiado está.

"Pastinha Clarice"

Na prateleira da papelaria escolhi uma pastinha branca com elástico nas pontas. Nesta pastinha vou colar uma etiqueta com seu nome "Clarice" e nela vou guardar, sempre à mão, recortes do primeiro livro seu que li: Aprendendo a Viver.
Nunca se sabe quando a vida vai exigir da gente um pouco de sabedoria...nunca se sabe, na falta de sabedoria própria, vou guardar a sua...na minha pastinha branca, com elástico nas duas pontas, bem segura, que é para não correr o risco de perder sabedoria poir aí.
Segue nos próximos posts, para quem quiser espiar dentro da minha pastinha, os meus recortes...mas cuidado hein...não vai espalhar minha sabedoria emprestada por aí!

ANONIMATO - Clarice Lispector

" Tantos querem a projeção. Sem saber como esta limita a vida. Minha pequena projeção fere o meu pudor. Inclusive o que eu queria dizer já não posso mais. O anonimato é suave como um sonho. Eu estou precisando desse sonho."

ESCREVER - Clarice Lispector

"Não se faz uma frase. A frase nasce."

"Eu disse uma vez que escrever é uma maldição. Não me lembro por que exatamente eu o disse, e com sinceridade. Hoje repito: é uma maldição, mas uma maldição que salva. Não estou me referindo muito a escrever para jornal. Mas escrever aquilo que eventualmente pode se transformar num conto ou num romance. É uma maldição porque obriga e arrasta como um vício penoso do qual é quase impossível se livrar, pois nada o substitui. E é uma salvação."

"Uma coisa que já adivinhava: era preciso tentar escrever sempre, não esperar por um momento melhor porque este simplesmente não vinha. Escrever sempre me foi difícil, embora tivesse partido do que se chama vocação. Vocação é diferente de talento. Pode-se ter vocação e não ter talento, isto é, pode-se ser chamado e não saber como ir."

MÁQUINA ESCREVENDO - Clarice Lispector

" A coisa era branca, muito branca. E, sem cabeça, arfava. Como um pulmão. Assim: para baixo, para cima, para baixo, para cima. A pessoa fechou depressa a geladeira. E li perto ficou, de coração batendo."

AO CORRER DA MÁQUINA I - Clarice Lispector

" O horrível dever é ir até o fim. E sem contar com ninguém. Viver a própria realidade. Descobrir a verdade. E, para sofrer menos, embotar-me um pouco. ...... Há coisas que jamais direi: nem em livros e muito menos em jornal. E não direi a ninguém no mundo. Um homem me disse que no Talmude falam de coisas que a gente não pode contar a muitos, há outras a poucos, e outras a ninguém. Acrescento: não quero contar nem a mim mesma certas coisas. Sinto que sei de umas verdades. Mas não sei se as entenderia mentalmente....... É tão difícil falar, é tão difícil dizer coisas que não podem ser ditas, é tão silencioso. .... Depois eu percebi que para essas pessoas esses momentos de nada valiam, elas estavam ocupadas com outras. Eu estivera só, toda só. é uma dor sem palavra, de tão funda."

BICHOS I - Clarice Lispector

" Ter uma CORUJA nunca me ocorreria. Mas uma amiguinha minha achou por terra na mata de Santa Tereza um filhote de coruja, todo sozinho, à míngua de mãe. Levou-o para casa, aconchegou-o, alimentou-o, dava-lhe murmúrios, terminou descobrindo que ele gostava de carne crua. Quando ficou forte era de se esperar que fugisse imediatamente mas demorou a ir em busca do próprio destino, e de reunir-se aos de sua raça: é que se afeiçoara essa estranha ava à minha amiguinha. Relutou muito, via-se: afastava-se um pouco e logo voltava. Até que num arranco, como se estivesse em luta consigo mesmo, libertou-se voando para as profundezas do mundo."

UM EXPERIÊNCIA - Clarice Lispector

"Talvez seja uma das experiências humanas e animais mais importantes. A de pedir socorro e, por pura bondade e compreensão de outro, o socorro ser dado. Talvez valha a pena ter nascido para que um dia mudamente se implore e mudamente se receba. Eu já pedi socorro. E não me foi negado. Senti-me então como se seu fosse um tigre perigoso com uma flecha cravada na carne, e que estivesse rondando devagar as pessoas medrosas para descobrir quem lhe tiraria a dor. E então uma pessoa tivesse sentido que um tigre ferido é apenas tão perigoso como uma criança. E aproximando-se da fera, sem medo de tocá-la, tivesse arrancado com cuidado a flecha fincada. E o tigre? Não, certas coisas nem pessoas nem animais podem agredever. Então eu, o tigre, dei umas voltas vagarosas em frente à pessoa, hesitei, lambi uma das partes de depois, como não é a palavra o que tem importância, afastei-me silenciosamente."

UM REINO CHEIO DE MISTÉRIOS - Clarice

"... O reino vegetal não tem inteligência e só tem um instinto, o de viver. Talvez essa falta de inteligência e de instintos seja o que nos deixar ficar tanto tempo sentada dentro do reino vegetal."

CONVERSA DESCONTRAÍDA: 1972 - Clarice L.

"... Nestes momentos de 'agora mesmo' estou vivendo tão leve que mal pouso na página, e ninguém me pega porque dou um jeito de escorregar. Tive de aprender."

ESTADO DE GRAÇA - Clarice Lispector

" Também é bom que não venha tantas vezes quanto eu queria. Porque eu poderia me habituar à felicidade - esqueci de dizer que em estado de graça se é muito feliz. Habituar-se à felicidade seria um perigo. ficaríamos mais egoístas, porque as pessoas felizes o são, menos sensíveis à dor humana, não sentiríamos a necessidade de procurar ajudar os que precisam - tudo por termos na graça a compensação e o resumo da vida."

LIÇÃO DE FILHO - Clarice Lispector

"...De surpresa de descobrir uma alma insuspeita, fiquei com os olhos cheios de água, na verdade eu chorava. Percebi que meu filho, quase uma criança, notara, expliquei: estou emocionada, vou tomar um calmante. E ele: - Você não sabe diferenciar emoção de nervosismo? você está tendo uma emoção. Entendi, aceitei, e disse-lhe: - Não vou tomar nenhum calmante. E vivi o que era para ser vivido."

SENSIBILIDADE INTELIGENTE - Clarice Lispector

"E, apesar de admirar a inteligência pura, acho mais importante, para viver e entender os outros, essa sensibilidade inteligente. Inteligentes são quase que a maioria das pessoas que conheço. E sensíveis também, capazes de sentir e de se comover. O que, suponho, eu uso quando escrevo, e nas minhas relações com amigos. é esse tipo de sensibilidade. Uso-a mesmo em ligeiros contatos com pessoas, cuja atmosfera tantas vezes capto imediatamente."

Medo da Eternidade - Clarice Lispector

"Jamais esquecerei o meu aflitivo e dramático contato com a eternidade. Quando eu era muito pequena ainda não tinha provado chicles e mesmo em Recife falava-se pouco deles. Eu nem sabia bem que espécie de bala ou de bombom se tratava. Mesmo o dinheiro que eu tinha não dava para comprar: com o mesmo dinheiro eu lucraria não sei quantas balas. Afinal minha irmã juntou dinheiro, comprou e ao sairmos de casa para a escola me explicou: - Tome cuidado para não perder, porque essa bala nunca se acaba. Dura a vida inteira. - Como não acaba? - Parei um instante na rua, perplexa. - Não acaba nunca, e pronto. Eu estava boba: parecia-me ter sido transportada para o reino de história de príncipes e fadas. Peguei a pequena pastilha cor-de-rosa que representava o elixir do longo prazer, Examinei-a, quase não podia acreditar no milagre. Eu que, como outras crianças, às vezes tirava da boca a bala ainda interira, para chupar depois, só para fazê-la durar mais. E eis-me com aquela coisa cor-de-rosa, de aparência tão inocenter, tornando-se possível o mundo impossível que eu já começara a me dar conta. Com delicadeza, terminei afinal pondo o chicle na boa. - E agora que é que eu faço? - perguntei para não errar no ritual que certamente deveria haver. - Agora chupe o chicle para ir gostando do docinho dele, e só depois que passar o gosto que você começa a mastigar. E aí mastiga a vida inteira. A menos que você perca, eu já perdi vários. Perder a eternidade? Nunca. O adocicado do chicle era bonzinho, não podia dizer que era ótimo. E, ainda perplexa, encaminhávamo-nos para a escola. - Acabou o docinho. E agora? - Agora mastigue para sempre. Assustei-me, não saberia dizer por quê. Comecei a mastigar e em breve tinha na boca aquele puxa-puxa cinzento de borracha que não tinha gosto de nada. Mastigava, mastigava. Mas me sentia contrafeita. Na verdade eu não estava gostando do gosto. E a vantagem de ser bala eterna me enchia de uma espécie de medo, como se tem diante da idéia de eternidade ou de infinito. Eu não quis confessar que não estava à altura da eternidade. Que só me dava era aflição. Enquanto isso, eu mastigava obedientemente, sem parar. Até que não suportei mais, e, atravessando o portão da escola, dei um jeito de o chcile mastigado cair no chão de areia. - Olha só o que me aconteceu! - dizze eu em fingidos espanto e tristeza. - Agora não posso mastigar mais! A bala acabou! - Já lhe disse - repetiu minha irmã - que ela não acaba nunca. Mas a gente às vezes perde. Até de noite a gente por ir mastigando, mas para não engolir no sono a gente prega o chicle na cama. Não fique triste, um dia lhe dou outro, e esse você não perderá. Eu estava envergonhada diante da bondade de minha irmã, envorganhada da mentira que pregava dizendo que o chivle caíra da boca por acaso. Mas aliviada. Sem o peso da eternidade sobre mim."